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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 135

Já passava das onze e meia quando o sol, alto e vibrante, derramava sua luz intensa sobre o sítio da Boa Esperança, banhando de dourado, as telhas antigas e as paredes caiadas das construções coloniais. A claridade refletia com força nas janelas abertas, fazendo cintilar o vidro e iluminando cada fresta com a generosidade das horas que antecedem o almoço. O calor começava a subir da terra batida, criando ondulações tênues no ar, enquanto uma brisa morna agitava com preguiça as folhas dos eucaliptos que ladeavam a estrada.

Mesmo com o avanço do dia, os pássaros ainda cantavam entre os galhos, como se não tivessem pressa, embalando a paisagem com uma melodia serena, agora mais espaçada, mais contemplativa, mas ainda presente, como um sussurro da natureza dizendo que tudo ali continuava no seu ritmo. A fazenda, em sua calma viva, pulsava num compasso antigo, como se o tempo tivesse um outro fôlego ali, mais longo, mais gentil.

Foi nesse cenário que o jipe prata do Dr. Stephano surgiu ao longe, subindo devagar a estradinha poeirenta. A poeira suave se ergueu atrás do veículo como um manto leve, sinalizando a chegada de alguém que, embora esperado, trazia consigo um peso que só corações atentos seriam capazes de perceber.

Na varanda da casa principal, Isabella observava. Estava com um vestido de algodão claro, singelo, com pequenas flores azuis estampadas, e um avental de fundo bege, ainda úmido de quando secou as mãos instantes antes. Os cabelos presos num coque frouxo, alguns fios soltos emolduravam o rosto, o tipo de beleza que não se planeja, mas que se impõe com graça.

Ao ouvir o som do motor se aproximando, ela desceu os dois primeiros degraus da varanda, apoiando a mão na madeira do corrimão. Seus olhos encontraram os de Dr Stephano assim que ele desceu do carro. O médico, sempre tão sereno, tinha no rosto a neutralidade dos que aprendem a separar emoção de urgência, mas Isabella notou, em seus olhos, que havia algo a mais. Uma hesitação breve, um cuidado contido.

— Bom dia, doutor — disse ela, com um sorriso educado, porém receptivo.

— Bom dia. — ele respondeu, com um aceno de cabeça e um sorriso leve. — Olá Isabella, pensei que não fosse mais te ver.

Ela sorriu e disse.

— Eu só vim passar uns dias com a minha avó que estava adoentada, voltamos hoje a tarde. — disse sorrindo.

— O ar do campo te fez bem, consegue ainda estar mais bonita do que me lembrava.

O médico sorriu para ela encantado com a beleza singela e sentiu o coração bater acelerado ao perceber o rubor nas bochechas dela.

— Senhor Vellardi me pediu para examinar a sua avó, eu estou ansioso para conhecê-la. — respondeu ele, mas seus olhos, por um breve instante, ficaram presos nos dela. Um olhar que dizia muito, mas não o suficiente para ser compreendido por completo.

Antes que o silêncio entre os dois ganhasse forma, o som forte e ritmado de cascos sobre a terra desviou a atenção de ambos.

Vindo do campo, entre os currais e o celeiro, surgiu Lorenzo, montado em um cavalo. O cavalo reluzia sob o sol, e Lorenzo cavalgava com uma elegância natural, como alguém que conhecia a terra e o vento desde menino. No colo, firme e risonha, vinha Aurora. A menina ria alto, com os braços erguidos como quem voava e as tranças balançavam ao vento.

A cena era de uma beleza quase cinematográfica.

Stephano sorriu, surpreso. Não pela chegada, mas pelo homem que cavalgava. Lorenzo, o CEO sério, centrado e de poucas palavras, o mesmo que parecia ter sido moldado no ferro e no silêncio, agora sorria abertamente, com os olhos vivos e as mãos firmes segurava Aurora com firmeza. Stephano ficou surpreso, conhecia Lorenzo a anos e jamais tinha visto o homem sorrir sequer uma única vez, desde a morte prematura de sua amada esposa Letícia.

— DOOOOUTOR STEPHANOOOOO! — gritou Aurora, quando o avistou da varanda, com a voz forte ecoando pela fazenda.

Isabella riu, cruzando os braços diante do peito, enquanto o médico recuava um passo, entre surpreso e encantado.

Lorenzo puxou as rédeas com leveza e o alazão desacelerou, parando suavemente diante da varanda. Ele desmontou com fluidez e, num gesto ágil, tirou Aurora do cavalo a colocando no chão.

— Devagar, minha amazona. Esqueceu que você depois vai ajudar o papai a comprar um sítio? Como vou cuidar dos cavalos sozinho? — murmurou ele, sorrindo.

Aurora já corria em direção ao médico.

— Você veio cuidar da vovó Flora? Ela tá esperando desde cedo! Eu fiz chá pra ela e contei história de fada antes dela dormir! — disse tudo num fôlego só, abraçando Stephano pelas pernas.

Ele se abaixou, rindo.

Capítulo 135 - Um Médico, Um Silêncio e Um Coração em Suspenso 1

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