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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 13

O perfume suave de flores frescas e pães recém-assados pairava no ar, misturando-se ao som delicado da porcelana tilintando nas mãos cuidadosas de Antonella. A mesa estava impecável — Marta havia caprichado com zelo maternal naquela manhã. Havia jarras de suco natural em cristal, croissants amanteigados dispostos ao lado de geléias caseiras, frutas brilhando como jóias em compoteiras de vidro, e arranjos florais enfeitando com sutileza cada canto da mesa. Mas todo aquele requinte não disfarçava a tensão que pairava no ar como uma sombra silenciosa e densa.

Antonella já estava sentada, elegante como sempre, observando os ponteiros do relógio com aquela inquietação contida de quem esperava mais do que tempo passar.

O som de passinhos descalços ecoaram pelo mármore da escada. Aurora apareceu no alto, com os cabelos ainda bagunçados do sono, os olhos redondos e úmidos brilhando de excitação, e sua fiel boneca Cacau apertada nos braços.

Lorenzo havia acabado de surgir no corredor. Estava impecável como sempre, vestindo uma camisa branca de linho com os primeiros botões abertos e as mangas dobradas, revelando os antebraços fortes. Os cabelos ainda úmidos do banho denunciavam sua rotina pontual, e o olhar… bem, o olhar estava menos blindado do que de costume.

— Papai! — exclamou Aurora assim que o viu.

Lorenzo parou. Seus olhos suavizaram-se, e o semblante frio deu lugar a uma ternura tão rara quanto preciosa. Ele se agachou de leve, abrindo os braços para recebê-la.

Aurora correu, sem hesitar, e pulou nos braços dele com a boneca esmagada entre os dois. Envolveu o pescoço do pai com seus bracinhos miúdos e, com um sorriso tão largo quanto sincero, disse:

— Oi papai… eu falei!

Lorenzo sentiu o coração apertar e afundar ao mesmo tempo. Encostou o rosto no dela, fechando os olhos por um instante como se tentasse eternizar aquele toque, e sussurrou com a voz embargada de emoção:

— Eu estou muito feliz, minha florzinha.

Aurora sorriu ainda mais e apertou os bracinhos ao redor do pescoço dele antes de escorregar de seus braços e descer ao chão com leveza. Sem perder tempo, correu até o centro do salão onde Isabella acabava de aparecer.

Vestindo um delicado vestido azul claro de alças rendadas e tecido fluido, Isabella surgiu como uma brisa suave, mesmo com o braço direito enfaixado e apoiado contra o corpo. Seus cabelos loiros estavam soltos, descendo em ondas luminosas pelos ombros nus, e sua presença era como uma pintura viva entre os cristais e flores do ambiente.

Antonella, ainda à mesa, ergueu o olhar e sorriu discretamente ao vê-la entrar.

— Bom dia, senhora Velardi. — disse Isabella com educação, ainda parada à entrada.

— Por favor, Isa… apenas Antonella. — respondeu a matriarca, gesticulando com gentileza para que ela se aproximasse.

— Minha princesa ainda não acordou? Eu ia subir para vê-la…

— Não precisa, querida. Marta está organizando tudo. Sente-se, você também precisa de cuidados.

— Mas eu estou bem, poderia ao menos… — insistiu.

— Isa, não seja teimosa. — cortou Antonella com um tom gentil, porém firme.

Isabella sorriu, vencida, e sentou-se ao lado da mais velha. As duas mal haviam trocado mais do que algumas palavras, mas um elo silencioso parecia se formar entre elas.

— Marta caprichou hoje — disse Antonella com um sorriso leve. — Afinal, temos muito a comemorar.

Antes que Isabella pudesse responder, os passinhos de Aurora cortaram o ar como um raio.

— Isa! — gritou a pequena, correndo até ela com a boneca Cacau desajeitadamente vestida de bailarina.

Isabella abriu os braços, mesmo com dificuldade, e acolheu o impacto do abraço da menina com o corpo todo. Aurora se apertou contra ela, a boneca esmagada entre as duas, e sussurrou com os olhos fechados:

— Isa… Cacau e eu sonhamos com você! Como está o seu braço? Ainda dói muito?

Isabella sorriu com ternura e, ignorando o incômodo no braço enfaixado, afagou os cabelos da menina com a mão livre.

— Já tá bem melhor, meu amor. Você e a Cacau foram meu melhor remédio.

Antonella, fingindo tomar chá, segurava uma risada interna. Aurora, confusa, franziu a testa.

Lorenzo olhou para o relógio e soltou um suspiro tenso.

— Quando terminar o seu café, por favor vá até o meu escritório. — disse sem rodeios, com sua voz baixa e firme.

Isabella apenas assentiu com a cabeça e se ergueu. O vestido azul se movimentava como um suspiro ao redor das pernas dela. Mesmo com o braço enfaixado, sua presença era poderosa, intacta.

— Estarei lá. — respondeu.

Beijou a testa de Aurora e disse:

— Tome todo o seu café que hoje tenho histórias novas para contar. — Aurora sorriu largo e começou a comer. Isabella levantou, pediu licença e saiu do salão com passos seguros.

Lorenzo a seguiu com os olhos até que ela desaparecesse pelo corredor. Só então desviou o olhar.

Antonella limpou a borda da xícara e disse, num sussurro:

— Espero que não vá fazer algo idiota, Lorenzo.

Ele não respondeu. Apenas continuou olhando para o café em sua xícara, como se ele pudesse revelar a resposta para o que fazer com tudo aquilo.

Mas a verdade era uma só:

Ela estava ali. E ele… estava à beira do abismo.

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