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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 107

O céu começava a escurecer sobre a mansão quando Giulia subiu os degraus de madeira em passos determinados. O jardim estava mergulhado em tons dourados, mas o coração dela ardia como se queimasse em brasas.

A conversa com Isabella ainda ecoava dentro de si.

A dor da jovem, as lágrimas, os soluços contidos.

O modo como ela se curvou de amor por Lorenzo, e agora… era ignorada por ele como se nada tivesse acontecido. Como se aquela noite intensa, cheia de entrega e vulnerabilidade, fosse algo descartável.

Mas Giulia o conhecia. Conhecia cada armadura e cada silêncio do irmão. Sabia que por trás daquela frieza aparente havia um homem em guerra com os próprios sentimentos.

E aquela guerra estava prestes a ser invadida.

Lorenzo estava no escritório quando ela entrou. Sentado em sua poltrona de couro, a cabeça baixa, as mãos entrelaçadas sob o queixo. A pasta de trabalho aberta à sua frente, mas os olhos perdidos em algum lugar além da madeira escura da mesa.

— Posso saber o que você está fazendo? — a voz de Giulia cortou o silêncio como uma lâmina fina e certeira.

Ele ergueu os olhos lentamente, surpreso.

— Boa noite pra você também — murmurou, voltando os olhos para os papéis à frente, numa tentativa inútil de parecer ocupado.

Mas Giulia não estava ali para trocas educadas. Fechou a porta atrás de si com um estalo seco e caminhou até o centro da sala.

— Lorenzo, eu estou falando sério. O que você está fazendo?

Ele suspirou, afundando ainda mais na cadeira.

— Não tenho tempo pra isso agora, Giulia.

— Não tem tempo ou não tem coragem?

A frase o fez travar.

Por um instante, ele não respondeu. Apenas a encarou, como se pesasse o quanto ela sabia.

— Não começa, Giulia…

— Já comecei. Porque você não é mais só meu irmão. Você é pai da Aurora. E Aurora chorou até dormir ontem porque achou que a Isabella não a amava mais. Porque você com todo esse orgulho idiota, está fazendo com que a mulher que mudou a vida da sua filha se sinta como se não pertencesse a esse lugar.

Lorenzo fechou os olhos passando a mão pelo rosto. O nome de Isabella era como um fósforo aceso dentro do peito.

— Eu sei.

— Sabe? — ela arqueou uma sobrancelha, indignada. — E ainda assim continua agindo como se nada tivesse acontecido?

— Porque se eu não agir assim, Giulia… eu não sei o que vai sobrar de mim.

A confissão escapou num sussurro. Dolorido e sincero.

Giulia se aproximou com o olhar firme.

— Sabe o que vai sobrar? Um homem sozinho, arrependido e condenado a passar o resto da vida observando a mulher que amava ir embora porque foi covarde demais para admitir o que sentia.

Lorenzo levantou-se de súbito, sentiu a raiva explodir dentro do peito. Caminhou até a janela, respirando fundo com as mãos nos bolsos e o maxilar travado.

— Você não entende, Giulia. Não entende o que é acordar todo dia com a culpa. Não entende o que é olhar pra alguém e sentir que não merece o amor dela. Que vai acabar machucando. Que vai perder de novo.

— Então você prefere perder por medo? — ela rebateu, caminhando até ele. — Prefere empurrar Isabella pra longe? Prefere ver a Aurora confusa, perguntando por que a mulher que ela chama de "tia" e que ama como mãe, não quer mais ficar? Sabe o que a Isabella me disse hoje? Que talvez amar você tenha sido um erro.

— Ainda não — ela respondeu, com ternura. — Ainda dá tempo. Mas você precisa parar de fugir. Precisa ir até ela e dizer a verdade. Porque, Lorenzo… ela está partindo por dentro. Mesmo tendo escolhido ficar.

Ele afundou as mãos nos bolsos da calça, sentindo o corpo tensionar com o que Giulia tinha dito.

— E se ela não me perdoar?

— Então você vai saber que tentou. Mas se não for… se ela ainda te amar… você vai ter de aprender a amar de volta. E isso… só depende de você.

Lorenzo ficou em silêncio por alguns segundos, encarando o jardim através da janela. A mesma paisagem onde Isabella estivera mais cedo, chorando por ele.

Finalmente, virou-se para a irmã, com a voz baixa e frágil:

— Você acha que ela me ama?

Giulia se aproximou e pousou uma mão firme sobre o peito dele, bem onde o coração batia.

— Eu não acho. Eu sei. E você também sabe. Está aqui, gritando dentro de você. Só precisa parar de tapar os ouvidos.

Lorenzo a olhou, vulnerável, pela primeira vez em muito tempo.

— Obrigado, Giulia.

Ela sorriu, com os olhos marejados.

— Não me agradeça ainda. Agradeça a ela se ainda tiver tempo. Vá para Moscou, coloque sua cabeça e seu coração no mesmo lugar e quando retornar, espero que faça a escolha correta.

E então saiu do escritório, deixando o irmão sozinho. Sozinho… mas, pela primeira vez, disposto a ouvir o que seu coração vinha sussurrando há tanto tempo.

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