Lorenzo Velardi
O som da porta do elevador se fechando atrás de mim ecoava como um aviso abafado.
Irritado, afrouxei a gravata enquanto atravessava o corredor da empresa, ignorando qualquer olhar que cruzasse o meu caminho. Meu maxilar doía de tanto cerrar os dentes.
Como ela teve a audácia?
Disse para não sair. Dei uma ordem clara, direta. E ainda assim, ela desobedeceu. Saiu com a minha filha, sem segurança, sem motorista, como se não houvesse consequências.
Apertei a chave do carro com tanta força que a ponta metálica cortou a pele da minha palma. Não me importei. Entrei no veículo e bati a porta com violência. O motor rugiu assim que girei a ignição. Meus dedos tamborilavam no volante, os olhos fixos no retrovisor, como se estivesse tentando controlar o fogo que ardia por dentro.
Dirigia como se o mundo estivesse em silêncio, mas dentro de mim tudo gritava.
Isabella.
Ela desafiou minha autoridade. Isso por si só já era imperdoável. Mas o que me corroía de verdade era a imagem que minha mãe pintou ao telefone, de minha filha falando pela primeira vez, depois de tudo, depois do trauma, Aurora quebrou o silêncio. E com quem? Com ela. Com a babá. Não comigo que sou o seu pai.
Ela era minha filha. Era para mim que ela devia correr, abrir a boca, falar… não para uma estranha.
Algo torceu dentro de mim. Um ciúme irracional, ácido, tomou conta dos meus pensamentos. Como se Isabella estivesse ocupando um espaço que não era dela. Como se, sorrateiramente, tentasse roubar o que me restava da mulher que foi embora.
Ela quer o quê? Assumir o lugar da mãe da minha filha? Brincar de casinha aqui dentro?
Apertei o volante com mais força. Isabella era doce demais, carinhosa demais, compreensiva demais. E isso me irritava, porque confundia e me fazia duvidar do que via, do que sentia.
Assim que estacionei diante da casa, saltei do carro como uma tempestade prestes a se derramar. Bati a porta com força, ignorei o silêncio do saguão e subi as escadas com passos duros e decididos, como se cada degrau fosse uma acusação.
Empurrei a porta do quarto de Aurora com uma brutalidade contida. Estava pronto para o confronto. Estava pronto para despejar toda a minha fúria.
Mas… então eu a vi.
Minha filha adormecida nos braços de Isabella. Os cachos espalhados sobre o peito da babá, os bracinhos abraçados ao redor dela como se fossem um só corpo. Isabella a envolvia com o mesmo cuidado de uma mãe, como se Aurora fosse a coisa mais preciosa que ela já havia segurado.
E por um instante, meu mundo silenciou.
Meu coração bateu lento. Algo dentro de mim… quebrou.
Me aproximei, sem ruído. Ajoelhei ao lado da cama e acariciei os cabelos cacheados da minha filha com delicadeza, tentando não acordá-la. Meus dedos tocaram a pele macia da testa dela. Ela suspirou no sono e murmurou algo que não consegui entender.
Meus olhos se voltaram para Isabella. O rosto tranquilo, o braço ainda envolvendo minha filha. Nenhuma máscara, nenhuma pose.
Eu odiava quando isso acontecia. Odiava quando ela parecia mais do que era. Mais do que devia ser.
— Eu te amo, pequena… — sussurrei contra os cabelos de Aurora, e me levantei. Rápido, rígido. Como se aquele gesto de carinho tivesse me envergonhado.
Saí do quarto sem olhar para trás.
Por um segundo, achei que ela se calaria ali, mas não.
Isabella ergueu o queixo, com a dignidade de quem sabe exatamente quem é.
— Não se preocupe, senhor Velardi. Eu sou apenas a babá da sua filha… e a última coisa que eu faria seria deitar na cama de um homem como o senhor.
Minha mãe tossiu, tentando esconder um riso. Eu? Eu simplesmente… congelei. Fiquei estático. Sem saber se era raiva ou… orgulho. Sem saber se deveria responder ou engolir o gosto metálico que subiu à minha garganta.
Ela virou o rosto para minha mãe e disse, educadamente:
— Senhora Velardi, a Aurora já está no quarto dela. Troquei o seu pijama e ela está dormindo. Tenham uma boa noite.
E antes que eu dissesse qualquer coisa, ela deu as costas. O som de seus passos suaves desapareceu pelo corredor… Como se levasse algo de mim junto com ela. Algo que eu não estava pronto para admitir que me pertencia.
Fiquei parado.
Minha mãe saiu logo em seguida, sem dizer mais nada, como se entendesse que ali, naquele silêncio espesso, nenhuma palavra teria espaço.
Fiquei sozinho com o copo vazio na mão. O gosto do uísque ainda queimando na língua. E a estranha, incômoda, quase insuportável sensação de que, pela primeira vez… não fui eu quem teve a última palavra.
Mas será que eu estava pronto para ouvir a próxima?

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