A casa repousava no mais absoluto silêncio, envolta pela penumbra acolhedora da madrugada. As paredes antigas, carregadas de histórias e memórias, pareciam respirar lentamente com o sono da noite. Do lado de fora, o som distante dos grilos, o murmúrio do vento entre as árvores e o coaxar ritmado dos sapos criavam uma sinfonia serena que embalava toda a fazenda em um torpor tranquilo, como se o tempo ali andasse mais devagar.
Lorenzo subia os degraus da escada em silêncio, com Aurora adormecida nos braços, o rosto pequenino encostado em seu ombro largo. Os cachinhos dourados da menina estavam úmidos de suor, grudando-se à sua pele, e sua respiração era calma, ritmada, como a de quem sonha com tardes infinitas de brincadeiras ao sol, cercada por borboletas e bonecas.
O corpo dele, aquecido e forte, envolvia a filha com naturalidade e cuidado. Usava apenas uma calça de moletom cinza, os pés descalços e uma camisa de malha branca, os cabelos loiros ainda estavam úmidos, com resquícios de água do banho recente. Cada passo que dava no assoalho de madeira era leve, quase sem som, como se não quisesse espantar o encanto daquela madrugada.
Atrás dele, vinha Isabella. Andava devagar, com os pés descalços também, e o vestido leve esvoaçava ao redor de suas pernas enquanto subia os degraus com delicadeza. Seus olhos estavam voltados para a menina nos braços de Lorenzo, mas, de tempos em tempos, deslizavam discretamente para o homem à sua frente e um sorriso brotava sem que ela conseguisse evitar.
Ao entrarem no quarto, uma luz suave e dourada os envolveu. O abajur ao lado da cama lançava um brilho quente sobre o ambiente, uma cama com lençóis claros, almofadas bordadas e o aroma de lavanda preenchia o ar. Era o tipo de quarto que parecia feito para acolher sonhos bons.
Lorenzo parou na porta do banheiro, encostando o ombro no batente. Observava em silêncio, com um brilho manso no olhar. Cada gesto de Isabella era uma pintura viva, a forma como ela se ajoelhava perto da cama, o cuidado com que ajeitava os lençóis, a suavidade das mãos quando pegou o pijama da menina, uma camiseta de algodão com estampa de estrelas e uma calça leve e cor-de-rosa, já bem conhecida por Aurora.
Com gestos delicados, Isabella começou a despir a menina adormecida.
— Vamos, mocinha... só mais um pouquinho. — murmurou com ternura, como quem conta um segredo ao vento.
Aurora resmungou algo entre um sonho e uma reclamação abafada, mas não despertou. Isabella sorriu baixinho, como quem já conhecia aquele tipo de resistência sonolenta, e com toda a paciência do mundo, terminou de vesti-la. Suas mãos deslizaram entre os cachinhos da menina, ajeitando o travesseiro e a manta com estampa de girassóis, que ela estendeu sobre o corpo pequeno como se cobrisse um tesouro raro.
Depois, pegou as duas bonecas favoritas de Aurora, Cacau, de vestido florido, e Lila, com suas tranças compridas, e colocou uma de cada lado, encaixadas nos bracinhos da menina. Por fim, inclinou-se devagar e depositou um beijo suave na testa dela.
Sussurrou com os lábios colados à pele:
— Mamãe ama você, meu pequeno raio de sol.
Lorenzo sorriu, e não conseguiu conter o calor que subiu em seu peito. Era como se o coração dele inchasse com a cena diante dos olhos. Ele nunca se cansava de observar Isabella naquele papel, mesmo que ela não fosse, de fato, a mãe biológica de Aurora. Havia algo nela que transbordava amor de um jeito sereno e profundo. Era visceral, natural. Era lar.
Quando Isabella se virou, encontrou o olhar dele preso nela. Um olhar quente, intenso, cheio de significados que não cabiam em palavras. Ela corou, surpresa e levemente tímida diante da intensidade daquele silêncio.
— O que foi? — perguntou baixinho, com a voz rouca e um sorriso nervoso nos lábios.
Lorenzo não respondeu de imediato. Caminhou até ela devagar, com os passos leves e o olhar ainda fixo. Quando parou diante dela, passou os braços ao redor de sua cintura e a puxou para si com firmeza e carinho.
— Você é linda... sabia? — sussurrou, com a voz grave como um trovão distante, quente como a brisa do verão. — E eu te amo. Muito.
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