O portão de ferro começou a se abrir com a lentidão majestosa de quem reconhece, no som metálico das engrenagens, o retorno de quem pertence àquele lugar. Cada estalo, cada ranger grave ecoava como um anúncio solene: eles voltaram. Do lado de dentro, a estrada de pedras se estendia como um tapete antigo, ladeada por jardins impecavelmente aparados e árvores centenárias que, imóveis, pareciam guardar segredos de gerações. Era como se aquelas raízes profundas reconhecessem os passos que estavam prestes a atravessar novamente o coração da propriedade.
O sol da tarde, já se despedindo, derramava pinceladas de dourado e cobre sobre o céu, tingindo de calor e nostalgia cada canto da paisagem. Os raios filtravam-se por entre as copas das árvores, criando desenhos efêmeros sobre o chão de pedras. Um vento suave carregava o perfume familiar de terra úmida, flores e história — um cheiro que não se sente em qualquer lugar, apenas no lar.
O carro preto avançava pela alameda com um deslizar quase cerimonioso, como se respeitasse a importância daquele momento. No banco de trás, Aurora não parava quieta. Os olhos grandes refletiam a luz do entardecer, e suas mãos pequenas tamborilavam no vidro, ansiosas. O nariz quase colado na janela denunciava que ela não queria perder nada: cada galho, cada flor, cada curva da estrada. Quando a casa apareceu por inteiro, majestosa e imponente, o queixo dela caiu como se estivesse diante de um palácio encantado.
— Olha, papai! Continua enorme! — a voz dela vibrou, o corpo inclinando-se para frente com a excitação pura e genuína de uma criança.
Lorenzo, ao volante, captou o reflexo da filha pelo retrovisor. Um sorriso se desenhou em seus lábios, mas não foi apenas um gesto de aprovação — havia ali um alívio silencioso, um orgulho contido, a sensação de que, depois de tanto tempo e tantas ausências, ele estava trazendo sua família de volta ao lugar a que pertenciam.
— Sim, minha princesa… e agora é o nosso lar outra vez.
Aurora, no entanto, não se conteve. Começou a pular no banco, fazendo seus cachos dourados dançarem junto com a risada que enchia o carro de vida. Isabella, sentada ao lado, segurava firme a mãozinha da menina, tentando evitar que ela se desequilibrasse.
— Aurora, cuidado… — disse entre risos. — Vamos chegar em dois minutos.
— Dois minutos é muito tempo! — reclamou a pequena, com a lógica impaciente que só as crianças têm.
Lá fora, no topo da escadaria de pedra, três figuras aguardavam. Antonella estava no centro, impecável como sempre — vestido de linho creme, colar de pérolas, cabelos loiros presos num coque elegante que não deixava escapar um único fio. À esquerda, Maria exibia seu sorriso acolhedor e caloroso; à direita, Giulia mantinha uma postura descontraída, mas com os olhos atentos a cada detalhe.
O carro parou, e antes que Lorenzo desligasse o motor, Aurora já puxava a maçaneta para se libertar. As sapatilhas dela batiam nas pedras com pressa, ecoando como música.
— VOVÓ ANTONELLA! — gritou, abrindo os braços enquanto corria.
Antonella não esperou — desceu dois degraus com um vigor que não condizia com sua idade e abraçou a neta no ar, erguendo-a com facilidade.
— Ah, meu amor… estava morrendo de saudade de você! — sussurrou, cobrindo o rosto dela de beijos. — E esses cachinhos? Mais dourados ainda… minha princesa cresceu!
Aurora riu e escondeu o rosto no pescoço da avó, como se quisesse prolongar aquele abraço para sempre.
Maria, ao lado, observava com ternura. Giulia, porém, percebeu algo mais. Seu olhar desviou para o carro. Lorenzo acabava de sair, e não estava sozinho. Isabella caminhava ao lado dele — passos contidos, mas firmes. E havia um detalhe impossível de ignorar: os dedos dos dois estavam entrelaçados.
Giulia não se surpreendia facilmente, mas aquilo… aquilo era novo. O irmão, que por tanto tempo carregara nos olhos uma sombra de vazio, agora tinha o olhar vivo, queimando com uma intensidade que ela não lembrava de ter visto antes.
Quando os dois se aproximaram, Giulia cruzou os braços com um meio sorriso que mesclava provocação e aprovação.


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