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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 166

Lorenzo Vellardi

O corredor cheira a antisséptico, mas, parado ali ao lado dela, tudo o que sinto é o perfume suave que escapa dos fios de cabelo espalhados pelo travesseiro. O monitor cardíaco marca um compasso que aprendi a acompanhar como se fosse uma canção e talvez por isso meus dedos tremiam quando seguro o celular.

Digito a mensagem com cuidado, avisando que já estou indo e que só preciso avisar a enfermeira. Guardo o aparelho no bolso, ajeito a coberta até o peito dela, deslizo a mão para afastar uma mecha rebelde de sua testa, um gesto simples, mas que aprendi a amar como quem aprende música. Então me inclino e a beijo mais uma vez, sussurrando:

— Eu volto em dois minutos, meu amor. — prometo, sentindo cada célula do meu corpo protestar contra a ideia de deixá-la, mesmo que por tão pouco tempo. — Minha mãe está aí, com certeza ela vai entrar para ver você.

Empurro a porta com cuidado. O corredor da UTI me recebe com seu frio de regra. É tudo limpo, liso, controlado e, ainda assim, tudo é frágil. O som muda quando a porta fecha atrás de mim. Dou dois passos e vejo minha mãe, em pé, com o terço enrolado como sempre entre os dedos, os olhos cansados porém firmes. Ao lado dela, Giulia, de braços cruzados, tentando parecer maior que o próprio medo. E então eu vejo o que me faz estancar.

Minha filha está ali, segurando uma caixa com as duas mãos, com as pernas ligeiramente abertas para dar equilíbrio ao corpo, como se o conteúdo exigisse uma postura especial. A caixa é simples, de papelão, coberta por um papel azul que eu reconheço da gaveta da sala. A tampa está decorada com adesivos, coraçõezinhos desenhados à mão, uma estrela meio torta que, justamente por estar torta, é perfeita. Pela borda que não fecha totalmente, eu vislumbro um guardanapo com manchas de manteiga, a ponta de uma tiara prateada, um pote com tampa que deve ser brigadeiro, e um desenho de nós três de mãos dadas e, dentro do contorno da barriga da figura do meio, um coração pequeno.

Meu corpo dá um passo para trás antes de dar dois para frente. É como se um elástico me puxasse dos extremos: parte de mim quer correr para abraçar, parte quer impedir que ela veja qualquer coisa que a machuque. Eu franzo a testa, não por raiva, mas por receio.

— Mãe… — digo, ainda a caminho, sem conseguir tirar os olhos da menina e da caixa. — O que vocês…

— Eu te mandei mensagem porque não queria te arrancar de lá sem aviso. — minha mãe responde, num tom que só as mães conhecem, aquele que mistura comando e colo. —, mas ela insistiu. Disse que precisava ver a Isa. Disse que tinha algo para entregar.

Paro diante delas.

O rosto de Aurora está sério de um jeito novo. Há lágrimas secas no canto dos olhos e, ainda assim, há luz. Ela ergue a caixa um pouco, como quem apresenta um presente importante numa cerimônia. Eu me abaixo de frente para ela. De perto, sinto o cheiro do açúcar no dedo que escapa da tampa do brigadeiro, e do seu perfume floral que tanto amo. Meu coração estremece dentro do peito, meu Deus, como eu amo minha filha e como estava sentindo falta dela.

— Papai… — ela diz, firme, e eu não consigo evitar que uma lágrima caia dos meus olhos. —, eu sonhei com a mamãe Letícia. Ela me disse que a mamãe Isa vai ficar bem. Que eu preciso falar com ela. E que eu tenho que cuidar do Benjamim. — Ela respira, como quem se prepara para o último passo. — Eu trouxe a caixa de coragem.

Capítulo 166 - Um Amor Puro 1

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