A noite já havia tomado conta do céu quando Giulia saiu do escritório, deixando Lorenzo sozinho com seus pensamentos embaralhados e o coração pesado. Mas ele não ficou muito tempo lá dentro. Precisava de ar. De silêncio. De qualquer coisa que pudesse acalmar a culpa pulsando no peito.
Seguiu pelos corredores escuros da mansão como se caminhasse por dentro de si mesmo e tudo ali era um campo de ruínas. Abriu a porta da biblioteca e, sem acender as luzes, deixou-se cair no sofá de couro escuro. O cômodo era amplo, acolhedor, forrado de livros até o teto, impregnado com o aroma amadeirado que sempre o lembrava de seu pai. Era um dos poucos lugares da casa onde ele ainda conseguia respirar sem sentir que tudo estava desabando.
Poucos minutos depois, Antonela entrou. Sabia que encontraria o filho ali. Ela o conhecia bem demais para não perceber que ele sempre se escondia entre livros quando queria fugir do que sentia.
— Ela ia embora.
A voz de Antonela soou com firmeza, cortando o silêncio como uma lâmina.
Lorenzo ergueu os olhos devagar. Não perguntou “quem”. Sabia exatamente de quem a mãe falava. O nome dela pulsava em sua mente desde a noite anterior como um sussurro constante que ele não conseguia calar.
— E você… você não fez nada, Lorenzo. — acusou a mãe, os olhos tristes, mas sem desviar os deles.
Ele passou as mãos pelo rosto, exausto. O gesto de quem já havia se culpado mil vezes em silêncio.
— Eu sei.
— Sabe? — Antonela retrucou, dando um passo adiante. — Então por que diabos você está deixando isso acontecer? Você vai perder a melhor coisa que entrou na vida da sua filha desde que a Letícia se foi. Vai perdê-la por medo?
Lorenzo abaixou a cabeça. O orgulho, que sempre fora sua armadura, agora pesava como uma prisão. Ele não disse nada no primeiro momento. Apenas respirou fundo, como quem tentava reunir coragem para uma confissão.
E então murmurou:
— Eu vou viajar amanhã.
Antonela franziu o cenho, confusa.
— O quê?
— Rússia. Marco me ligou hoje. É um contrato importante… demanda presencial. Uma fusão de empresas com os russos. Alguns dias fora. Talvez uma semana. Talvez mais.
Antonela o olhou como se não estivesse reconhecendo o próprio filho.
— E você acha que fugir do país vai resolver o que está dentro de você? Vai deixá-la aqui, depois de tudo o que aconteceu?
Lorenzo suspirou. O cansaço era visível em cada linha de seu rosto.
— Ela vai ficar. Por Aurora.
Antonela cruzou os braços. O olhar agora era de pura decepção.
— Talvez… não por muito tempo.
Essas palavras o atingiram como um soco seco. Mas ele não reagiu. Apenas ficou ali, imóvel, deixando o peso daquela verdade se acumular sobre seus ombros.
✲ ✲ ✲
Do lado de fora da biblioteca, a mansão mergulhava em silêncio. Mas em outro ponto da casa, em um quarto modesto e abafado de emoções contidas, Isabella permanecia sentada na beira da cama, imóvel.
A casa desapareceu. As palavras se perderam. Só existia aquele instante de silêncio entre eles, onde as feridas gritaram mais alto que qualquer som.
Mas, como sempre, ele foi o primeiro a quebrar a ponte que os ligava.
Virou o rosto. Apertou os olhos, tentando conter o que sentia. Caminhou até a bancada, pegou a pasta de couro que havia deixado ali na noite anterior e murmurou, baixo:
— Vou para o trabalho. Não volto para o almoço.
E saiu.
Deixando para trás um silêncio ainda mais devastador do que qualquer briga.
Isabella ficou ali, com as mãos trêmulas segurando o espremedor. O suco escorria devagar para o copo, mas ela não conseguia continuar. O coração parecia espremido junto com as frutas. Apertado até a última gota.
Marta, que observava tudo em silêncio, aproximou-se devagar. Tocou levemente a mão da jovem e disse com a voz cheia de ternura:
— Vai passar.
Isabella não respondeu de imediato. Mas depois de alguns segundos, respirou fundo, piscou as lágrimas de volta para dentro e esboçou um sorriso frágil.
Porque, no fundo, mesmo sem saber como… ela ainda acreditava.
Que vai passar… Era só o começo.

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