Alguns dias tinham passado depois do casamento de Lorenzo e Isabella. Dona Flora e Beatriz, resolveram ficar na mansão dos Vellardi até Isabella dar à luz. A tarde caía lentamente, tingindo o céu com tons alaranjados que refletiam nos vidros altos do café onde Beatriz e o doutor Stefano haviam combinado de se encontrar. O ambiente era aconchegante, mesas de madeira clara, plantas penduradas no teto, uma música baixa ao fundo e o aroma de café recém-passado misturado ao doce perfume de baunilha dos bolos expostos no balcão.
Beatriz chegou alguns minutos antes, como de costume. Vestia um vestido leve, floral, que realçava o tom quente da sua pele e deixava os ombros à mostra. O cabelo solto caía em ondas, e os lábios carregavam um sorriso fácil, daqueles que pareciam iluminar qualquer lugar.
Ela respirou fundo, ajeitando a alça da bolsa no ombro, e olhou em volta, procurando um lugar perto da janela. Escolheu uma mesa discreta, mas com boa vista do movimento da rua. Enquanto esperava, tamborilava os dedos sobre o tampo da mesa, tentando disfarçar a própria ansiedade.
E foi então que o viu.
Stefano atravessava a rua com passos longos e decididos, mas qualquer um que o conhecesse um pouco mais perceberia que, por trás daquela postura impecável de médico, ele estava nervoso. O paletó azul-marinho estava perfeitamente alinhado, a camisa branca impecável e a gravata ajustada com precisão quase cirúrgica. Ele segurava uma pasta de couro na mão esquerda e, na direita, o celular, como se tivesse ensaiado o que dizer durante todo o caminho.
Quando entrou no café, os olhos dele a encontraram imediatamente e por um instante, Stefano sentiu o mundo dar uma leve pausa.
— Doutor pontualidade… — murmurou Beatriz, com um sorriso divertido, quando ele se aproximou.
Ele parou diante dela, pigarreou, e respondeu com uma expressão que mesclava nervosismo e charme contido:
— Não quis dar a chance de você desistir de mim antes de começarmos.
Beatriz riu, cruzando as pernas com elegância.
— Não se preocupe, doutor… — ela baixou o tom da voz, provocando-o de leve — se eu quisesse desistir, não teria aceitado esse encontro.
Ele ergueu uma sobrancelha, sentando-se à frente dela.
— Fico feliz então que tenha aceitado. — Stefano apoiou o cotovelo na mesa, forçando um ar sério, mas os cantos dos lábios denunciaram um quase sorriso.
Beatriz sacudiu a cabeça, divertida, e chamou o garçom com um gesto delicado.
— Eu pedi um cappuccino pra mim, mas se quiser posso mudar o pedido. — disse ela, olhando para o cardápio. — Ou você é daqueles que precisa de um café puro, forte, amargo… igual à vida?
Ele se inclinou um pouco para frente, abrindo um leve sorriso:
— Forte, sim. Amargo, só às vezes. Mas confesso que não recuso um cappuccino… desde que venha com chantilly.
Beatriz soltou uma risadinha, fingindo espanto.
— Ah, então temos um rebelde entre nós. Um médico que vive de salada e whey protein pedindo chantilly? Isso, doutor Stefano, eu preciso ver.
Ele pousou o olhar sobre ela, e por um instante, esqueceu o que ia responder. Havia algo na forma como Beatriz sorria que o desarmava completamente. Stefano sempre foi controlado, racional, analítico, mas com ela, parecia perder um pouco do compasso. Respirou fundo, tentando retomar o eixo.
— Digamos que… — ele ajeitou a gravata com a ponta dos dedos — hoje eu abro uma exceção.
— Bom saber. — Beatriz apoiou o queixo nas mãos, olhando para ele de forma estudada. — Porque eu já estava pensando que esse encontro ia ser cheio de protocolos médicos: “não coma isso”, “beba mais água”, “evite açúcar”…
Ele arqueou uma sobrancelha:
— Eu até poderia… mas prefiro ver o que acontece quando você me desafia.
Beatriz inclinou a cabeça, mordendo levemente o lábio inferior, divertida.
— Hm… perigoso, doutor. Muito perigoso.
Quando os cafés chegaram, a conversa fluiu com mais naturalidade. Eles falaram sobre música, viagens, livros… até que o nome de Lorenzo surgiu, trazendo um novo brilho aos olhos de Stefano.
— Então… — começou Beatriz, mexendo o cappuccino com a colher — Isa me falou que você esta acompanhando a gestação dela.
Stefano sorriu de lado, encostando-se na cadeira.
— Sim. Faço questão de trazer o Benjamim ao mundo. Sabe, conheco Lorenzo desde quando Leticia era viva, e depois que ela se foi, eu presenciei um bom homem perder o brilho e deixar de viver.

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