O sol brilhava alto no céu do interior, espalhando luz dourada sobre as montanhas ao fundo e os campos verdes que cercavam a fazenda. Um vento leve balançava as folhas das árvores, e o cheiro de terra molhada misturado ao frescor das flores silvestres dava ao ambiente uma tranquilidade quase poética. A entrada da fazenda era emoldurada por cercas brancas e fileiras de girassóis altos e orgulhosos. Cavalos pastavam ao longe, em liberdade, compondo a paisagem digna de um quadro.
A SUV preta de luxo cortava a estrada de terra, deixando atrás de si uma trilha de poeira fina. Ao volante, Lorenzo mantinha os olhos fixos no horizonte, mas sua mente estava muito além da paisagem. Ele sentia o motor vibrar sob suas mãos, o volante frio contra os dedos, mas nada disso importava. O coração batia em um ritmo irregular, apertado por uma mistura de ansiedade, medo e um desejo incontrolável de simplesmente vê-la.
À medida que a estrada se estreitava, Lorenzo reduziu a velocidade. Podia ver a entrada da fazenda de Flora, a avó de Isabella, e algo dentro dele se apertou. Ele estava prestes a encarar a mulher que o fazia perder o controle, que o fazia desejar com a mesma intensidade que temia.
— Isabella… — murmurou para si mesmo, os lábios formando o nome como um sussurro quase reverente.
O SUV parou devagar próximo ao portão principal. A porta se abriu, e Lorenzo desceu. Usava jeans escuros, uma camiseta preta de tecido fino que moldava seu peito largo, e óculos escuros que escondiam os olhos cansados pela viagem, mas atentos a cada detalhe. O cabelo levemente bagunçado e a barba por fazer davam-lhe um ar ainda mais charmoso, mas também mais humano.
O som dos cascos ecoava suavemente ao longe.
Aurora estava montada num cavalo marrom, ao lado de James, o peão forte, moreno, de olhos castanhos intensos, que a ensinava a montar. Eles estavam perto do celeiro, e quando Aurora olhou para frente e viu o carro, seus olhos se arregalaram.
— Papaaaai! — gritou, com as mãozinhas erguidas. — É o papai!
James segurou as rédeas, surpreso, e ajudou a menina a descer com cuidado. A pequena mal tocou o chão, já saiu correndo em direção ao pai. Os cabelos dourados voavam ao vento, e os olhos azuis brilhavam de felicidade.
Lorenzo se abaixou de imediato, abrindo os braços, e quando Aurora se jogou nele, o som da risada dele foi abafado pelo abraço apertado.
— Oi, meu pequeno girassol… — sussurrou ele, beijando a testa da filha, sentindo o perfume adocicado que sempre o desarmava. — Estava com saudades…
James observava de longe, com o maxilar contraído e a mão firme no chapéu. Não era difícil entender quem era o homem que havia deixado Aurora tão empolgada.
Na varanda, a avó de Isabela observava a cena com uma bandeja de limonada nas mãos. Seus olhos se estreitaram ao analisar o homem alto e elegante abraçando sua pequena hóspede.
Foi nesse momento que Isabella saiu do celeiro. Carregava uma cesta de ovos frescos, e usava um vestido floral simples de alças finas. Ela estava descalça e com os cabelos loiros soltos, meio ondulados, balançando com a brisa do campo.
Ela não esperava vê-lo ali. Quando seus olhos encontraram os dele, o coração disparou. Lorenzo estava imóvel, com Aurora nos braços, mas seus olhos… seus olhos a devoraram como se o tempo tivesse parado. Como se aquele instante fosse o único que importava.
Isabella sentiu o sangue fugir do rosto, depois voltar com força às bochechas. Sua respiração vacilou. Lorenzo deu um passo, depois outro. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a avó de Isabela já estava se aproximando.
— Então você é o patrão da minha neta e o pai dessa florzinha aqui? — disse a senhora, com um sorriso astuto e olhos atentos, analisando Lorenzo da cabeça aos pés.
Lorenzo piscou, surpreso com a abordagem, mas sorriu de leve, ainda segurando Aurora.
— Sim, senhora. Lorenzo Vellardi E a senhora é…?
— Flora Fernandez. Mas todos aqui me chamam de Flor. — Ela estendeu a mão. — Seja bem-vindo à minha fazenda, senhor Vellardi. Ou posso te chamar só de Lorenzo?
— Lorenzo está ótimo. — Ele apertou a mão da mulher com respeito, mas não tirou os olhos de Isabella, que permanecia perto do celeiro, abraçada à cesta, tensa.
Flora percebeu o olhar atravessado entre os dois e sem disfarçar, soltou:
— Vejo que a chegada foi… impactante.
Isabela pigarreou e se aproximou, tentando disfarçar o nervosismo.
— Vovó, eu… não sabia que ele viria.
— E ainda bem que não sabia, senão ia me deixar nervosa também! — respondeu a mulher com bom humor, batendo de leve na cesta de ovos. — Pode levar esses pra dentro, querida. E Lorenzo, se quiser, venha tomar uma limonada comigo depois você conhece o resto da fazenda. Ah, e não se preocupe com sua filha. Ela está em casa.
Aurora se virou imediatamente para a avó postiça e disse:
— Eu amo esse lugar, vovó Flor! Tem cavalos, galinhas, vaquinhas e até coelhinhos!
Flora sorriu, emocionada.
— E agora tem você também, florzinha. Agora corre com seu pai, que eu vou preparar um bolo de fubá.
A senhora se afastou, deixando um silêncio pesado entre os dois.
— Isabella… — a voz dele saiu rouca, carregada de um misto de arrependimento e desejo.
— Você vai mesmo? — perguntou Aurora, animada.
Lorenzo a observou entrar na casa, sentindo um nó se formar na garganta. Aurora puxou seu rosto de volta para o dela.
— Papai… você gosta da tia Isa?
A pergunta foi um golpe direto. Ele sorriu, desconcertado.
— Por que a pergunta, princesa?
— Porque o James gosta. Ele disse que acha a tia Isa muito bonita.
Lorenzo congelou por um segundo. Sentiu o ciúme subir como uma labareda e mordeu a língua.
— Ele disse isso?
— Uhum. E ele olha pra ela igual você.
— Igual a mim? — Lorenzo ergueu uma sobrancelha.
Aurora sorriu, sapeca:
— Igual… assim… com os olhos de quem quer beijo.
Lorenzo soltou uma risada abafada e beijou a bochecha da filha.
— Você anda muito observadora, mocinha.
— É que eu amo vocês dois.
Lorenzo a abraçou com força, sentindo um peso inexplicável no peito. Havia voltado para consertar tudo. Mas será que ainda dava tempo?

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