Isabela
Na manhã seguinte, o céu ainda estava cinzento, como se guardasse os segredos da noite anterior. Caminhei pelos corredores da casa grande com o coração apertado. Cada passo ecoava como um lembrete do lugar ao qual eu pertencia, e do qual nunca fui realmente parte.
Na cozinha, minha mãe me lançou um olhar preocupado. Ela sempre soube mais do que dizia. Tinha olhos treinados para perceber o que ninguém mais via.
— Isabella… — começou, baixinho, enquanto cortava frutas para o café da manhã dos patrões — você precisa tomar cuidado. As paredes aqui têm ouvidos. E os olhos, quando querem encontrar, sempre encontram.
Fingi não entender. Mas eu entendia. Entendia cada palavra, cada entrelinha. Só não sabia como parar o que sentia.
Naquele mesmo dia, o senhor Luiz, pai de Matheu, voltou da cidade mais cedo que o esperado. E com ele, uma rigidez no ar. Seu rosto carregava tensão e sua voz, ao chamar o filho para uma conversa no escritório, era mais fria do que de costume.
Eu estava passando pelo corredor quando ouvi o primeiro tom mais alto.
— Você pensa que pode fazer o que quiser só porque nasceu nesta casa? — rugiu o senhor Luiz. — Não se iluda, Matheu. Você tem um nome a zelar. Um futuro promissor. E ela… ela é só uma distração passageira!
Senti meu rosto arder, como se tivesse levado um tapa. Segurei o choro e corri para o jardim, como fazia quando era criança, tentando fugir de uma dor que sempre me alcançava.
Mais tarde, Matheu me encontrou ali, sentada debaixo da amoreira, com as mãos sujas de terra e as bochechas marcadas por lágrimas.
— Ele sabe — foi tudo o que consegui dizer.
— Eu sei. E não me importo. — Ele se ajoelhou diante de mim. — Você acha que vou deixar que ele decida quem eu devo amar? Isa, eu nunca fui tão certo de algo quanto sou de nós dois.
— Mas e se ele te afastar de mim? E se te mandar para longe, Matheu?
Ele respirou fundo, o maxilar tenso.
— Então eu volto. Ou você vem comigo.
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas ouvindo os ventos do fim da tarde sussurrando entre as folhas.
— E se tudo der errado? — perguntei, com a voz falha.
Ele segurou meu rosto com as mãos, com tanto cuidado que parecia medo de me quebrar.
— Então a gente recomeça. Em outro lugar, com outro nome, mas com o mesmo amor. Porque enquanto eu tiver você, Isa, nada pode realmente dar errado.
E ali, entre as sombras do entardecer, eu soube que nossa história não seria fácil. Mas seria nossa.
Mesmo que o mundo inteiro estivesse contra.
Mesmo que tivéssemos que lutar com tudo e todos. Porque alguns amores nascem para desafiar as regras. E o nosso… era um deles.
Matheu me abraçou ali mesmo, com uma força silenciosa, como se pudesse me proteger do que viria, como se aquele momento bastasse para calar todas as vozes contrárias. Mas, no fundo, eu sabia — e ele também — que nada estava realmente resolvido.
Voltamos para dentro pouco antes do jantar. A casa, como sempre, estava impecável, como se cada canto tivesse sido polido para esconder o que se passava entre as paredes. Os olhos da minha mãe me encontraram assim que entrei. Ela não disse nada, mas não precisou. O jeito como seus dedos apertavam o pano de prato já dizia tudo.
Durante a refeição, o silêncio foi o prato principal. O senhor Luiz mastigava como se triturasse não só a comida, mas também a própria vontade de explodir. A senhora Helena, como de costume, fingia não perceber a tensão, falando sobre coisas triviais — o tempo, a jardinagem, o concerto beneficente que aconteceria no clube no fim de semana. Matheu estava ao meu lado, mas não me olhou uma vez sequer. Era como se um véu tivesse descido entre nós.
Depois que todos se recolheram, fiquei parada no quarto de hóspedes onde dormia desde pequena. O papel de parede com desenhos florais parecia zombar da minha inquietação. Sentei-me na cama, abracei os joelhos e deixei o silêncio crescer ao meu redor. O que viria agora?
Não demorou para que ouvisse passos na varanda. Conhecia aquele ritmo — cuidadoso, mas determinado. Levantei e fui até a janela. Era Matheu. Ele olhou para cima e, quando nossos olhos se encontraram, fez um gesto com a cabeça. Saí com o coração aos saltos, pisando leve para não acordar ninguém.
Nos encontramos nos fundos da casa, perto do antigo galinheiro, onde ninguém costumava ir à noite.
— Amanhã — ele disse, sem preâmbulos — vou para Veneza com meu pai. Ele acha que vai me afastar de você, Isa. Mas eu não vou permitir.
Meu corpo ficou gelado. Amanhã?
— E o que a gente faz?
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