A tarde já começava a ceder lugar ao entardecer quando Isabella deu os últimos retoques em frente ao espelho do quarto. O reflexo que via lhe parecia uma versão quase irreconhecível de si mesma. Vestia um delicado vestido verde-esmeralda, de tecido leve e fluido, que abraçava seu corpo com doçura e elegância. A renda discreta nas mangas e o decote em forma de coração deixavam à mostra a linha suave de seus ombros, enquanto a saia esvoaçante acompanhava seus passos com discrição. Nada era vulgar, nada gritava por atenção e, ainda assim, ela nunca se sentiu tão... vista.
Aurora, que até então insistia em ajudar a babá a escolher brincos, colares e até a bolsa, ficou em silêncio por alguns segundos quando Isabella surgiu do banheiro com o vestido posto. Seus olhos brilharam com espanto.
— Tia Isa... — a menina murmurou, segurando o urso de pelúcia com força. — Você parece... um anjo!
Isabella riu, tocando os cabelos que caíam em ondas suaves sobre os ombros.
— Você acha mesmo?
— Sim! — afirmou a menina, correndo até ela para abraçá-la pela cintura. — O papai vai ficar de queixo caído!
A frase inocente da menina fez Isabella gelar por dentro, embora tentasse manter o sorriso no rosto. Não queria pensar em Lorenzo. Não naquela noite. Aquela noite era sobre liberdade. Sobre um novo começo. Ou, ao menos, a tentativa de um.
— O que acha de irmos mostrar esse vestido para a vovó? — Isabella sugeriu, tentando mudar o foco da conversa.
— Vamos! — exclamou Aurora, empolgada.
Juntas, desceram as escadas com cuidado. Os saltos médios de Isabella tocavam os degraus de madeira com leveza, mas a tensão no peito apertava a cada passo. Ao chegar ao último lance, seus olhos vagaram instintivamente para o corredor lateral e ali, de pé junto à porta do escritório, estava ele.
Lorenzo.
Usava uma calça de moletom cinza escuro e uma camisa de malha preta, os cabelos um pouco desalinhados e o maxilar tenso. Estava parado, imóvel, como se o tempo tivesse congelado só para observá-la. Seus olhos a percorreram lentamente, do salto até os fios de cabelo soltos e por um instante, Isabella sentiu como se estivesse nua diante daquele olhar. Mas não era um olhar de luxúria, nem mesmo de surpresa. Era algo mais profundo. Era fascínio, confusão, desejo não declarado e sentimentos que nenhum dos dois ousava nomear.
Isabella desviou os olhos primeiro, sentindo as bochechas queimarem.
Na sala, Antonella olhou de sua poltrona e sorriu com ternura. Marta, que vinha do corredor com um pano de prato nas mãos, parou e piscou discretamente para Giulia, que estava no sofá lendo. Até a caçula dos Velardi ergueu as sobrancelhas com discrição ao ver o irmão praticamente hipnotizado pela babá.
— Santo Deus… — murmurou Giulia entre dentes. — Esse homem vai explodir antes de assumir que está apaixonado.
A campainha tocou.
Aurora correu até Marta, ansiosa.
— Deve ser o doutor Steffano!
Marta abriu a porta com gentileza, e a figura alta e elegante do jovem médico surgiu com um sorriso encantador no rosto. Ele vestia um terno cinza-escuro bem cortado, com uma gravata azul-marinho e os cabelos impecavelmente penteados. Nas mãos, trazia um buquê de lírios brancos frescos.
— Boa noite. — ele disse, olhando diretamente para Aurora. — Esses são para a mocinha mais encantadora da casa.
Aurora soltou um gritinho empolgado e correu para pegar o buquê.
— São meus?
— Todos seus. — respondeu Steffano, ajoelhando-se à altura da menina.
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