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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 109

A casa de Lorenzo estava mergulhada em um silêncio que não era apenas ausência de som, mas a presença sufocante de tudo aquilo que não havia sido dito. Um silêncio denso, que parecia pesar sobre as paredes, sobre as pessoas, sobre os corações que tentavam não se despedaçar ali.

Na sala de jantar, a mesa estava posta com esmero. Marta havia caprichado na arrumação, os talheres polidos refletiam a luz dourada do lustre, e as taças de cristal brilhavam como se tentassem disfarçar a tensão que pairava no ar. O aroma suave do filé grelhado com ervas e do purê de batatas temperado com noz-moscada invadia o ambiente, mas ninguém parecia disposto a comentar o quanto o jantar estava perfeito.

Aurora, sentada ao lado de Isabella, era a única a falar algo, ainda que com a leveza inocente de uma criança. A pequena, com os cabelos dourados soltos, olhava para a babá com um sorriso confiante, como se nada de ruim pudesse acontecer enquanto Isabella estivesse ali. Ela não desgrudava de Isabella desde a noite anterior, desde quando viu Isabella com as malas disposta a partir.

A jovem ajudava a menina a cortar o filé em pedaços menores, guiando suas pequenas mãos com uma delicadeza quase maternal.

Lorenzo, do outro lado da mesa, mantinha o olhar fixo no prato, o maxilar travado, como se cada garfada fosse uma luta contra si mesmo. Isabella, mesmo tentando manter uma aparência serena, sentia os olhos dele sobre si de forma intermitente, como uma presença que ardia na pele e fazia o coração apertar. Ela desviava, sempre que possível, mas sabia que ele estava ali, preso naquela guerra silenciosa.

Cristina, sentada ao lado da afilhada, percebeu cada detalhe. Conhecia Lorenzo bem demais para não notar a rigidez incomum nos ombros dele, o modo como os dedos seguravam o garfo com mais força do que o necessário. E conhecia Isabella o suficiente para saber que o sorriso tímido nos lábios da jovem não passava de uma máscara.

— Isabella, querida — Cristina disse suavemente, inclinando-se um pouco para se aproximar da jovem. — Está tudo bem? Você parece cansada.

— Estou bem… só um pouco cansada, sim. — respondeu Isabella, com a voz baixa, como se qualquer som mais alto pudesse quebrar o delicado equilíbrio daquela mesa. Desviou o olhar para o copo de água entre as mãos, como se a transparência do líquido fosse capaz de esconder sua turbulência interior.

Aurora olhou para a babá com uma expressão curiosa, segurando a mão dela.

— Isa, você não vai embora, não é? — perguntou a menina, com a sinceridade pura de uma criança.

Isabella sorriu, forçando uma leveza na voz.

— Não, meu amor… eu fiz uma promessa, e promessas devem ser cumpridas. — Fez um carinho nos cabelos da pequena, que imediatamente sorriu, como se acreditasse apenas naquilo.

Giulia, encostada à cadeira ao lado da mãe, observava em silêncio. A irmã de Lorenzo possuía um olhar analítico, quase cortante, capaz de perceber emoções escondidas. E naquele momento, ela não tinha dúvida alguma. O irmão estava em conflito. Um conflito que o tornava frio, distante, e ao mesmo tempo vulnerável.

Marco, sentado ao lado do amigo, também percebeu. Aproximou-se discretamente e murmurou baixo, apenas para que Lorenzo ouvisse.

— Você vai falar com ela antes de ir? — perguntou com um tom de quem já sabia a resposta, mas queria cutucar a ferida.

Lorenzo soltou o ar em um suspiro pesado.

— Não é tão simples, Marco.

— Então faça ser — retrucou o amigo. — Antes que seja tarde demais.

Lorenzo ergueu o olhar por um breve instante e encontrou Isabella concentrada em Aurora, cortando o filé para a menina com uma paciência quase angelical. O gesto, simples e cotidiano, apertou algo dentro dele. O mesmo algo que ele vinha tentando negar desde a manhã anterior, quando acordou ao lado dela. A lembrança da noite anterior ainda queimava como uma marca, mas o medo de se entregar era maior.

Ele havia se erguido da cama como se fugisse de um crime. Mas não era culpa o que sentia, era medo.

Isabella, do outro lado da mesa, parecia carregar o mesmo fardo. A dor de quem se deu por inteira e foi descartada por covardia. Mas ali estava ela, ainda assim… cuidando da filha dele com o mesmo amor.

Cristina tocou o braço da jovem discretamente.

— Aurora está radiante, você percebeu?

Isabella sorriu.

— Ela é especial…

— Ela está mais forte. Mais leve. E eu sei por quê. — Cristina apertou sua mão com carinho. — E não precisa dizer nada, meu bem. Uma mulher reconhece outra quando o coração fala mais alto que a razão.

Isabella desviou os olhos, o sorriso morrendo lentamente nos lábios.

— Eu… não esperava nada — disse, baixinho. — E talvez esse tenha sido o meu erro.

— Às vezes, esperar é um ato de coragem. E ficar… é uma forma de amar.

Isabella não respondeu. Mas suas mãos tremiam levemente sob a toalha de linho branco.

✲ ✲ ✲

Após o jantar, Aurora insistiu para que Isabella fosse com ela até o quarto. A menina queria que a babá a ajudasse com o banho e com o pijama de unicórnios. Isabella, com a voz doce e tranquila, a levou pela mão, sentindo o peso de cada passo. Antonela, vendo a cena, fez um leve aceno de cabeça, como quem diz: “Fique com ela, ela precisa de você.”

Enquanto Aurora brincava com os patinhos de borracha na banheira, Isabella estava silenciosa, perdida em pensamentos. A lembrança do olhar de Lorenzo na noite passada ainda queimava, e as palavras frias dele naquela manhã ecoavam sem piedade.

Quando terminou de vestir a menina, Aurora a abraçou forte, como se soubesse que algo estava errado.

— Tia Isa… você vai embora? — perguntou com a voz trêmula.

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