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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 106

O sol da tarde se filtrava por entre as folhas das árvores do jardim, lançando sombras dançantes sobre a grama recém-cortada. A brisa leve acariciava o rosto, misturando o perfume das flores com o som suave do vento passando pelas copas das árvores.

Isabella estava sentada no banco de pedra, debaixo do velho carvalho. As mãos cruzadas sobre o colo, os olhos fixos no nada. À sua frente, um vaso de lavandas balançava sutilmente, como se também respirasse com dificuldade.

Ela havia buscado refúgio ali, longe dos corredores sufocantes, longe dos olhares contidos de Lorenzo, longe das perguntas silenciosas que Aurora começava a fazer com os olhos, mesmo sem coragem de dizê-las em voz alta.

No fundo, Isabella sabia: não havia mais como fingir que nada havia acontecido. A noite com Lorenzo tinha deixado marcas demais. Em sua pele, em seu coração e no jeito como ele passou a evitá-la, como se ela fosse um espelho que refletisse aquilo que ele não queria ver em si mesmo.

Foi então que passos se aproximaram com delicadeza, sem urgência, mas com firmeza. Giulia surgiu do caminho de pedrinhas com uma xícara de chá nas mãos, o olhar calmo, mas atento.

— Trouxe chá de camomila — disse com um meio sorriso. — Não resolve a vida, mas acalma o estômago… e às vezes o coração.

Isabella forçou um sorriso e agradeceu baixinho, pegando a xícara com as mãos trêmulas. O calor do líquido contrastava com a frieza que sentia por dentro.

Giulia sentou-se ao seu lado. Não disse mais nada, apenas ficou ali. Presente, sábia.

O silêncio se estendeu por alguns minutos, e foi nesse intervalo que os olhos de Isabella se encheram d’água.

Ela tentou disfarçar. Respirou fundo e olhou para o céu mordendo o lábio inferior, mas foi em vão.

Uma lágrima escorreu dos seus olhos, silenciosa e quente. E depois outra e mais outra.

Giulia apenas estendeu a mão e pousou-a sobre a dela.

— Não precisa fingir força comigo, Isabella.

A babá virou o rosto, como se quisesse impedir que alguém visse seu colapso.

— Eu estou… tentando — murmurou. — Mas é difícil. É difícil amar alguém que está determinado a não ser amado.

Aquela frase flutuou no ar como uma confissão feita pela primeira vez. Era a verdade que ela escondia até de si mesma.

Giulia inclinou um pouco o corpo, com os olhos marejados pela empatia. E disse com ternura:

— Você não está sozinha nisso.

Isabella soltou um riso curto, sem humor.

— Às vezes me sinto como se tivesse invadido um lugar onde não deveria estar. Como se amar o Lorenzo fosse um erro… e eu estivesse pagando por isso.

— Não é um erro — disse Giulia com firmeza. — É corajoso.

Isabella a olhou com surpresa.

— Corajoso?

Giulia assentiu, apertando um pouco sua mão.

— Amar alguém que vive se escondendo é um ato de coragem. Porque exige que a gente veja o outro inteiro, as sombras, as feridas, os medos e ainda assim escolha ficar. Você fez isso. E não é pouca coisa, Isabella.

Isabella se agarrou a ela como uma criança perdida.

— Eu não sei se consigo, Giulia… não sei se consigo continuar aqui, tão perto dele… e ao mesmo tempo, tão longe.

— Então olha pra Aurora — sussurrou a outra, com voz embargada. — E lembra por quem você escolheu ficar. Por ela. Pela promessa que você fez. E também… por você. Porque mesmo que Lorenzo ainda esteja em negação, você merece ser amada com coragem. E um dia… ele vai entender isso.

Isabella fechou os olhos.

As palavras de Giulia haviam sido como bálsamo e punhal ao mesmo tempo. Alívio por não estar louca, dor por ainda estar presa.

Elas permaneceram ali, abraçadas sob o carvalho, com os passarinhos cantando ao longe e as lavandas balançando ao vento. Como se a natureza, mesmo silenciosa, compreendesse o peso do momento.

Depois de um tempo, Isabella limpou as lágrimas, inspirou fundo e disse:

— Obrigada, Giulia… por não me fazer sentir culpada por sentir.

Giulia sorriu, com os olhos ainda marejados.

— Você não é culpada por amar, Isabella. E muito menos por despertar o amor em alguém que achava que não merecia mais ser amado.

Elas se olharam com uma ternura rara, construída sobre empatia, silêncio e dor compartilhada.

E no fundo do coração de Isabella… uma semente de esperança ainda resistia.

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