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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 12

Isabella Fernandez

A porta se fechou atrás de mim com um clique seco.

Segui em silêncio pelo corredor até meu quarto, com passos firmes demais para alguém que tremia por dentro. Meus dedos doíam de tanto que os mantive fechados em punhos durante o caminho. Cada palavra dita por ele ainda ecoava na minha cabeça como pedras jogadas em um lago calmo.

“Ela é como todas as outras. Quer a minha cama e brincar de casinha.”

Parei no meio do quarto. Por um momento, não soube se deveria chorar ou gritar. Apoiei a mão na cômoda, buscando um pouco de equilíbrio, mas o que encontrei foi a dor. Física, sim, meu braço ainda latejava, mas a emocional… essa doía mais.

— Eu salvei sua filha… — sussurrei, como se ele pudesse me ouvir do outro lado da casa. — Eu me joguei na frente daquele cachorro sem pensar em mim por um segundo. E tudo que recebo… é isso?

Levei a mão ao rosto, senti o gosto salgado das lágrimas que já escorriam sem permissão. Afastei-as com raiva.

— Posso ser uma garota do interior… — falei em voz alta, com a voz embargada e o olhar fixo no espelho. — Posso parecer frágil… mas está enganado ao meu respeito, senhor Velardi. Seu… seu… idiota!

Falei a última palavra com força, como se cuspisse o veneno acumulado em meu peito. Um nó se formou na garganta. Não era só tristeza. Era decepção, raiva, injustiça.

— Se ele pensa que me ofendendo vai me fazer ir embora e desistir ele está muito enganado.

Caminhei até o closet, ainda ofegante, e puxei a primeira camisola de algodão que encontrei. Branca, simples e confortável. Tudo que eu queria era me livrar daquele dia.

Fechei a porta do banheiro com mais força do que o necessário, liguei o chuveiro e deixei a água cair sobre mim sem pressa. O calor aliviava os músculos tensos, mas não lavava o que doía por dentro.

Saí com os cabelos úmidos, vesti a camisola devagar e deitei na cama abraçando o travesseiro. O lençol estava frio e o quarto silencioso.

Fechei os olhos. Tentei não pensar nele, não lembrar da forma como os olhos dele ardiam ao me julgar, como se eu fosse um problema a ser eliminado. Mas era impossível. Lorenzo estava impresso em cada canto da minha mente, com raiva, com desprezo… com intensidade.

O cansaço me venceu, mas a paz do sono foi curta.

No sonho, estávamos no mesmo escritório. Ele me encarava como se lutasse contra algo que queimava por dentro. Ele suava, sua respiração estava acelerada, seu olhar… faminto. E, de repente, me puxava com força pela cintura e colava seus lábios nos meus.

O beijo era bruto, urgente. Como se quisesse me calar. Como se quisesse se desculpar com a boca. Minhas mãos subiam por sua camisa. Eu podia sentir os seus músculos por baixo da camisa, sua voz rouca sussurrava o meu nome entre os beijos….

— Isabella…

O quarto estava abafado.

Acordei como se alguém tivesse me arrancado de um lugar onde não devia estar. Meus cabelos grudavam na nuca, o tecido da camisola estava molhado contra a minha pele. Minha respiração estava entrecortada e meu coração parecia que iria sair pela boca a qualquer momento.

— Não… — sussurrei, passando as mãos pelo rosto. — Eu não posso estar… sonhando com ele.

Me sentei na cama. O quarto estava mergulhado na penumbra, com apenas um filete de luar atravessando a janela. Respirei fundo, tentando acalmar o corpo… mas a imagem do beijo ainda queimava minha pele como se fosse real.

Fechei os olhos e encostei a testa nos joelhos, abraçada a mim mesma e a primeira coisa que senti foi o calor.

Voltei para a cama e tentei me ajeitar. Virei para um lado, depois para o outro. Fechei os olhos. Contava os segundos no escuro. Mas a imagem dele me olhando… não saía da minha mente.

Aquela maldita expressão indecifrável. O tom da voz, o cheiro que ficou no ar depois que ele saiu. E, pior… o arrepio que subiu pelas minhas costas quando ele acariciou os cabelos de Aurora e sussurrou que a amava.

Por mais que eu quisesse odiá-lo por inteiro… havia rachaduras. E essas rachaduras me torturavam.

Quando finalmente consegui cochilar de novo, já estava amanhecendo. A claridade começava a surgir timidamente pelas frestas da cortina quando abri os olhos outra vez. O sonho ainda rondava a minha cabeça. Como um feitiço maldito, uma maldição que carrego por dentro sem querer.

Me levantei, ainda sonolenta, e fui até o banheiro. O rosto estava marcado de tanto me virar na cama. Os olhos cansados, o corpo ainda dolorido pelo ataque do dia anterior. Mas havia algo pior do que os hematomas visíveis.

Era outro tipo de dor.

Aquela que vinha da forma como ele me olhou, das palavras que disse e da sensação de que, apesar de tudo, eu não conseguia arrancá-lo de mim.

Vesti uma roupa leve. Um vestido azul claro que me caía com simplicidade. Prendi os cabelos num coque frouxo e desci as escadas devagar, em direção à cozinha, sentindo o dia começar a nascer em silêncio.

Não sabia o que me esperava naquela casa, mas uma coisa era certa.

Eu não seria mais o alvo calado do senhor Lorenzo Velardi.

Porque por mais que ele me tirasse o sono… eu ainda era dona de mim.

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