Lorenzo Vellardi
A noite havia mergulhado a mansão Vellardi num silêncio quase sagrado. O único som era o leve zumbido do vento lá fora, roçando pelas janelas como se a própria madrugada quisesse espiar o que acontecia ali dentro. No quarto principal, o abajur ainda aceso projetava sombras suaves sobre os móveis elegantes, e o ar estava impregnado com o aroma doce de jasmim.
Isabella dormia. Estava ali, ao meu lado, deitada com o corpo pequeno envolto nos lençóis amassados, o rosto sereno, os lábios entreabertos num suspiro leve. Uma imagem de paz… de inocência.
E foi nesse instante, enquanto a observava tão próxima e ao mesmo tempo tão distante, que as palavras dela voltaram a ecoar na minha mente com a força de um trovão abafado:
“Eu amo você.”
Três palavras. Simples, diretas, verdadeiras. Mas que me atingiram como um soco no peito.
Meu corpo inteiro ficou tenso. Não consegui respirar por um momento. Era como se o mundo tivesse parado e o tempo, suspenso.
Ela disse que me amava. E eu… me calei.
Não por indiferença, nem por desprezo. Mas por puro pavor. Por uma covardia que me envergonha só de escrever com o pensamento.
Desejar Isabella nunca foi o problema. Eu a quis desde o primeiro olhar. Desde o instante em que ela cruzou o jardim da mansão pela primeira vez, com os cabelos presos de qualquer jeito, a expressão determinada e os olhos verdes que pareciam enxergar o que havia por trás das minhas defesas. O desejo foi imediato, cruel, incontrolável. Cada vez que ela me enfrentava eu estremecia. Esse desejo crescia a cada encontro, a cada silêncio dividido, a cada gesto dela com Aurora.
Era inevitável.
Mas amor? Amar alguém… é outra coisa. É mais… É mais assustador.
Amar exige entrega, coragem. E, acima de tudo, exige a certeza de que você não vai ferir a pessoa que ousou amar você primeiro.
E eu não tenho essa certeza.
Me levantei devagar, com um cuidado quase cerimonioso, para não acordá-la. Vesti um moletom qualquer, com os músculos ainda latejando do que havíamos feito há pouco, e fui até a janela. Afastei a cortina e encarei o jardim mergulhado na escuridão. As luzes fracas iluminavam as árvores, o balanço de Aurora, o caminho de pedras onde tantas vezes me isolei do mundo.
Mas hoje não era o mundo que eu queria afastar. Era de mim mesmo que eu queria distância.
O vento gelado cortou minha pele, e ainda assim, parecia mais acolhedor do que o turbilhão que me devorava por dentro.
Isabella havia dito que me amava. E aquilo, por mais belo que fosse, me colocou diante de uma pergunta que eu vinha evitando há semanas:
O que estou fazendo com ela?
Ela confia em mim. Entregou-se a mim. E eu não tenho o direito de traí-la com minhas incertezas.
Dei alguns passos para trás, como se me afastar fisicamente pudesse conter a avalanche dentro de mim. Mas era inútil. O desejo por ela me queimava como nunca. O medo de perdê-la… ainda mais.
Sentei novamente na poltrona. Envolvi os braços ao redor do próprio corpo e fiquei ali. Observando-a dormir. Como um covarde apaixonado demais para admitir, mas assombrado demais para avançar.
E talvez seja isso o que eu mais temo.
Não o amor dela, mas a possibilidade de não ser digno dele.
Quando o céu começou a clarear, num azul tímido e silencioso, respirei fundo e fechei os olhos.
Sabia que a manhã traria perguntas e que ela esperaria respostas. Que o “eu te amo” não poderia continuar pairando no ar, solto, sem retorno.
Mas por agora, eu só conseguia existir nesse intervalo. Entre o desejo e o medo. Entre o impulso de ficar… e a covardia de partir. Preciso ter certeza do que sinto, e sei que o que estou prestes a fazer pode colocar tudo a perder. Mas se esse sentimento for intenso, verdadeiro e profundo… no final, tudo vai dar certo.
E mesmo sabendo que, ao tentar protegê-la de mim… eu corro o risco de perdê-la para sempre.

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