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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 11

Lorenzo Velardi

Idiota.

É isso que eu sou. Um idiota completo. Um homem que se orgulha de ver os outros de cima, mas que acaba caindo sozinho, sufocado pelo próprio ego.

Estou aqui sentado no meu escritório vazio. As luzes estão baixas, o silêncio grita. E eu, ridiculamente imóvel, com esse copo vazio entre os dedos, como se ele fosse me oferecer uma resposta, uma justificativa, um perdão.

Mas tudo que ele faz é refletir o que sou agora. Um vácuo. Um recipiente que um dia já foi cheio de alguma coisa parecida com humanidade… e que hoje transborda raiva, orgulho e culpa.

“A última coisa que eu faria seria deitar na cama de um homem como o senhor.”

As palavras dela. Cada sílaba como uma lâmina fria cortando a carne do meu orgulho. Ela disse isso olhando nos meus olhos. Sem medo, sem hesitação, sem abaixar a cabeça, mesmo machucada. Mesmo depois de eu tê-la humilhado.

Ela… não gritou. Não chorou. Ela não precisou fazer escândalo para me reduzir a nada.

Apenas existiu inteira.

E eu? Eu fui um merda. Disse, diante da minha própria mãe, que Isabella era como todas as outras. Que queria brincar de casinha, entrar na minha cama, viver à sombra do meu sobrenome.

Mas a verdade… a verdade é que ela estava com o braço enfaixado. Com o corpo dolorido, marcado porque salvou minha filha. Porque se jogou entre Aurora e um maldito cachorro que podia ter… Deus, podia ter feito um estrago.

E onde eu estava? No conforto do meu escritório. Cuidando dos negócios. Dos lucros. Da agenda. Enquanto ela cuidava do que eu tenho de mais precioso.

Esse era um dos principais motivos de minhas constantes brigas com Letícia. Ela sempre dizia que eu passava mais tempo no escritório do que em casa com sua família. Mas tudo o que fazia era pensando num futuro para as duas. Um futuro, que se tornou meu pior pesadelo, porque Letícia se foi e levou consigo o meu coração…

Ela protegeu Aurora com o próprio corpo. Fez-se de escudo, se arriscou sem pensar duas vezes. E mesmo assim… mesmo assim, fui capaz de olhá-la e dizer que ela não era nada além de uma oportunista.

Eu não fui ao hospital, não a agradeci. Eu não estive lá quando Aurora tremeu de medo.

Eu não consegui… Eu não consegui fazer minha filha falar. Mas Isabella conseguiu.

A babá.

A mulher que eu contratei para cuidar da minha filha enquanto eu fingia que ainda controlava tudo. A mulher que sorri com doçura para uma criança que já não sabia sorrir. E foi com ela que Aurora falou. Depois de meses em silêncio, depois de tanto trauma. Foi para ela que minha filha devolveu a primeira palavra.

Não para mim.

E ainda assim… Isabella teve forças para me encarar e dizer que jamais deitaria com um homem como eu. E isso… isso me atingiu como nenhum golpe físico poderia ter feito.

Fechei os olhos. E lá estava ela. Como se minha mente não fosse mais minha. Como se eu não tivesse escolha.

A imagem veio nítida, dolorosamente vívida.

Desprezo, julguei, acusei, machuquei.

Fiz dela alvo da minha própria frustração, do meu ciúme, da minha impotência por não conseguir ser o homem que Aurora precisava. Fiz dela a inimiga, só porque ela conseguiu aquilo que eu não tive coragem de tentar.

Estou me tornando o tipo de homem que mais desprezo.

Frio. Cego. Orgulhoso. Medroso.

E tudo porque uma mulher como Isabella… me desmonta com um olhar.

Ela virou as costas e saiu daquele escritório como quem carrega dignidade na pele, como quem não precisa de nada além de si mesma para ser imensa. E não foi só ela quem saiu. Saiu a única mulher que teve coragem de me enfrentar. Saiu a única pessoa que minha filha escolheu confiar.

Saiu algo de mim. Algo que talvez… eu nunca mais recupere.

E agora?

Agora fico aqui. Com esse copo vazio, esse arrependimento ácido na garganta, e essa imagem que não sai da minha cabeça.

Será que ainda existe tempo para consertar o que fiz? Ou será que ela já me enxerga como um home amargo e sem coração?

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