O sol ainda bocejava atrás das montanhas quando uma réstia de luz dourada atravessou as cortinas brancas do quarto, pousando suavemente sobre o assoalho de madeira, como um toque de bênção. O quarto estava envolto por um silêncio morno, o tipo de silêncio que só a fazenda conhecia nas primeiras horas do dia, quebrado apenas pelo sussurro distante dos galos e o farfalhar preguiçoso das folhas lá fora, embaladas pela brisa suave da manhã.
Isabella despertou devagar, como quem saía de um sonho bom. O corpo ainda repousava sob os lençóis amarrotados, a camisola fina colada à pele por conta do calor abafado da madrugada. Ela piscou os olhos com lentidão, sentindo o coração bater em um compasso diferente, como se dentro dela algo tivesse mudado sem aviso.
Estava exausta, mas em paz.
Uma paz estranha, doce, profunda. O corpo inteiro parecia conservar a memória da noite anterior, os arrepios gelados da água do riacho, o calor das mãos de Lorenzo em sua pele, os beijos que ele lhe dava como se ela fosse feita de luz e segredo. Cada lembrança parecia pulsar sob a pele como pequenos relâmpagos. Ainda podia sentir os risos contidos, os olhares trocados à meia-noite, a volta silenciosa para casa com cuidado para Aurora não acordar e o coração dela emaranhado no dele.
Mas naquela manhã… havia mais.
Um incômodo sutil, uma náusea mansa, como uma onda que se aproxima em silêncio e lambe os pés antes de se fazer notar. Isabella levou a mão ao ventre, um gesto quase inconsciente, protetor. Sentou-se com cuidado na beira da cama, o lençol escorregando até seus joelhos, revelando as coxas nuas, os pés descalços apoiados no chão gelado. Os cabelos, ainda úmidos do banho noturno, estavam desgrenhados e caíam em ondas sobre seus ombros.
Ela fechou os olhos por um momento, tentando afastar a leve tontura. Mas o corpo estava diferente. Enviava sinais silenciosos que ela, embora relutante, começava a entender. O coração acelerou e o pensamento veio como um sussurro que ela ainda não ousava dizer em voz alta.
Não podia se precipitar, ainda não tinha certeza. Mas dentro dela, uma intuição antiga e poderosa, quase selvagem, florescia, dizendo o que os lábios ainda temiam nomear: havia algo a mais agora. Algo novo, algo pequeno e imenso.
Ela se levantou devagar e caminhou até o banheiro. Lavou o rosto, deixando a água fria escorrer pelos pulsos e pelo pescoço, tentando acalmar os tremores que nasciam por dentro. Olhou-se no espelho, como se pudesse encontrar respostas no próprio reflexo. Os olhos estavam ligeiramente inchados, os lábios entreabertos em silêncio. Mas havia um brilho sereno, um encantamento tênue, uma esperança que brotava por trás do medo.
Isabella levou a mão até o ventre ainda imperceptível, acariciando o local e sussurrou:
— Será que tem um bebê aqui dentro? — os seus olhos verdes brilharam marejados.
Quando voltou para o quarto, o enjoo ainda estava lá. Não forte, mas presente. Sentou-se na cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos, e ficou assim por alguns minutos até ouvir os passos leves no corredor, pequenos e familiares.
A maçaneta girou lentamente.
— Tia Isa…?
A vozinha saiu baixa, com o timbre doce de quem acaba de acordar. Aurora entrou no quarto de meias nos pés e olhos ainda sonolentos, os cachos dourados despenteados. A camisa do pijama com estampas de estrelas e a calça rosa. Ela parecia preocupada, tinha acordado após ouvir sua tia vomitando no banheiro.
Isabella esboçou um sorriso, mas a menina correu até ela antes que ela dissesse qualquer coisa.
— Você está doente? — perguntou, tocando o rosto da babá com as mãos pequenas e quentes. — Eu ouvi barulho… e depois silêncio. E você não apareceu no café. Eu fiquei com medo.
Isabella se derreteu com a preocupação. Envolveu Aurora num abraço apertado, deixando a menina se aninhar contra o peito.
— Está tudo bem, minha flor… Só acordei meio enjoada. Não é nada grave.
Aurora apoiou a cabeça no ombro dela, fazendo um carinho desajeitado no braço de Isabella com os dedos pequeninos.
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