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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 17

O aroma de pão fresco e frutas cítricas invadia sutilmente o salão de refeições naquela manhã. A mesa de café da manhã estava posta com a precisão quase militar de Marta, a governanta. Louças de porcelana fina, talheres de prata e taças de suco recém-espremido. Tudo impecável e silencioso como sempre.

Mas havia algo diferente no ar.

Aurora correu até a mesa com passos animados, o vestido florido balançando ao redor das pernas finas. As flores rosadas e amarelas dançavam com ela, emoldurando o sorriso que não escondia nada: era puro, era livre, era raro.

— Isa! — chamou, de pé na cadeira, acenando para o corredor.

Isabella apareceu em seguida, com um vestido leve em tons de creme, o cabelo preso em um coque solto, e os olhos ainda carregados pela noite curta. Mas ao ver Aurora, sorriu.

Um sorriso verdadeiro.

— Que princesa linda é essa sentada aí? — disse Isabella, aproximando-se com calma.

— Sou eu! — Aurora respondeu com orgulho. — E você é minha dama de companhia, tá bom?

Isabella riu, curvando-se como se fizesse uma reverência.

— Será uma honra servir à sua majestade.

Antonella, sentada na ponta da mesa, observava tudo com os olhos brilhando. Era como assistir uma flor desabrochar após uma longa temporada de inverno.

— Ela pediu para usar esse vestido hoje — comentou com suavidade. — Disse que era um dia especial. Não soube dizer por quê… mas acho que entendo.

Aurora esticou os bracinhos, puxando Isabella para se sentar ao lado.

— Hoje você vai passear comigo no jardim, né? A gente vai correr… e eu vou te mostrar onde as borboletas dormem!

— Elas dormem? — Isabella fingiu surpresa.

— Claro que sim! — Aurora respondeu com a seriedade infantil. — Eu vi! Elas ficam bem quietinhas debaixo da flor amarela do canto.

Isabella sorriu e apertou de leve a mão da menina.

— Então hoje é dia de caçar borboletas adormecidas. Já estou animada.

— Mas primeiro precisa comer! — Aurora declarou, pegando um pedaço de melão e estendendo para Isabella. — Você gosta de melão?

— Gosto sim, obrigada.

Antonella riu baixinho, encantada com a cena. Lorenzo, por outro lado, ainda não havia descido. Isabella tinha conversado um pouco com Marta e descobriu que ele evitava o café da manhã com a filha, que seus encontros eram breves, sempre formais e distantes demais. Mas naquela manhã, com a leveza no ar, parte dela desejou que ele estivesse ali, para ver.

Como se o pensamento o tivesse invocado, passos ecoaram no mármore do corredor.

Ele surgiu na porta com o paletó ainda sobre o braço, os botões da camisa escura recém-abotoados e o cabelo levemente úmido. Havia sempre algo perfeitamente controlado em Lorenzo Vellardi, como se até o desespero tivesse que vestir terno e gravata ao seu comando.

— Bom dia. — disse ele, com a voz firme, e os olhos brevemente sobre Isabella e depois fixos em Aurora.

A menina se levantou de súbito.

— Papai! Olha meu vestido! É cheio de flor! A Isa disse que eu tô parecendo uma princesa!

Ele sorriu. de maneira sutil, quase imperceptível.

— Está linda.

Aurora voltou a sentar, satisfeita com a aprovação.

Lorenzo caminhou até a cabeceira da mesa. Passou os olhos pelos itens organizados e pegou apenas uma xícara de café sem açúcar.

Lorenzo não disse mais nada. Terminou o café em silêncio, colocou o paletó e, antes de sair, subiu as escadas. Antonella observava a neta sair de mãos dadas com a babá sentindo o coração aquecido e os olhos marejados.

Quando chegou ao quarto, Lorenzo pegou o celular que estava na mesa de cabeceira e antes de sair do quarto, algo o fez parar diante da janela do quarto.

O jardim lá embaixo era um recorte verde perfeito, com flores simétricas e caminhos milimetricamente traçados. Um lugar belo demais para esconder tanta dor. E ainda assim, naquele instante, havia algo diferente ali.

Aurora corria, o vestido florido girando no ar como um campo em movimento. Isabella vinha logo atrás, imitando passos largos e desajeitados para fazê-la rir ainda mais. As gargalhadas da menina subiam como sinos ao vento: leves, sinceras, altas.

O som do riso infantil preencheu o espaço vazio da manhã, e Lorenzo… ficou parado, incapaz de desviar os olhos.

Isabella segurava a mão de Aurora, e as duas se jogaram na grama em uma queda teatral. A menina gargalhava como se estivesse se libertando de dentro da própria alma, e Isabella a acompanhava, deitada ao lado, apontando para uma borboleta que acabara de pousar sobre uma flor amarela.

Lorenzo encostou a mão no batente da janela.

Havia algo errado naquele instante. Errado… porque parecia certo demais. Certo demais para alguém como ele. Para alguém que já enterrou todas as partes doces da vida junto com o amor da sua vida.

Mas ali estavam elas.

A filha, rindo.

A babá, sorrindo.

O jardim, vivo.

Ele apertou os olhos por um segundo e respirou fundo.

O tempo parecia ter parado, mas lá fora… o mundo girava. E ele não sabia se estava pronto para voltar a girar com ele.

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