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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 14

A porta do escritório fechou com um estalo seco atrás de Isabella.

Ela entrou primeiro, os passos firmes, o queixo erguido, o vestido azul leve balançando suavemente ao redor das pernas. O braço direito enfaixado estava apoiado junto ao corpo, mas nem mesmo isso diminuía a presença dela. Ao contrário, havia algo indomável em sua postura. Algo que Lorenzo sentiu como um soco no estômago assim que entrou logo atrás, a mandíbula travada, os olhos faiscando.

— Você perdeu completamente o juízo? — ele disparou, com a voz cortando o ar como lâmina.

Fechou a porta com força e avançou alguns passos, o rosto marcado pela tensão. Os cabelos ainda úmidos do banho matinal estavam desalinhados, a camisa branca com os botões superiores abertos revelava parte do peitoral rígido. As mangas dobradas até os cotovelos davam a ele uma aparência de informalidade que contrastava brutalmente com a raiva evidente em cada centímetro de seu corpo.

Isabella se virou lentamente, sem baixar os olhos. Havia um brilho incandescente nos dela.

— Eu entendo que o senhor esteja bravo…

— Bravo? — ele avançou dois passos. — Bravo seria pouco. Eu estou furioso! Você desobedeceu uma ordem direta. Colocou a minha filha Isabella em risco.

— Com todo o respeito, senhor Vellardi, não seja ridículo. Levá-la ao parque não é colocá-la em risco.

— Ridículo? — ele rosnou. — Você foi teimosa! Acha que sabe tudo, que pode agir como quiser! E se algo tivesse acontecido? Você se dá conta disso?

— Eu jamais faria algo para machucar a Aurora. — Isabella cortou, a voz vibrando, firme, e deu um passo à frente. — Eu cuidei dela. A protegi. Estava atenta o tempo todo. Ela não é minha filha, senhor Vellardi, é sua. Mas sou eu quem tem estado com ela todos os dias. Sou eu quem acorda quando ela chora. Sou eu quem escuta quando ela não quer falar. E mesmo assim, eu jamais faria nada que colocasse Aurora em perigo. Eu a levei ao parque, Lorenzo. Ela brincou. Respirou ar puro. Riu. Se você considera isso um risco, então o problema não está em mim.

Lorenzo cerrou os punhos.

— A palavra responsabilidade, senhorita Fernandez, por acaso a conhece? — ele deu dois passos até ela. — Aurora é minha filha. Minha única filha. Se algo tivesse acontecido…

Isabella deu um passo à frente, com os olhos faiscantes.

— Você fala como se ela fosse minha responsabilidade exclusiva, mas é sua. Minha função é cuidaŕ… não substituir seu dever como pai.

Ele prendeu os olhos nos dela.

— Você não entende… — ele avançou um passo, com o tom mais áspero. — Eu vivi coisas que você não faz ideia. Olha o que aconteceu com você por causa de sua imprudência. Imagina se o cão tivesse mordido Aurora?

— Eu jamais permitiria que algo ruim acontecesse com Aurora. — ela interrompeu, com a voz afiada. — E o que aconteceu foi uma fatalidade, poderia ter acontecido com qualquer pessoa, inclusive com o senhor. Eu apenas quis proporcionar algo para Aurora que não fosse passar o dia enfurnada dentro de casa lendo livros, queria que ela lembrasse o que de fato é ser criança.

— E você acha que é salutar para uma garota de seis anos presenciar um cachorro mordendo o braço de sua babá?

— Não, mas acho salutar ela sentir que pode voltar a respirar sem ter medo de sorrir e isso acabar magoando o pai.

Lorenzo parou por um segundo, apenas para conter o ímpeto de gritar. Abaixou a voz num tom ainda mais ameaçador.

— E o motorista? — insistiu, desafiador. — Por que dispensá-lo?

— Porque queria que Aurora se sentisse livre. Ela precisava disso. Você vive cercado de cercas, de ordens, de vigilância. Crianças não florescem em prisões. — Isabella se aproximou ainda mais, erguendo o rosto com coragem. — E, adivinhe… ela falou. Pela primeira vez em meses. Mas você está muito ocupado sendo um tirano para perceber.

— Um tirano? — O olhar dele faiscou, e ele a encurralou contra a parede num movimento rápido, impulsivo. As mãos não a tocaram, mas pairavam próximas à sua cabeça, como se o corpo todo gritasse pela proximidade.

— Eu não sou igual às mulheres que você leva para a cama. — Isabella sussurrou, encarando-o com os olhos em chamas. — Não estou aqui para obedecer calada, nem para ser sua distração conveniente. Só exijo respeito. Não sou uma boneca que você pode controlar.

Lorenzo respirou fundo, como se os olhos semicerrados como se as palavras dela fossem farpas entrando na carne.

— Você é teimosa, irresponsável. Age como se soubesse tudo, como se estivesse acima das regras.

— Eu sou uma mulher, não uma marionete! — ela explodiu, com a voz falhando de leve pela emoção contida. — Eu tenho instinto. Tenho julgamento. E eu sou cuidadosa.

Os dois estavam agora a poucos passos um do outro. Isabella com os olhos acesos e o rosto corado. Lorenzo imóvel, com os punhos cerrados. O ar entre eles era eletricidade pura.

Eles se encararam por tempo demais. Longo o bastante para a tensão se transformar em faísca. longo o bastante para que o desejo gritasse mais alto do que o bom senso. Mas antes que qualquer um deles cedesse, a porta se escancarou.

— Lorenzo! — A voz de Antonella invadiu o cômodo como um raio.

Lorenzo deu um passo para trás imediatamente, com os olhos em chamas. Isabella se recompôs com dignidade, endireitando os ombros.

— Com licença. — disse ela com frieza, cruzando por Antonella sem desviar o olhar. A saia do vestido azul esvoaçou atrás dela como um sinal de guerra vencida.

Antonella fechou a porta devagar, então se virou para o filho com o olhar afiado.

— Está completamente louco?

Lorenzo passou a mão no rosto, visivelmente alterado.

— Não começa, mãe…

— Já comecei. Se for para tratá-la com essa brutalidade, melhor tirá-la da casa. Mas saiba que perderá algo precioso. Ela conseguiu algo que nem você, nem eu conseguimos: a confiança da sua filha e a fez falar novamente.

Lorenzo abaixou a cabeça por um instante e Antonella se aproximou.

— Então trate de se comportar. Porque se continuar deixando essa mistura de desejo, raiva e orgulho guiar suas ações, vai perder as duas. Isabella… e Aurora.

Ela saiu, deixando-o sozinho no escritório encostado à parede. Pensando nela. Sentindo o cheiro dela ainda pairando no ar.

E desejando, contra toda lógica, vê-la de novo naquele exato lugar.

Encurralada, desafiadora, ardendo de vontade como ele e completamente fora do seu controle.

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