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Proibida para Mim: Apaixonado pela filha do meu amigo romance Capítulo 99

Isabela

As ruas de Veneza tinham aquele cheiro antigo de história e maresia, como se cada parede tivesse assistido a mil despedidas e reencontros. Eu caminhava ao lado de Matheu por vielas estreitas, ouvindo o som abafado da cidade sob nossos passos. Ele segurava minha mão com força, como se ainda não acreditasse que eu estava ali de verdade.

— É logo ali — disse, apontando para uma porta discreta entre duas casas de pedra.

Subimos por uma escada íngreme e antiga, o corrimão de ferro frio sob meus dedos. O apartamento era no último andar de um prédio baixo, com janelas que se abriam para os telhados vermelhos e as águas silenciosas dos canais.

— É simples — ele disse, girando a chave — mas é nosso, por enquanto.

A porta rangeu ao se abrir, revelando um lugar pequeno, mas acolhedor. As paredes tinham aquele branco gasto pelo tempo. Uma poltrona azul ficava de frente para a janela, e havia livros empilhados no chão, como se ele ainda estivesse tentando dar forma a um lar. Um quadro torto na parede mostrava uma cena da Piazza San Marco, meio desbotada. Era imperfeito. Mas era real.

Larguei a mochila no canto e caminhei até a janela. A cidade parecia um quadro vivo. A luz dourada do fim da tarde refletia na água, e por um momento, tudo pareceu suspenso.

Matheu se aproximou por trás e me envolveu com os braços. Seu rosto encostado ao meu cabelo.

— Eu sonhei com esse momento tantas vezes. Mas sonhar… nunca chega perto de sentir.

Fechei os olhos e respirei fundo, tentando absorver cada detalhe — o cheiro dele, o som do vento nas persianas, o calor das mãos dele sobre a minha pele.

— Achei que não conseguiria chegar até você — sussurrei. — Tive medo. De tudo.

Ele me virou de frente, com delicadeza, e me olhou como se quisesse gravar meu rosto na memória.

— Isa, a gente chegou. Não importa como. O que importa é que agora somos nós dois, sem ninguém pra dizer onde termina o certo e começa o proibido.

Ele me beijou ali mesmo, com a pressa de quem esperou demais e a delicadeza de quem sabe que algo frágil precisa ser cuidado. E naquele apartamento modesto, entre livros empilhados e paredes antigas, fizemos do mundo um lugar possível.

Naquela noite, não dormimos. Ficamos deitados lado a lado no colchão no chão, ouvindo a cidade respirar do outro lado da janela. Ele me contou sobre os dias em que acordava com o peito vazio, sobre as cartas que escreveu e nunca mandou, e sobre os planos — ainda confusos — para um futuro incerto, mas nosso.

— Trabalhei num café nas primeiras semanas — disse ele, rindo sem graça. — Fui péssimo. Troquei pedidos, quebrei uma xícara… mas consegui guardar um pouco de dinheiro. Dá para começar.

— E se eles vierem atrás? Se seu pai descobrir onde estamos?

Ele ficou em silêncio por um momento.

— Então a gente foge de novo. Troca de cidade, de nome, de sonho. Mas não de amor. Nunca de amor.

Abracei-o mais forte, sentindo o mundo girar lá fora, mas com ele, tudo parecia calmo. Seguros, mesmo que fosse só por enquanto.

Porque a gente sabia: paz não era ausência de tempestade. Era ter um lugar — ou uma pessoa — para onde voltar quando o mundo ameaçasse desabar.

E ali, debaixo do céu veneziano, prometi de novo, só que dessa vez em silêncio: eu ficaria.

Mesmo quando fosse difícil.

Mesmo quando doesse.

Mesmo que tudo desse errado.

Porque alguns amores não pedem permissão. Eles acontecem. E fazem do impossível apenas um detalhe.

Nos dias que se seguiram, aprendemos a desacelerar. A cidade parecia ensinar isso. Veneza não tem pressa — seus barcos deslizam, suas ruas se estreitam, e até o tempo parece andar de gôndola.

Acordávamos tarde, fazíamos café em silêncio, dividindo o espaço apertado da cozinha como se dançássemos uma coreografia já ensaiada. Matheu saía para o trabalho no restaurante de um amigo italiano, enquanto eu ficava no apartamento, organizando as coisas, lendo os livros empilhados ou andando pela cidade sem rumo, como se tentasse absorver cada pedra daquele novo mundo.

Mas o silêncio de Matheu ao voltar do trabalho começou a crescer. No começo, eram só olhos cansados. Depois, vieram as ausências: respostas mais curtas, o olhar perdido no prato durante o jantar, a cabeça baixa enquanto lavava a louça.

Uma noite, ele chegou mais tarde que o habitual. A chuva batia forte na janela, e a comida já estava fria na mesa. Ele entrou, tirando o casaco encharcado, sem dizer uma palavra.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, tentando manter a voz firme.

Ele hesitou por um segundo, depois se sentou no sofá, passando as mãos no rosto.

— Ele está aqui, Isa. Meu pai. Chegou ontem. Está hospedado num hotel perto da Piazza San Marco.

Senti como se o chão sob meus pés tivesse cedido.

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