O dia amanheceu com o céu limpo e um brilho suave tingindo de dourado os vitrais da mansão Velardi. O silêncio costumeiro das primeiras horas foi rompido por um som quase esquecido, o ronco elegante de um motor importado seguido pelo tilintar de malas sendo puxadas pelo cascalho da entrada.
Giúlia Velardi havia voltado.
Saltou do carro com um sorriso estampado no rosto e os cabelos castanhos-claros soltos displicentes. Vestia uma jaqueta de couro marrom por cima de um vestido branco leve, os saltos baixos batendo com ritmo firme contra os degraus da entrada. Os olhos percorriam cada canto da fachada como se procurassem por algo que deixara para trás anos antes.
Maria, sempre atenta, abriu a porta antes que ela batesse.
— Senhorita Giúlia! — exclamou, abrindo os braços com um entusiasmo raro.
— Maria! Continua cheirando a lavanda e carinho de avó. — disse Giulia, abraçando-a com força. — Eu senti falta desse lugar…
— Sentimos sua falta também. A casa ficou mais quieta sem você. — respondeu Maria, rindo com os olhos. — O senhor Lorenzo está na empresa, mas Antonella está no jardim com Aurora.
— Aurora? — repetiu Giúlia com um brilho nos olhos. — Minha princesinha…
Desceu os degraus internos quase correndo, deixando as malas esquecidas no saguão. O som de risadas infantis guiou-a até o jardim dos fundos. As rosas estavam em plena floração, colorindo o cenário com tons quentes. Antonella estava sentada em uma cadeira de ferro, observando a neta com um sorriso calmo. Aurora corria pelo gramado com uma boneca nas mãos e os cachinhos loiros dançando ao vento.
Giúlia parou por um momento, apenas observando. Havia algo diferente… o sorriso da menina, os olhos azuis que pareciam brilhar de maneira diferente, então, aconteceu:
— Cuidado, Cacau, você vai cair! — disse Aurora com clareza, estendendo os bracinhos para segurar o brinquedo.
Giúlia congelou. O mundo pareceu silenciar por um instante. Aquela voz… clara, fluida… era dela. De Aurora.
— Ela… ela falou? — sussurrou, incrédula.
Antonella levantou-se, emocionada, e assentiu.
— Sim, minha filha… nossa princesinha voltou para nós. — disse Antonella com os olhos marejados ao ver a filha emocionada. — A Isabella conseguiu algo que ninguém aqui conseguiu, Giulia.
Mas Giúlia não ouviu mais nada. Com os olhos marejados, correu até a menina e se ajoelhou na grama.
— Aurora! — exclamou, abrindo os braços.
Aurora virou-se e, ao ver a tia, parou por um instante. Um sorriso iluminou seu rostinho, e ela correu até Giúlia sem hesitar, jogando-se nos braços da mulher.
— Tia Giúlia! Você voltou!
Giúlia a abraçou com força, afundando o rosto nos cachos dourados, emocionada demais para conter as lágrimas.
— Você tá falando, meu amor… você tá mesmo falando! — murmurou, rindo entre lágrimas. — Você não faz ideia do quanto eu esperei por isso.
Enquanto ainda abraçava Aurora, Giúlia levantou o rosto para enxugar os olhos e foi então que notou uma presença ao lado. Uma mulher jovem, bonita, de cabelos loiros presos num coque baixo, vestida com simplicidade e ternura. Ela as observava com doçura, segurando um livrinho infantil nas mãos.
Havia algo naquela mulher. Uma luz quieta. Um tipo de presença que não pedia atenção, mas não passava despercebida.
— E você… — disse Giulia, piscando para enxergar melhor com o sol contra o rosto. — Quem é essa?
Antes que Isabella dissesse qualquer coisa, Aurora se virou orgulhosa, ainda aninhada no colo da tia, e respondeu com a naturalidade de quem estava falando de um tesouro:
— Ela é a tia Isa, tia Giúlia. Minha Isa.
O coração de Giúlia derreteu. A maneira como Aurora pronunciava aquilo, com propriedade, com amor, com pertencimento, dizia muito mais do que qualquer explicação.
— Sua Isa, hein? — disse Giulia, sorrindo largo. — Agora entendi por que você tá falando. Essa moça deve ter uma varinha de fada escondida no bolso.
Isabella riu, tímida, ajeitando o coque com uma das mãos.
— Só muito carinho e paciência. Nada de mágica.
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