Moscou, Rússia, 23h47
A cidade parecia um organismo vivo sob o frio da noite. Moscou respirava através das luzes dos postes refletindo na neve recém-caída, do vapor que escapava dos bueiros e da pressa das pessoas que atravessavam as ruas geladas. O inverno russo tinha um jeito peculiar de lembrar que você estava sozinho. Lorenzo Vellardi sentia isso na pele.
Com o sobretudo escuro abotoado até o pescoço e as luvas pretas que escondiam as mãos tensas, ele caminhava sozinho pela calçada úmida. Ele já havia enfrentado reuniões, traduções simultâneas, brindes e sorrisos ensaiados desde que chegou a Moscou naquela manhã. Mas nada… absolutamente nada conseguia afastar da sua mente o sabor da noite em que teve Isabella em seus braços.
O nome dela era uma lâmina que cortava fundo. A lembrança da noite anterior ainda pulsava nele como uma febre. Ele se lembrava do calor da pele dela contra a sua, do sabor salgado do suor misturado ao beijo, do som dos gemidos dela sufocados contra o seu ombro e as palavras que fez todo o seu interior se agitar…
“Eu te amo…”
Fechou os olhos por um instante e quase sentiu as mãos dela em seu peito, os cabelos macios roçando seu rosto.
— Porra… — murmurou entre dentes, afrouxando a gravata como se isso pudesse aliviar a pressão que crescia dentro dele.
A cada passo, sentia-se mais distante de si mesmo, como se tivesse deixado uma parte vital em outro continente.
Deixou o coração em Boston, ou melhor, em Isabella.
Nada, absolutamente nada naquele dia cheio de reuniões, apresentações e traduções simultâneas conseguiu apagar a lembrança de Isabella. Ele podia estar em Moscou, rodeado de empresários e contratos milionários, mas bastava fechar os olhos e lá estava ela. Com sua camisola leve colada às curvas, os olhos brilhando na penumbra do quarto, o sorriso tímido antes de se entregar.
O cheiro dela ainda estava nas suas mãos.
E isso estava o deixando louco.
✲ ✲ ✲
Quando o motorista o aguardou em frente ao hotel, Lorenzo apenas fez um gesto brusco. Precisava andar, precisava respirar, precisava se perder. Não queria mais sorrisos diplomáticos ou conversas ensaiadas. Queria o silêncio de um copo de vodca e o peso do esquecimento, ainda que temporário.
Andou pelas ruas iluminadas por letreiros neon até encontrar um pub com paredes de tijolos. As janelas estavam cobertas por neve e uma música baixa, quase melancólica. O ambiente era uma mistura de fumaça, cheiro de álcool e risadas abafadas.
Sentou-se no balcão, retirando as luvas com movimentos lentos, quase automáticos.
— Vodca. A mais forte que tiver. — pediu em inglês, com a voz rouca.
O barman, um homem ruivo com barba densa e olhos atentos, apenas acenou e serviu uma dose generosa. Lorenzo virou o copo de uma vez só, sentindo o álcool queimar a garganta e descer como uma labareda. Mas nem a ardência foi suficiente para apagar a lembrança do olhar de Isabella magoado.
Foi então que ouviu a voz.
— Problemas, senhor? — uma voz feminina, arrastada, com sotaque marcante.
Lorenzo ergueu os olhos.
À sua frente, uma mulher alta, loira, com olhos azuis claros como o gelo e um batom vermelho provocante. Ela vestia um casaco de pele, aberto apenas o suficiente para revelar um vestido preto colado ao corpo. Não havia sutileza nela, apenas uma confiança direta, quase desafiadora.
Ele não respondeu. Apenas sorriu de canto, um sorriso cansado, fazendo ela entender.
Depois de muitas doses, Lorenzo saiu caminhando com a mulher até um motel proximo do pub. A porta do quarto se fechou com um estalo seco. A mulher tirou o casaco e jogou sobre a poltrona com um movimento rápido, como quem já sabe o que vai acontecer.
Lorenzo estava parado no centro do quarto, com o paletó largado sobre a cama e a gravata pendendo da mão.
Quando ela se aproximou, ele deixou que seus lábios se tocassem. Havia força no beijo, mas nenhuma emoção. Era apenas um ato mecânico, uma tentativa de silenciar o que gritava dentro dele.
A mulher sorriu contra a boca dele e empurrou-o até a cama. Começou a desabotoar a camisa dele, mordendo o próprio lábio inferior. Lorenzo, no entanto, sentiu algo esquisito. Sua mente não estava ali. Não era aquele corpo que ele queria tocar.
Era o corpo de Isabella. Era o cheiro doce e familiar dela que ele buscava. Era a boca dela que ele queria sentir até perder o fôlego.
Fechou os olhos e, no escuro de suas pálpebras, viu o rosto de Isabella. Viu os olhos verdes, tímidos e quentes, lembrando-se da maneira como ela tremia em seus braços, do suspiro inocente quando ele prometeu ser gentil, da forma como ela gemeu seu nome naquela madrugada.
— Você está bem? — a mulher perguntou com um sorriso curioso, ajoelhando-se diante dele e puxando lentamente o zíper de sua calça.
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