Heloisa Moura
A recepção estava montada no jardim da casa dos meus pais — o mesmo onde, quando criança, eu brincava de casinha neste jardim, muitas vezes o Vittorio me pegava no colo e brincava durante horas. Ver tudo transformado com flores brancas, luzes douradas penduradas entre os galhos e mesas cheias de gente querida me fez querer chorar outra vez. Mas dessa vez, de gratidão.
Vittorio apertou minha mão quando descemos do carro. O toque dele era firme, quente, seguro. Me olhou como se quisesse decorar aquele momento para sempre, e eu soube que estávamos pensando o mesmo: conseguimos. Na mente dele passava o mesmo, podia ver sob seu olhar.
As pessoas se viraram quando nos viram chegando. Palmas, sorrisos, olhos emocionados. Eu sorri também, meio sem acreditar. A música suave tocava ao fundo, e por um segundo, achei que o mundo tinha ficado mais bonito só porque nós tínhamos dito “sim”.
— Estão prontos para a bagunça? — Marina gritou, rindo com uma taça de espumante na mão. Ela se tornou uma grande amiga assim como a Isabella.
— Só se for bagunça com bolo — eu brinquei, rindo com elas.
Fomos recebidos com abraços apertados e palavras doces. Minha mãe chorava em silêncio, encostada no meu pai, que, mesmo com o rosto duro, tinha os olhos marejados. Foi o mais próximo de um “estou orgulhoso” que ele conseguiu. E eu aceitei. Porque hoje, tudo o que me importava era estar com Vittorio.
A primeira dança foi sob as luzes penduradas no jardim. Ele me puxou com delicadeza, como se ainda estivesse com medo de me quebrar. Mas eu já estava inteira. Inteira e dele.
— Ainda parece um sonho, enfim conseguimos. — ele murmurou perto do meu ouvido.
— Então não acorda, pois não quero acordar... — sussurrei de volta, encostando a testa na dele.
A música girava junto com a gente, e mesmo que nossos pés tropeçassem um pouco — porque dançar nunca foi nosso forte —, tudo parecia certo. Natural. Nosso.
Depois da dança, vieram os brindes. Meu pai, que quase não fala em público, ergueu a taça e disse com a voz firme:
— Nunca vi minha filha tão feliz. E se isso não for amor de verdade, não sei o que é. No princípio, fui contra, não imaginava meu amigo de infância, com a minha menininha. Para mim era imoral, ele tinha pegado ela no colo quando ela nasceu. Mas a vida nos pega peças, e o Vittorio me provou que ele mais que ninguém podia fazer a Heloisa feliz,
Engoli o nó na garganta. Vittorio me olhou e sorriu de lado, aquele sorriso pequeno, quase tímido, que eu sempre amei.
— Vamos fugir daqui um pouco? — ele perguntou, baixinho.
Assenti.
Saímos de mansinho, atravessando o jardim até a antiga casa da árvore. Era pequena, velha, mas ainda estava ali, firme no alto do carvalho. Subimos juntos, rindo baixinho como duas crianças. Lá de cima, a festa parecia um sonho distante.
— Aqui em cima eu fazia promessas para o céu — confessei, me sentando ao lado dele. — De que um dia você ia me amar do jeito certo. Sem precisar mudar quem eu era.
Vittorio me olhou com os olhos cheios de história e disse, simples:
— Ainda bem que o céu ouviu. Pois, eu fui idiota o bastante para fugir.
E então me beijou. Devagar, como quem entende o valor de cada segundo.
Abaixo de nós, as luzes brilhavam. As vozes continuavam, as músicas também. Mas ali, naquela casinha velha, só existia ele e eu. Não como noivos, nem como um casal recém-casado, mas como duas metades que enfim se encontraram.
O resto da festa poderia esperar.
Porque, naquele instante, nós éramos o nosso próprio mundo.
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