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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 156

O céu daquele final de manhã tinha uma luminosidade suave, filtrada por nuvens claras que pareciam algodão estendido sobre o azul pálido. O vento soprava leve, apenas o suficiente para bagunçar alguns fios do cabelo de Isabella, que caíam sobre o rosto e balançavam com graça a cada passo. Ao lado dela, Aurora caminhava saltitante, a mochila cor-de-rosa pendendo de um ombro minúsculo.

— E hoje a professora disse que a gente vai plantar sementinhas no pátio, mamãe! — a pequena anunciou, com os olhos azuis brilhando de expectativa. Isabella sorriu, apertando levemente a mão da menina.

— Então vai ter que cuidar muito bem delas, minha princesa. As plantas crescem mais bonitas quando recebem carinho.

Aurora assentiu com convicção, como se tivesse acabado de assumir uma missão muito importante.

Ao chegarem à porta da escola, a garotinha se virou para dar um abraço apertado na babá.

— Tchau, mamãe! Te amo! — disse, antes de correr com passos rápidos para encontrar as amigas.

— Também te amo, meu amor. — Isabella respondeu, com a voz carregada de ternura, observando a pequena desaparecer pelo corredor movimentado.

Virou-se para seguir de volta para casa, sentindo o coração aquecido por aquele afeto genuíno. A rua estava tranquila, o sol tímido refletia nas vitrines, e o som distante de um vendedor ambulante anunciando seus produtos se misturava ao murmúrio da cidade despertando. Sorriu ao imaginar que Lorenzo a questionaria mais tarde por ter dispensado o motorista, mas Isabella adorava caminhar e o ar fresco fazia bem, tanto a ela, quanto a Aurora. Sorriu e levou a mão ao ventre sussurrando:

— Acho que vou aproveitar e ir no consultório do doutor Stephano para ter certeza que você está bem meu amor.

Tudo parecia calmo… até que, ao virar uma esquina, Isabella quase trombou com uma figura que lhe gelou o sangue.

Era impossível não reconhecer aquele olhar frio, calculista, cheio de uma hostilidade disfarçada por um sorriso meloso.

— Ora, ora… se não é a protegida de Lorenzo. — disse Vereda, com a voz aveludada, mas com farpas escondidas. — Ou será que devo dizer… mais uma distração temporária?

Isabella conteve o impulso de revirar os olhos. Manteve o queixo erguido, e olhando nos olhos castanhos da mulher, reverberou:

— Não tenho tempo para joguinhos, Vereda. — respondeu, tentando seguir adiante.

A outra, porém, deu um passo à frente, bloqueando a passagem como uma barreira intransponível.

— Claro que não tem… Está ocupada demais fingindo que pertence a um mundo que não é seu. — O sorriso dela era afiado como lâmina. — Você realmente acha que pode substituir a mãe da menina? Que pode entrar na vida dele como se fosse… indispensável?

O ar entre elas parecia ganhar peso. Isabella inspirou fundo, mantendo o olhar fixo, recusando-se a mostrar fraqueza.

— Não preciso provar nada para você.

— Não… mas deveria — Vereda inclinou-se perigosamente para mais perto. — Porque quando Lorenzo se cansar, e ele sempre se cansa, vai sobrar para você lidar com o vazio. E, acredite, querida… você não vai gostar.

Um calor subiu pelo rosto de Isabella, não de vergonha, mas de raiva. Vereda achava que conhecia Lorenzo, mas na verdade, ela não sabia nada sobre ele. Respirou fundo, mas não desviou o olhar, iria mostrar para Vereda que ela poderia ser jovem, mas sabia muito bem se defender.

— Engraçado você falar em distrações, Vereda… porque todo mundo sabe que você é uma mulher frustrada. — Sua voz saiu firme, cortante. — Frustrada por nunca ter conseguido o amor de Lorenzo.

O sorriso de Vereda vacilou, mas Isabella não parou.

— Ele escolheu Letícia no passado, e agora… escolhe a mim. Uma garota pobre, do interior, que talvez não tenha os seus vestidos caros nem a sua futilidade, mas que tem algo que você nunca vai ter.

E Vereda?

Ela não se moveu. Não fez menção de se aproximar. Apenas observou por um instante, e um sorriso lento e cruel se desenhou nos seus lábios. Não era um sorriso de triunfo, mas de satisfação como quem vê um plano ser executado exatamente como imaginou.

Deu um último olhar para Isabella, caída no asfalto, a mão ainda sobre o ventre, o corpo trêmulo e o sangue manchando o chão. Depois, girou nos calcanhares e começou a se afastar. Cada passo parecia calculado, deliberado, como se quisesse que todos vissem que não estava com pressa.

Ao longe, o som de uma sirene começou a se aproximar, mas Vereda não olhou para trás. Mergulhou na esquina seguinte e desapareceu, deixando para trás um rastro invisível de veneno.

Isabella permaneceu imóvel, cada segundo se arrastando como uma eternidade. O frio áspero do asfalto queimava contra sua pele, contrastando com o calor pegajoso do sangue que se espalhava lentamente, colando-se à roupa e à pele como um lembrete cruel de que algo estava muito errado.

As vozes ao redor ecoavam distantes, fragmentadas, como se viessem de um mundo ao qual ela já não pertencia. Rostos desconhecidos surgiam e desapareciam diante de sua visão turva, transformando-se em borrões instáveis que não conseguiam prender sua atenção.

E, no meio daquele turbilhão, o pensamento que rasgou sua mente não foi sobre a dor, mas sobre a perda. Primeiro, Aurora… o medo insuportável de não ver de novo aquele sorriso, de não ouvir sua risada solta correndo pelo jardim, de não sentir mais o abraço apertado da menina chamando-a de “mamãe”.

Mas o medo não parou aí.

Uma onda gélida atravessou seu peito quando a imagem de Lorenzo surgiu em sua mente, o olhar firme, as mãos quentes segurando as dela, o jeito como seu nome soava diferente na voz dele. E se ela nunca mais o visse? E se aquelas fossem as últimas horas, os últimos minutos, sem a chance de dizer tudo o que sentia?

Então, quase num instinto primal, sua mão apertou ainda mais o ventre. Um medo novo, cortante e desesperado se apoderou dela, o medo de perder o bebê que crescia ali, a vida que ela já amava antes mesmo de ouvir o primeiro choro. Uma sensação de impotência esmagadora tomou conta. Era como se estivesse sendo puxada para um lugar escuro e distante, e a cada respiração difícil, mais longe ela sentia que ficava das pessoas que mais importavam.

Entre o som distante das sirenes e os gritos de socorro, a única coisa que ela queria era resistir. Resistir por Aurora. Resistir por Lorenzo. Resistir pelo filho que carregava.

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