Lorenzo permaneceu ajoelhado diante da lápide por mais alguns instantes, deixando que o vento levasse às últimas palavras que ficaram presas na garganta. Quando finalmente se ergueu, ajeitou o casaco sobre os ombros como se quisesse se proteger não apenas do frio, mas de tudo o que aquela visita tinha mexido dentro dele. Passou a mão pelo rosto, afastando as lágrimas, mas sem se envergonhar delas. Respirou fundo, como se aquele ar frio que entrava nos pulmões fosse um novo fôlego para seguir em frente.
Antes de dar as costas ao túmulo, passou a mão pela lápide mais uma vez, em um gesto silencioso de despedida.
Ao se virar, viu James esperando do lado de fora do portão do cemitério, de pé, ao lado do carro preto.
O caminho de volta até o carro pareceu mais longo do que o de ida. Cada passo ecoava no cascalho como se marcasse o fim de um ciclo que ele nunca tinha permitido encerrar. Aquele era um lugar que sempre o prendia, e, pela primeira vez em anos, ele sentia que estava sendo solto.
O motorista não disse nada, apenas abriu a porta traseira e aguardou. Ele não entrou de imediato. Ficou parado por um instante, com as mãos apoiadas no teto, respirando fundo, deixando que o ar frio lavasse um pouco da quentura das lágrimas ainda presas aos olhos.
A viagem de volta foi silenciosa. A estrada, ladeada por árvores de galhos nus, passava diante dele como um filme lento, mas a mente estava distante. Ele não pensava em negócios, não pensava nas reuniões da semana, nem mesmo no peso das responsabilidades. Tudo nele estava voltado para duas imagens: A primeira, era o rosto sereno de Letícia na sua memória, e a lembrança daquele toque singelo no seu rosto, como um beijo que dizia: Seja feliz. E a segunda: O sorriso vivo de Isabella no presente.
A cidade passava pela janela como um filme em tons de cinza, mas algo dentro de Lorenzo estava diferente. Quando o carro entrou pelo portão da mansão, as luzes já estavam acesas. O calor dourado que escapava das janelas contrastava com a noite fria lá fora. Lorenzo agradeceu a James com um breve aceno e entrou, sentindo o cheiro familiar de casa misturado ao perfume leve de flores frescas que Antonella sempre mantinha no hall.
A mansão estava tranquila, mas não silenciosa. De algum lugar no andar de cima, vinham risadas claras e alegres, acompanhadas pelo som de água sendo agitada. Ele subiu as escadas devagar, guiado por aquela música viva.
Parou diante da porta entreaberta do quarto de Aurora. Espiou e encontrou uma cena que fez o coração aquecer dentro do peito.
Aurora estava sentada na banheira, cercada por espuma e brinquedos coloridos, os cabelos molhados formando cachos grudados na testa. Isabella, ajoelhada ao lado, ria alto enquanto recebia um jato de água jogado de propósito pela menina. As mangas da blusa estavam arregaçadas, o cabelo preso de qualquer jeito, e algumas mechas úmidas caíam soltas sobre o rosto.
— Mamãe, olha! — Aurora jogou um punhado de espuma para o alto, que caiu sobre as duas, arrancando gargalhadas ainda mais fortes.
Lorenzo ficou parado ali, sem querer interromper. Apenas observou. Sentiu algo quente e profundo se espalhar pelo peito, uma mistura de alívio, amor e gratidão. Aquela imagem de sua filha sorrindo como há muito não via, Isabella tão à vontade e feliz, era a prova de que a vida, de algum jeito, estava lhe devolvendo o que havia tirado.
Não conseguiu evitar o sorriso que surgiu. Aquilo tinha algo de hipnótico. Isabella, com aquela paciência natural, parecia ter nascido para aquele papel. O jeito como ela falava com Aurora, como tocava os cabelos molhados com cuidado, como sorria… era tudo tão harmonioso que Lorenzo se sentia em paz apenas observando.
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