A noite desceu sobre a fazenda como um cobertor imenso de veludo azul-escuro. O céu, salpicado de estrelas, parecia observar em silêncio o que estava prestes a acontecer entre aquelas paredes carregadas de expectativa. O vento atravessava as árvores, arrastando folhas, trazendo consigo o cheiro fresco da terra úmida, como se a própria natureza respirasse em uníssono, consciente de que uma nova vida estava prestes a chegar.
Dentro do quarto de Isabella, o tempo parecia seguir um compasso diferente. Cada contração que a atingia era como uma onda quebrando contra rochedos firmes, avisando, sem suavidade, que o momento estava cada vez mais próximo. No início vinham leves, espaçadas, quase tímidas, como se testassem sua resistência. Mas logo se tornavam firmes, intensas e poderosas. Isabella levava as mãos ao ventre instintivamente, como se pudesse segurar aquele pequeno ser por mais um instante, ao mesmo tempo em que, silenciosamente, conversava com ele. Cada toque era um chamado, um sussurro mudo: “vem, meu amor, o mundo te espera”.
Lorenzo, incapaz de se conter, andava de um lado para o outro. Seus passos ecoavam pelo quarto como batidas de tambor. Ele ajeitava os travesseiros, dobrava lençóis, verificava a manta no berço repetidas vezes, enchia a jarra d’água mesmo sem necessidade. Não conseguia ficar parado. O coração batia acelerado, um misto de medo e ansiedade. Quando percebeu que a respiração de Isabella havia mudado de ritmo, estava mais curta e mais pesada, correu imediatamente para o lado da cama, oferecendo-lhe a mão com um gesto firme e decidido.
— Eu estou aqui com você meu amor. Em cada segundo. — murmurou, com sua voz grave embargada pela emoção, apertando delicadamente os dedos dela.
Isabella sorriu através da dor, um sorriso breve, frágil, mas carregado de confiança. Os olhos dela, marejados, transmitiam um amor profundo, ainda mais forte que a dor que a atravessava. No quarto ao lado, Aurora dormia tranquilamente, sob os cuidados atentos de Dona Flora. Eles haviam decidido que a menina não deveria presenciar aquele momento, não por medo, mas porque queriam que ela visse apenas o resultado: o irmãozinho nos braços da mãe. Ainda assim, o ar parecia vibrar com a mistura de tensão e esperança que preenchia cada canto da casa.
De repente, a memória atingiu Lorenzo como uma onda. Ele não conseguiu evitar: voltou no tempo, para um quarto branco, iluminado demais, impregnado de cheiro de hospital. Lá estava Letícia, sua primeira esposa, deitada, suada, mas sorridente, segurando firme sua mão. O rosto dela resplandecia a mesma força que ele agora via em Isabella. E ele ouviu, tão claro quanto naquele dia: “Vai dar tudo certo, amor”. Poucos segundos depois, o choro de Aurora preencheu o ar. O coração dele se apertou, mas não em dor como antes. Era calor. Era vida lembrando que estava sempre presente, em diferentes formas.
O barulho da caminhonete do doutor Stephano atravessou o silêncio da noite, trazendo Lorenzo de volta para aquele quarto. Os faróis cortaram o escuro por alguns instantes. Ele entrou no quarto com passos firmes, jaleco semiaberto, gravata afrouxada, o olhar ao mesmo tempo técnico e emocionado. Trazia consigo a enfermeira e o material necessário. Ao ver Isabella, piscou-lhe com cumplicidade.
— Vamos conhecer o Benjamin hoje, não é? — disse, com um sorriso confiante.
O nome já carregava uma história especial. Aurora foi quem escolheu. Quando Isabella estava em coma, a menina acordou radiante, com os olhos brilhando, e contou que havia sonhado com a mamãe Letícia. No sonho, Letícia sorria e dizia: “O nome dele será Benjamin. É forte e doce, como seu pai e Isabella”. Depois que Isabella acordou e que tudo estava em paz, Lorenzo, curioso, perguntou à filha o porquê do nome, Benjamim. Quando Aurora terminou de contar, Lorenzo sentiu as pernas falharem, e Isabella chorou em silêncio. Ambos entenderam de imediato que era um presente vindo de um lugar de amor que jamais se apagaria. E assim o nome se firmou, abençoado pela inocência da filha e pela memória da mãe que partiu.
A madrugada avançou, e com ela o trabalho de parto. O doutor verificava a dilatação, escutava os batimentos do bebê e dava instruções calmas. A enfermeira preparava toalhas limpas, organizava instrumentos. Dona Flora surgia e sumia, trazendo chá de capim-cidreira que espalhava um aroma acolhedor. Maria cuidava da janela, controlando a entrada de ar fresco para não causar desconforto. Antonella permanecia ao lado de Isabella, afagando os cabelos da nora e dizendo palavras de conforto. O quarto, apesar da tensão, estava cheio de carinho e cuidado.
— Respira fundo comigo, Isa. Agora solta devagar… isso. — Lorenzo repetia, como um mantra, mantendo os olhos fixos nela.
As contrações vinham cada vez mais fortes. Isabella mergulhava na dor e emergia nos intervalos como quem respira depois de atravessar ondas. Em cada pausa, apoiava a testa no ombro de Lorenzo. Ele, sem pensar, beijava seus cabelos, murmurando baixinho:


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