O céu começava a escurecer sobre a mansão quando Giulia subiu os degraus de madeira em passos determinados. O jardim estava mergulhado em tons dourados, mas o coração dela ardia como se queimasse em brasas.
A conversa com Isabella ainda ecoava dentro de si.
A dor da jovem, as lágrimas, os soluços contidos.
O modo como ela se curvou de amor por Lorenzo, e agora… era ignorada por ele como se nada tivesse acontecido. Como se aquela noite intensa, cheia de entrega e vulnerabilidade, fosse algo descartável.
Mas Giulia o conhecia. Conhecia cada armadura e cada silêncio do irmão. Sabia que por trás daquela frieza aparente havia um homem em guerra com os próprios sentimentos.
E aquela guerra estava prestes a ser invadida.
Lorenzo estava no escritório quando ela entrou. Sentado em sua poltrona de couro, a cabeça baixa, as mãos entrelaçadas sob o queixo. A pasta de trabalho aberta à sua frente, mas os olhos perdidos em algum lugar além da madeira escura da mesa.
— Posso saber o que você está fazendo? — a voz de Giulia cortou o silêncio como uma lâmina fina e certeira.
Ele ergueu os olhos lentamente, surpreso.
— Boa noite pra você também — murmurou, voltando os olhos para os papéis à frente, numa tentativa inútil de parecer ocupado.
Mas Giulia não estava ali para trocas educadas. Fechou a porta atrás de si com um estalo seco e caminhou até o centro da sala.
— Lorenzo, eu estou falando sério. O que você está fazendo?
Ele suspirou, afundando ainda mais na cadeira.
— Não tenho tempo pra isso agora, Giulia.
— Não tem tempo ou não tem coragem?
A frase o fez travar.
Por um instante, ele não respondeu. Apenas a encarou, como se pesasse o quanto ela sabia.
— Não começa, Giulia…
— Já comecei. Porque você não é mais só meu irmão. Você é pai da Aurora. E Aurora chorou até dormir ontem porque achou que a Isabella não a amava mais. Porque você com todo esse orgulho idiota, está fazendo com que a mulher que mudou a vida da sua filha se sinta como se não pertencesse a esse lugar.
Lorenzo fechou os olhos passando a mão pelo rosto. O nome de Isabella era como um fósforo aceso dentro do peito.
— Eu sei.
— Sabe? — ela arqueou uma sobrancelha, indignada. — E ainda assim continua agindo como se nada tivesse acontecido?
— Porque se eu não agir assim, Giulia… eu não sei o que vai sobrar de mim.
A confissão escapou num sussurro. Dolorido e sincero.
Giulia se aproximou com o olhar firme.
— Sabe o que vai sobrar? Um homem sozinho, arrependido e condenado a passar o resto da vida observando a mulher que amava ir embora porque foi covarde demais para admitir o que sentia.
Lorenzo levantou-se de súbito, sentiu a raiva explodir dentro do peito. Caminhou até a janela, respirando fundo com as mãos nos bolsos e o maxilar travado.
— Você não entende, Giulia. Não entende o que é acordar todo dia com a culpa. Não entende o que é olhar pra alguém e sentir que não merece o amor dela. Que vai acabar machucando. Que vai perder de novo.
— Então você prefere perder por medo? — ela rebateu, caminhando até ele. — Prefere empurrar Isabella pra longe? Prefere ver a Aurora confusa, perguntando por que a mulher que ela chama de "tia" e que ama como mãe, não quer mais ficar? Sabe o que a Isabella me disse hoje? Que talvez amar você tenha sido um erro.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar