A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 105

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O corredor da mansão parecia mais comprido do que nunca.

Isabella caminhava com passos tensos, arrastando consigo uma mala que pesava mais pelos sentimentos do que pelos pertences. Cada passo era um duelo entre o que sentia e o que sabia. O som das rodinhas da bagagem ecoava como uma sentença. Seus dedos estavam brancos de tanto apertar a alça. Ela queria acreditar que aquilo manteria o coração no lugar. Mas o coração dela já não estava ali.

Estava dormindo no andar de cima, em um quarto decorado com bichos de pelúcia e adesivos de estrelas no teto.

Mas então, como uma flecha disparada em meio à noite, a voz que Isabella mais temia ouvir rasgou o silêncio:

— Tia Isa!

O mundo parou literalmente. O corpo de Isabella travou. O coração quase explodiu dentro do peito. Quando se virou, viu Aurora correndo em sua direção, o pijama amarrotado, os cabelos desalinhados, o rostinho vermelho e os olhos... Deus, os olhos marejados, implorando por algo que Isabella já não sabia se podia prometer.

— Tia Isa, você prometeu! — gritou, antes de se jogar contra suas pernas com toda a força de um amor inocente.

Isabella caiu de joelhos. O impacto da garotinha em seus braços foi mais forte que qualquer palavra dita por Lorenzo. Ela tentou sorrir, tentou conter as lágrimas. Mas como se conter quando um amor tão puro a implorava para ficar?

— Meu amor… — sussurrou, com os olhos cheios. — Eu preciso ir… é só por um tempo…

— É mentira! — Aurora chorou, com soluços entre as frases. — Quando as pessoas vão embora… elas não voltam mais! Igual a mamãe!

As palavras foram uma flecha no peito.

Atrás delas, no topo da escada, Lorenzo havia surgido. Estático. Paralisado. Ele ouvira cada palavra. E sentiu como se o ar tivesse sido arrancado dos pulmões.

Aurora, ainda colada a Isabella, ergueu os olhos para o pai.

— Papai… não deixa a tia Isa ir embora! Por favor… — ela chorou. — Você sempre deixa tudo ir embora…

Lorenzo sentiu o chão balançar. E, por um momento, quase deu um passo. Mas ficou preso à culpa, ao orgulho, ao medo.

Antonela apareceu no final do corredor, atraída pelos gritos. Ao ver a cena, seus olhos se arregalaram. Mas compreendeu tudo em um segundo. O peso da despedida pairava no ar como um veneno silencioso.

A avó parou ao lado da neta, tocando seu ombro com ternura.

— Aurora, meu amor… — disse baixinho — a Isa só vai cuidar da vovó dela. Não é para sempre.

— Então por que eu não posso ir junto? — Aurora encarou a avó, com lágrimas manchando o rosto.

Antonela sorriu, com esforço.

— Porque alguém tem que ficar aqui cuidando do seu papai… da vovó Antonela… e da Marta, lembra?

Aurora olhou de volta para Isabella, soluçando.

— E… e se eu ficar… quem vai cuidar da Isa?

Isabella apertou a menina contra o peito, sentindo as pequenas mãos segurarem seu casaco com força.

E então Aurora, entre soluços, murmurou como se estivesse arrancando as palavras do fundo do coração:

— Quem vai cuidar da vovó? E da tia Marta?

Isabella congelou. O tempo pareceu parar.

— Quem vai cuidar do meu papai quando ele estiver triste? Quem vai cantar pra mim quando eu tiver pesadelos? Quem vai me contar segredos, fazer tranças e dormir comigo no sofá?

Cada palavra daquela garotinha era uma flecha envenenada cravando-se fundo no coração de Isabella.

Ela não implorava apenas para que ela ficasse. Ela implorava para ser amada de volta. Ela implorava por pertencimento.

Lorenzo… não conseguia mais fingir que era forte. Engoliu em seco, trincou o maxilar. Os olhos azuis estavam marejados, porém firmes. Por fora, ele parecia de pedra. Por dentro, estava despedaçado.

Porque foi naquele instante que percebeu o que havia feito.

Ele havia afastado a única mulher que havia conseguido dar à sua filha o que ele, com todo seu esforço, jamais conseguiu: aconchego. Ele havia afastado a única mulher que entrou no seu coração depois de Letícia, por medo, insegurança e estupidez.