O corredor do pronto-socorro era um mundo à parte. A claridade branca das luzes fluorescentes refletia nas paredes lisas, quase ofuscante, criando um ambiente frio e impessoal. O cheiro de antisséptico impregnava o ar, misturado ao leve odor metálico que Lorenzo reconhecia bem demais. O cheiro de sangue. Ao fundo, havia um constante zumbido, o vaivém de passos apressados, portas batendo, vozes chamando por médicos, o som seco de pranchetas sendo batidas contra balcões. Tudo se misturava, compondo uma sinfonia caótica que apertava o peito e acelerava a respiração.
A porta automática se abriu com um rangido rápido, e Lorenzo entrou quase arrombando-a, como se nada pudesse ou devesse retardá-lo. Marco vinha logo atrás, apressando-se para acompanhá-lo, mas era evidente que, para Lorenzo, o mundo havia se reduzido a uma única prioridade: encontrar Isabella.
O rosto dele estava contraído, os traços tensos como se esculpidos pela urgência e pelo medo. Os olhos, de um azul intenso, faiscavam, não de raiva pura, mas de um desespero que queimava por dentro e ameaçava transbordar. A voz irrompeu do peito antes mesmo que ele percebesse que estava gritando:
— Onde ela está?!
O eco da pergunta ressoou pelo corredor, atraindo olhares de pacientes, visitantes e funcionários. Uma enfermeira, de jaleco claro e cabelos presos num coque impecável, ergueu o rosto de repente. A expressão dela mesclava surpresa e um traço de alerta, mas também havia algo de humano, uma compaixão discreta. Ela se aproximou, mantendo a postura profissional, e falou com cautela:
— O senhor é parente da paciente Isabella Fernandes?
— Eu sou o namorado dela! — a resposta foi imediata, quase um rugido. — Onde ela está? O que aconteceu?
Marco, que acompanhava cada gesto e cada palavra, tocou o ombro do amigo com firmeza, tentando evitar que a ansiedade transbordasse em algo pior.
— Lorenzo… respira. Vamos ouvir primeiro. — disse, com um tom calmo, quase paternal.
O corredor do pronto-socorro continuava tomado pelo cheiro de antisséptico e pela confusão organizada do atendimento de emergência. Lorenzo mal tinha terminado de falar com a enfermeira quando um som de passos apressados ecoou atrás dele.
Virou-se, e o que viu fez o peito se apertar. Antonella vinha pelo corredor, quase correndo, o rosto pálido e os olhos vermelhos de choro. Giulia estava logo atrás, segurando a bolsa contra o corpo como se fosse um escudo, mas com a respiração ofegante e o olhar inquieto. Ambas exalavam uma mistura de desespero e pressa, como se cada segundo fosse vital.
Antonella não hesitou. Assim que alcançou o filho, lançou-se nos braços dele, apertando-o com força. O perfume familiar da mãe o envolveu, mas não trouxe conforto, apenas a constatação de que todos ali estavam carregando o mesmo medo.
— Lorenzo… meu filho… — a voz dela quebrou no meio da frase, tomada por soluços. — Você já sabe de alguma coisa?
Ele balançou a cabeça, ainda sem conseguir formar palavras. Apenas fechou os olhos por um instante, sentindo o aperto dela como um ponto de ancoragem no meio do caos.
— E a Aurora?
— Ficou com Maria, mas não sabe de nada. Achamos melhor não dizer nada até sabermos de fato o que aconteceu.
Marco, percebendo o peso da cena, se afastou um passo e foi ao encontro de Giulia.
— Giulia — disse, tocando o braço dela de leve. — Ainda não sabemos de nada.
— Meu Deus… — Giulia levou a mão à boca, tentando controlar o tremor. — Eu não consigo acreditar nisso.
Enquanto mãe e filho ainda se mantinham abraçados, a enfermeira que já havia falado com Lorenzo aproximou-se novamente. A expressão dela continuava profissional, mas agora havia nos olhos um traço mais evidente de humanidade, um reconhecimento silencioso da dor que estava presenciando.
Antonella ainda segurava o braço do filho, como se temesse que ele fosse sair correndo dali para entrar à força na sala de trauma. Giulia observava a cena de perto, aflita, mordendo o lábio inferior e tentando conter as lágrimas que já ameaçavam escapar.


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