O ambiente do bar era aquecido, discreto e envolto por uma penumbra confortável. Uma música suave saía das caixas embutidas nas paredes, e o tilintar esporádico de copos e vozes baixas compunha o pano de fundo ideal para silêncios pesados e confissões tardias.
Lorenzo apoiava os cotovelos sobre a mesa de madeira rústica, o copo de uísque quase vazio entre os dedos. Enzo o observava em silêncio, respeitando o tempo do amigo. Aquele olhar perdido que Lorenzo mantinha fixo no vidro âmbar indicava algo mais profundo do que as palavras que haviam trocado até então. Um conflito não resolvido. Um nó na garganta que o álcool começava a afrouxar.
— Lembra daquela babá que contratei pra Aurora? — Lorenzo perguntou de repente, sem desviar os olhos do copo.
Enzo apenas assentiu com um movimento lento da cabeça.
— Isabella.
O nome saiu num sussurro, como se carregasse um peso sagrado, quase perigoso.
— É... — ele continuou, respirando fundo — ela chegou numa época em que tudo ainda era cinza. Depois de Letícia, depois do luto, depois de tudo que parecia impossível reconstruir. Isabella entrou na casa… como uma brisa. Não, não uma tempestade, mas como uma brisa. Leve, doce, constante.
Enzo manteve o silêncio, mas franziu levemente o cenho. A voz de Lorenzo estava diferente. Macia, confusa, impregnada de algo que ele conhecia muito bem: entrega.
— No começo eu ignorei. Não dava atenção. Não queria dar. Me mantive longe. Fingindo que ela era apenas… a babá da minha filha, nada além disso. Só que ela começou a me desarmar sem nem perceber. Com a forma como falava com Aurora, como ria baixinho no fim do dia… como me olhava. A casa foi ganhando cor de novo, Enzo. E eu… eu comecei a respirar outra vez.
Enzo girou o próprio copo entre os dedos, sem interrompê-lo.
— E então — Lorenzo continuou, agora olhando diretamente para o amigo — algo aconteceu. Uma noite, cheguei embriagado. Chovia, eu a vi no jardim… tão linda, eu resolvi me aproximar, só queria vê-la de perto, mas quando eu vi, já estava com os lábios na boca dela, com as mãos no corpo dela, com a respiração presa no desejo que há meses… talvez anos… estava adormecido.
Fez uma pausa longa. A respiração irregular denunciava mais do que ele gostaria.
— Eu a beijei, Enzo. E depois disso, não conseguia me manter longe. Nos beijamos novamente, eu a toquei, me ajoelhei diante dela. Eu... — engoliu seco — eu a beijei onde ninguém jamais deveria ter tocado sem prometer o mundo inteiro em troca e ela se entregou. E não foi apenas físico. Não foi.
O silêncio entre eles agora era denso, tenso. Enzo não dizia nada. Apenas o observava, os olhos escuros fixos no rosto do amigo, que parecia mais jovem e mais velho ao mesmo tempo. Ferido, desprotegido e vulnerável.
— Estou emocionalmente envolvido com ela. — A frase finalmente veio direta e crua. — Eu… acho que estou apaixonado pela babá da minha filha.
O uísque queimou ao descer pela garganta. Lorenzo recostou-se na cadeira, como se enfim tivesse soltado a verdade que carregava sufocada no peito. Fechou os olhos por um segundo, esperando talvez que o mundo desabasse ali mesmo.
Mas Enzo não respondeu imediatamente. Permaneceu em silêncio. Depois, com um suspiro discreto, inclinou-se para frente, apoiando os antebraços na mesa.
— E o que você pretende fazer com isso, Lorenzo?
Lorenzo abriu os olhos lentamente. Piscou, confuso.
— Como assim?
— Eu não queria… — começou Lorenzo, mas Enzo o interrompeu:
— Você já quis. E agiu. E, mais importante, ela retribuiu. Então agora você tem que ser homem o suficiente pra decidir: ou assume o que sente e oferece algo verdadeiro… ou a liberta antes que ela acredite que é mais do que é. Porque o que Isabella sente é visível até para Aurora, e crianças não erram.
Lorenzo passou as mãos pelo rosto, exausto.
— Eu só queria que fosse simples.
— Mas não é — respondeu Enzo, com a calma de quem sabe muito bem o que está dizendo. — Nunca foi. Nunca será. Você é um homem quebrado, Lorenzo. Mas ser quebrado não te impede de amar. Te impede de amar mal. De amar errado.
Ficaram em silêncio por alguns instantes. Depois, Enzo finalizou, firme:
— Se for pra ser um covarde, então seja. Mas não arraste a Isabella pra sua covardia. Ela não merece ser mais uma cicatriz no seu peito. E, sinceramente? Você também não merece perder a chance de ser inteiro outra vez… por medo de tentar.
Lorenzo não respondeu.
Apenas ficou ali, encarando o próprio reflexo no fundo do copo.
E pela primeira vez em muito tempo… sentiu-se nu.

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