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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 104

O som da chuva da noite anterior ainda ecoava dentro de Isabella como uma lembrança viva. Mesmo agora, com o céu coberto por um cinza opaco e um silêncio quase solene dominando a manhã, ela ainda sentia aquele eco em sua pele, como se cada gota tivesse marcado não apenas a superfície, mas a alma.

A tempestade que os envolveu, não apenas do lado de fora, mas dentro deles, permanecia em sua memória como uma ferida e um consolo ao mesmo tempo.

O colchão ainda guardava o calor do corpo dele.

Era como se o tempo tivesse parado, mantendo intactas as marcas do que haviam sido. Cada fibra do tecido, cada cheiro no ar, ainda carregava traços do toque de Lorenzo, da intensidade de seus beijos, da maneira como seus corpos se fundiram como se jamais pudessem se separar. E, no entanto, aquela lembrança estava começando a se dissipar, como fumaça soprada pelo vento.

Isabella abriu os olhos lentamente, como quem teme acordar de um sonho e se ver na realidade crua. O lado da cama onde ele estivera ainda estava quente. A presença dele havia sido recente, forte o suficiente para deixar vestígios, mas frágil demais para permanecer.

Ela se virou devagar, sentindo o lençol colar em sua pele nua, ainda sensível ao toque dele. Abraçou o travesseiro, inspirando o cheiro que ainda estava impregnado ali, e, por um instante, sorriu. Um sorriso suave, íntimo, como se aquela lembrança fosse sua maior vitória. Mas aquele breve momento de paz foi destruído pelo peso do silêncio.

Um silêncio diferente. Pesado e cortante.

Lorenzo estava de pé, diante do espelho. Cada gesto dele, ao abotoar a camisa branca, era calculado, frio, quase cruel. Ele se vestia com uma precisão quase militar, e cada botão que fechava era como uma barreira erguida entre eles. O reflexo mostrava um homem impecável. Mas não era o mesmo homem que, na noite anterior, a tinha olhado como se ela fosse tudo o que existia no mundo.

Isabella se sentou na cama, o lençol pressionado contra o corpo nu. Seus olhos azuis o seguiram, desesperados para encontrar nele um resquício do homem que a fez estremecer.

— Lorenzo… — chamou em um sussurro hesitante, como se apenas dizer seu nome pudesse trazê-lo de volta.

Ele não respondeu. Nem sequer se virou. Continuou o ritual de vestir-se. E quando finalmente falou, sua voz não tinha qualquer traço de ternura. Era rígida, fria, como se cada palavra fosse uma sentença.

— Isabella… o que aconteceu ontem à noite… — começou, com uma pausa que a fez prender a respiração — eu não sei se deveria ter acontecido.

As palavras caíram sobre ela como um golpe inesperado. Isabella piscou, tentando processar.

— Não… deveria? — sua voz falhou, e os dedos apertaram o lençol.

Lorenzo suspirou, desviando o olhar do espelho, como se fosse incapaz de encará-la.

— Eu… eu me perdi — disse, quase num murmúrio. — Ontem eu não estava pensando. Foi um erro. Um deslize.

Um erro.

Aquelas duas palavras pareciam arranhar seu coração. Isabella sentiu um nó subir pela garganta, e precisou de alguns segundos para respirar antes de falar.

— Um… erro? — ela repetiu, com um olhar ferido. — Lorenzo, você me tocou como se tivesse esperado por isso por anos. Não me olhe como se não se lembrasse.

Ele, então, se virou. E o que ela encontrou em seus olhos não era mais paixão, era um misto de indecisão, medo e uma frieza que cortava como gelo.

— Eu não sei o que sinto, Isabella. Você é… — ele engoliu em seco — você é a babá da minha filha. Eu não posso me permitir misturar as coisas.

Isabella fechou os olhos por um instante, tentando conter a raiva e a dor.

— Eu sou a babá da sua filha, sim. Mas ontem… ontem eu fui mais do que isso para você.

Lorenzo fechou os olhos.

— Você me tocou como se não soubesse fazer outra coisa. Com pressa, com fúria, com a sede de alguém que passou a vida inteira fugindo daquilo que, no fundo, mais desejava.

Lorenzo desviou o olhar. Mas ela continuou.

— E eu deixei.

Levantou-se com lentidão, ainda segurava o lençol contra o corpo nu, a pele estava arrepiada não de frio… mas de dor.

— Ontem a noite, enquanto a chuva escorria como lágrimas desesperadas pelas janelas da mansão, enquanto os trovões pareciam ecoar a minha própria inquietude… eu fui sua.

Ela deu um passo em direção a ele, com os olhos marejados, mas sem fraqueza.

— Não a babá. Não a funcionária. Mais a mulher. — Lorenzo manteve os olhos fechados. — Eu fui sua sem perguntas, sem promessas, apenas sentimento… que eu tolamente, ousei chamar de amor.

Lorenzo abriu os olhos. As palavras ficaram suspensas no ar e Lorenzo permanecia calado.

— Seus dedos percorreram minha pele como quem procura abrigo no meio de um furacão. Sua boca dizia meu nome com urgência, como se fosse o último som antes do silêncio. Havia uma tormenta em seu olhar, Lorenzo. Havia guerra e por um instante… você encontrou paz em mim.

Lorenzo permanecia em silêncio, mas por dentro, sangrava.

— Você se entregou para mim, Lorenzo. E eu me entreguei a você.

Ele desviou o olhar novamente, como se estivesse fugindo dela e, principalmente, de si mesmo.

— Isabella… eu…

— Não — ela o cortou. — Não venha me dizer que foi apenas desejo. Eu vi nos seus olhos. Eu senti em cada toque seu. Você me beijou como se estivesse lutando contra o amanhã. Você me olhou… como se eu fosse a única paz que você conhece. Fizemos amor como náufragos… Como quem se agarra a um último pedaço de madeira no meio de um mar revolto. E quando suas mãos seguraram minha cintura como se eu fosse sua âncora, Lorenzo… eu achei que fosse real.

As palavras dela o atingiram, e Lorenzo fechou os olhos por um momento, como se precisasse se proteger delas.

— Não é tão simples. Eu… estou confuso.

— Confuso? — Isabella riu, um riso amargo, quase incrédulo. — Lorenzo, você me teve nos braços, e agora não sabe se sente alguma coisa?

Ele respirou fundo, tentando manter o controle, mas suas mãos tremiam levemente.

— Isabella… eu não posso me permitir. Eu não sei o que quero. Eu não posso me envolver.

Capítulo 104 - A Dor que Ele Nunca Enfrentou 1

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