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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 110

O céu ainda estava coberto por um manto espesso de escuridão quando Lorenzo Velardi despertou. O quarto permanecia em silêncio absoluto, envolto por sombras que se arrastavam pelas paredes, e o único som audível era o leve tic-tac do relógio antigo pendurado ao lado da porta, como um lembrete implacável do tempo que corria, implacável, mesmo quando o coração desejava que tudo parasse.

Sentado à beira da cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos entrelaçadas sob o queixo, Lorenzo encarava o chão como se ali, entre os veios da madeira, pudesse encontrar alguma resposta para o turbilhão que o consumia por dentro. A mala repousava ao lado da poltrona, pronta há horas. Rígida, fechada, organizada. Tudo o que ele precisava levar estava ali, menos o que mais doía, o próprio coração, que ele não conseguia silenciar, nem encaixar entre as camisas e os documentos.

Porque partir agora era diferente.

Pela primeira vez em anos, ir embora doía como uma ferida aberta. E doía porque, mesmo sem admitir em voz alta, ele sabia que estava deixando para trás mais do que uma casa e uma rotina. Estava deixando emoções que há muito tempo havia jurado não sentir mais.

Vestiu-se com calma, com a meticulosidade de um homem que tenta manter o controle de tudo ao seu redor. O blazer escuro caiu sobre os ombros com precisão. A camisa branca, impecável. A gravata, apertada com força, como se quisesse conter, com aquele nó, o impulso desesperado de voltar atrás.

Antes de sair, atravessou o corredor silencioso em direção ao quarto da filha. A porta entreaberta deixou escapar um fiapo de luz da luminária infantil em forma de lua. Ele parou por um segundo, sentindo o coração apertar, já prevendo o que o esperava.

Aurora estava acordada, sentada na cama, com os olhos ainda inchados de sono, os cabelos bagunçados e os pequenos pés descalços sob o cobertor cor-de-rosa. Ela esfregava os olhinhos com as costas das mãos quando o viu.

— Papai…? — a vozinha saiu num sussurro quebrado, carregada de um medo infantil que Lorenzo conhecia bem. — Vai viajar mesmo?

O coração dele tremeu. Respirou fundo, buscando a serenidade que não sentia, e entrou no quarto. Sentou-se ao lado dela e passou a mão com carinho pela bochecha da menina, que, instintivamente, se aconchegou em seu ombro.

— Vou, meu amor. Mas é só por pouco tempo. Papai precisa resolver algumas coisas do trabalho, lembra?

Aurora mordeu o lábio inferior e hesitou antes de perguntar, baixinho:

— Mas você vai voltar, né?

A pergunta o atingiu com força, como uma flecha certeira que atravessava todas as armaduras que ele havia construído ao redor do peito.

— Sempre volto pra você, meu pequeno girassol. — respondeu, com a voz rouca de emoção. — Você é meu mundo, minha luz, a razão de tudo.

Ela ficou em silêncio por alguns instantes, até que levantou o rosto e encarou o pai com aqueles olhinhos azuis, tão intensos e sinceros que pareciam enxergar dentro dele.

— Papai… eu sonhei com a mamãe essa noite.

Lorenzo parou. Sentiu o ar escapar do peito com uma força que não conseguiu controlar.

— É mesmo? — perguntou, tentando soar leve, mas a garganta apertava.

Aurora assentiu, os olhinhos brilhando.

— Ela estava linda… com um vestido branco que dançava no vento. A gente estava num jardim cheio de flores, e ela me abraçava bem forte… — a menina sorriu, mas havia algo de melancólico em sua expressão. — Ela disse que eu precisava dizer uma coisa pra você. Que eu precisava te lembrar que você… precisava se permitir sentir.

Ela olhou para o pai com genuína inocência e completou, franzindo o cenho:

— O que significa isso, papai?

Lorenzo sentiu os olhos marejarem. O peito doía como se estivesse sendo apertado por dentro, como se o passado e o presente se chocassem com violência. Ele apertou os lábios, desviou o olhar por um instante, lutando contra a emoção que ameaçava transbordar.

— Depois o papai te explica, tá bem? — murmurou, forçando um sorriso enquanto beijava a testa dela. — Agora você precisa descansar.

— Tá bom… mas não demora muito pra voltar, tá?

— Prometo.

— Papai?

— Diga minha princesa?

— A tia Isa vai embora?

Lorenzo fechou os olhos por um segundo.

— Não. Ela vai ficar, ela prometeu.

Capítulo 110 - Antes Que a Distância Nos Separe 1

Capítulo 110 - Antes Que a Distância Nos Separe 2

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