O sol ainda não havia pintado o céu quando um par de pezinhos descalços correu pelo corredor de madeira, ecoando suavemente pela casa de campo. Aurora, com os cabelos loiros bagunçados pela noite de sono, já estava desperta muito antes de Isabella abrir os olhos. Usava ainda o pijama de algodão com estampa de coelhinhos e carregava consigo uma determinação rara para alguém tão pequena.
— Vovó Flora! — chamou, correndo até a cozinha, onde a senhora já cortava algumas frutas para o café da manhã. — Eu acordei antes da tia Isa!
Flora, com o avental florido e o cabelo preso em um coque simples, sorriu ao ver a netinha de coração entrar como uma rajada de vento.
— Mas que menina cheia de energia! E por que tanta pressa, minha florzinha?
Aurora apoiou os cotovelos na mesa, abrindo os olhos grandes e brilhantes.
— Eu quero ajudar a fazer um café da manhã especial para a tia Isa! — disse, com um sorriso largo. — Ela cuida de mim todos os dias, e eu quero que ela acorde feliz hoje.
Flora sentiu o coração aquecer com aquela declaração tão doce. Ajoelhou-se para ficar na altura da menina e acariciou suas bochechas rosadas.
— Você é uma menina maravilhosa, sabia? Aposto que a sua Isa vai amar esse presente.
Aurora assentiu com entusiasmo, já puxando uma cadeira para alcançar a bancada.
— O que a gente pode fazer, vovó? Quero algo delicioso, tipo… tipo uma surpresa de amor!
Flora riu com ternura e começou a mostrar os ingredientes.
— Que tal pão quentinho, frutas cortadas em forma de coração e um pouco de mel?
— SIM! — Aurora bateu palminhas, empolgada. — Vai ser o café mais especial do mundo!
Enquanto Flora orientava, a menina tentava cortar morangos com cuidado, mordia a língua de tanta concentração. As pequenas mãos, desajeitadas mas cheias de vontade, transformavam o momento em algo mágico.
— Vovó, posso te contar uma coisa? — Aurora perguntou de repente, com um ar sério, enquanto segurava um morango em formato torto.
— Claro, querida. Pode me contar qualquer coisa. — respondeu Flora, curiosa.
Aurora se aproximou e sussurrou, como se fosse o segredo mais precioso do universo:
— Eu rezo todos os dias para que o papai e a tia Isa fiquem juntos.
Flora ficou alguns segundos em silêncio, com os olhos marejados.
— Você reza, meu amor?
— Rezo sim. — Aurora assentiu, confiante. — Porque eu amo muito a tia Isa, vovó. Ela é a pessoa mais legal do mundo! E eu sei que o papai também ama ela, só que ele é meio bobo e não diz.
O sorriso emocionado de Flora se abriu devagar, com uma ternura que quase se confundia com lágrimas.
— Ah, meu anjo… você tem um coração tão lindo.
— Você acha que Deus vai ouvir minha oração? — perguntou Aurora, com os olhos brilhando de esperança.
— Tenho certeza. — Flora beijou a testa da menina. — Porque quando um coração puro como o seu pede algo, o céu inteiro escuta.
Depois de organizar tudo para o café da manhã, Isabella acordou e encontrou a mesa decorada com frutas cortadas em formatos engraçados, pão fresco e um bilhetinho escrito com a ajuda de Flora: “Para a melhor Isa do mundo”. Ao ver aquilo, Isabella quase se derreteu de emoção, abraçando Aurora com tanta força que a menina gargalhou.
— Você é minha alegria, sabia? — Isabella disse, beijando a bochecha da menina.
O dia seguiu com mais descobertas e aventuras na fazenda. Aurora, vestida com um vestido florido amarelo, botas de borracha vermelhas e um chapéu de palha que quase cobria seus olhos, correu pelo quintal ao lado de Isabella. As duas foram até o galinheiro para colher ovos frescos.
— Olha, tia Isa! Esse é quentinho! — Aurora exclamou, segurando um ovo com cuidado como se fosse uma joia rara.
— Muito bem, mocinha! Vai ser para o bolo da vovó. — Isabella sorriu, ajudando a menina a colocar os ovos na cestinha.
Elas também passaram pelo pomar, onde colheram algumas maçãs suculentas. Aurora subia nas pequenas escadas de madeira com a ajuda de Isabella, esticando os bracinhos para alcançar os galhos mais altos.
— Essas maçãs são vermelhas como meu batom imaginário! — disse Aurora, fazendo Isabella gargalhar.
No final da manhã, James apareceu no quintal com um sorriso tão largo quanto o céu azul. Aurora, que brincava com um galho tentando “varrer” as folhas secas, parou imediatamente, sorrindo para o tio.
— TIA ISA! OLHA QUEM CHEGOU AQUI! — ela gritou, pulando de pura felicidade.
Isabella largou as maçãs que estava separando para a torta da tarde e caminhou até a cerca, rindo da empolgação da menina.
— TIO JAMES! — Aurora correu para o tio que a pegou nos braços com carinho.
James, que já estava acostumado com o entusiasmo da garotinha, piscou para Isabella e soltou, com um tom brincalhão:
— Será que alguém aí poderia me ajudar a tirar leite das vacas? Eu estou achando que não vou dar conta sozinho…
Aurora se virou tão rápido que quase perdeu o chapéu de palha.
— EU! EU! EU! — gritou, levantando as duas mãos como se estivesse na escola pedindo para responder à professora.
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