O mundo pareceu silenciar por um instante. O burburinho ao redor, as vozes distantes, até o som ritmado dos passos no mármore… tudo se apagou quando Isabella sentiu os dedos pequenos se entrelaçarem aos seus. Era um toque firme, urgente, como se aquela mãozinha fosse um elo que não poderia, nem deveria ser rompido.
Aurora estava ali, com os olhos grandes e brilhantes voltados para ela com uma confiança absoluta, como se não houvesse a menor possibilidade de Isabella soltá-la. Segurava sua mão com a força de quem tem medo de perder algo precioso, mas com a naturalidade de quem acredita que aquilo sempre foi seu por direito.
— Vamos, mamãe… — disse, com a inocência pura que só uma criança podia ter, sem imaginar que aquela palavra tinha o poder de virar o mundo de Isabella de cabeça para baixo.
O coração dela disparou. Não apenas pela palavra em si, mas pelo jeito como Aurora a olhava, como se fosse óbvio, como se sempre tivesse sido assim, como se Isabella já tivesse um lugar definitivo naquela história muito antes de perceber que estava nela.
Giulia, sentada no sofá, observava a cena com um misto de encanto e incredulidade.
— Meu Deus… — pensou, apertando os lábios para segurar um sorriso. — Eu não poderia estar mais feliz!
— Aurora… — Isabella começou, com a voz suave, agachando-se para ficar na altura dela. — Tem certeza que quer me chamar assim?
— Claro! — respondeu a menina, com uma convicção que não deixava espaço para discussão. — Você cuida de mim tia Isa, me acorda com café da manhã, conta histórias, beija minha testa antes de dormir, ama meu papai e me ama de verdade. Isso é tudo o que uma mamãe faz.
Aquela resposta simples e direta fez um nó se formar na garganta de Isabella. Ela engoliu o choro que ameaçava subir, acariciou o rosto delicado da menina e sorriu, mas o brilho nos olhos denunciava a emoção.
— Eu te amo tanto minha bonequinha…
— Eu também te amo, minha mamãe.
Aurora se jogou nos braços de Isabella que a embalou com ternura.
Lorenzo, até então em silêncio, assistia à cena encostado na lateral do sofá. O terno impecável, a postura ereta, o olhar… ah, aquele olhar. Não era apenas de ternura pelo jeito como Isabella e Aurora se conectavam, havia ali um traço de posse, de satisfação, de um homem que via seu mundo finalmente tomando forma.
— Vai com ela, Isa… — disse ele, com a voz grave e carregada de uma doçura rara. — Mas não demorem muito.
— Vai querer ver as flores também? — Isabella arriscou perguntar.
Ele fez uma pausa, como se considerasse a ideia, mas depois deu um meio sorriso.
— Se eu for, não vou conseguir ir para a reunião. — E então, num tom baixo e firme, acrescentou: — E você sabe que não é só por causa das flores.
Giulia soltou um risinho debochado e Isabella corou.
— Olha, se continuar assim, a reunião vai ter que esperar mesmo. — respondeu Giulia maliciosa.
Lorenzo lançou um olhar rápido e quase divertido para a irmã, mas logo voltou a se concentrar em Isabella. Ele se aproximou, e o som controlado dos passos fez Isabella sentir aquele frio na barriga familiar. Parou diante dela, ignorando que Giulia observava cada movimento, e passou os dedos pelas costas da mão que Aurora segurava.
— Cuide da nossa princesa… e de você. — disse, num tom que fez o “nossa” soar mais carregado de significado do que qualquer declaração formal.
E, antes de se afastar, inclinou-se novamente, tocando os lábios nos de Isabella, desta vez com mais lentidão, como se quisesse deixar o sabor e a lembrança com ela até sua volta. O beijo foi suave, mas o suficiente para fazê-la esquecer por um instante que estavam na frente de Giulia e da própria filha.


VERIFYCAPTCHA_LABEL
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar