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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 189

Lorenzo manteve-se ao lado de Isabella como se sua própria vida dependesse disso. Estava ali não apenas como marido, mas como porto, rocha e abrigo. Cada respiração dela parecia ser a sua própria, cada gemido rasgava-lhe o peito como se fosse dele. O quarto inteiro reduziu-se a uma sinfonia de sons primordiais: o ar entrando e saindo em ofegos, o suor escorrendo, o bater compassado dos corações, a força ancestral da mulher e o amor que preenchia o espaço como uma energia palpável.

Isabella gemeu alto, um som que não pertencia apenas a ela, mas a todas as mulheres que já tinham parido antes, como se carregasse a voz de gerações. Era um grito de vida, cru e verdadeiro, que arrepiou a espinha de todos os presentes. Lorenzo segurou firme sua mão, beijou-lhe os cabelos colados de suor e murmurou em seu ouvido, a voz trêmula de emoção e desespero contido:

— Vai, meu amor… estou com você… você é a minha força.

— Isso, Isabella! Mais uma vez! — encorajou doutor Stephano, com a voz firme mas embargada, carregada de emoção. — Já consigo ver, só mais um pouco!

O tempo pareceu parar.

O ar no quarto ficou denso, pesado, e cada segundo parecia durar uma eternidade. Lorenzo sentia que o mundo inteiro prendia a respiração com eles. Então, de repente, como se o universo inteiro se abrisse em claridade, um choro forte e vigoroso rompeu o silêncio. O som cortou o ar como uma explosão de luz invisível, vivo e vibrante, preenchendo cada canto do quarto. Era o som mais lindo que Lorenzo já ouvira em toda a sua vida.

Ele levou as mãos ao rosto, incapaz de conter as lágrimas que escorriam em cascata. Seu corpo inteiro tremeu. Isabella soluçou, um soluço cheio de alegria e alívio, fechando os olhos por um instante como se quisesse guardar para sempre aquele som dentro da alma.

— É um menino lindo e saudável! — anunciou doutor Stephano, sorrindo com o rosto iluminado, como se fosse ele mesmo o pai.

Antonella limpou o neto com delicadeza, embrulhou-o em panos macios e o entregou a Isabella. Ela o recebeu com braços trêmulos, mas cheios de amor e instinto materno. O bebê chorava, mas assim que sentiu o calor do colo da mãe, o som foi diminuindo, transformando-se em pequenos resmungos até se calar. Respirava agora devagar, como se reconhecesse o aconchego de onde viera.

Isabella deixou escapar um riso choroso, o coração disparado, as lágrimas caindo pelo rosto. Aproximou os lábios do bebê e sussurrou com a voz mais doce que já teve em toda sua vida:

— Oi, meu amor… oi, Benjamin. Você chegou, meu filho.

Lorenzo, ainda incrédulo, inclinou-se sobre ela e tocou os fios loiros ainda úmidos da criança. Seus dedos tremeram. Ele não acreditava no que via. Um loiro tão claro, tão luminoso, que parecia feito de raios de sol. E então, por um instante, os olhinhos se abriram, revelando um verde intenso, profundo, idêntico ao de Isabella. O coração de Lorenzo se contraiu de forma quase dolorosa.

— Ele tem os seus olhos… — murmurou, a voz embargada, como se cada palavra fosse arrancada do fundo da alma.

Doutor Stephano aproximou-se para fazer as avaliações. Mediu batimentos, reflexos, verificou a respiração, contou os dedinhos minúsculos. Tudo estava perfeito. O médico, homem acostumado a lidar com a chegada da vida, não conteve a emoção. Seus olhos marejaram e ele precisou limpar discretamente uma lágrima antes de falar:

— Vocês sempre me fazem chorar… parabéns, papai, mamãe. Ele é perfeito.

Depois de alguns instantes, Stephano pediu para segurá-lo. Tomou Benjamin nos braços com delicadeza, como quem segura um tesouro raro. Olhou para o bebê e balançou a cabeça, sorrindo.

— Que bênção. — sussurrou, antes de devolvê-lo ao pai.

Lorenzo estendeu os braços e, no momento em que recebeu o filho, o mundo inteiro pareceu parar. Aquele corpinho leve pesava mais do que tudo que já carregou, como se fosse o peso do próprio universo. Ele se lembrou, em um déjà-vu avassalador, de quando segurou Aurora pela primeira vez. O hospital, o choro dela, o sorriso orgulhoso e cansado de Letícia. Agora, a cena se repetia, mas com um sabor novo: Isabella, a mulher que havia devolvido a vida a ele, e Benjamin, o filho que completava o que ele não sabia que estava incompleto.

Benjamin mexeu os dedinhos, abrindo e fechando a mãozinha, e agarrou o dedo do pai como se quisesse dizer “não me solta nunca”. Aquilo foi demais para Lorenzo. O homem forte, que tantas vezes escondeu as lágrimas, se permitiu chorar como um menino.

— Bem-vindo, campeão… — disse, encostando a testa no filho e fechando os olhos. — Você era o pedaço que faltava em mim.

Quando ergueu os olhos para Isabella, viu algo que jamais esqueceria. Ao lado dela, havia uma presença suave, luminosa, quase etérea. Letícia. Estava ali, serena, segurando a mão de Isabella. E sorria. O mesmo sorriso de sempre, terno, cheio de amor e paz, como se dissesse: “Eu estou aqui”.

As lágrimas de Lorenzo caíram livres, sem freio. Não havia dor naquele momento. Só gratidão. O passado e o presente se encontravam em harmonia perfeita.

— Obrigado… — murmurou, olhando para Isabella e para a imagem de Letícia. — Obrigado a vocês duas.

Foi então que a porta se abriu com um estrondo repentino. Aurora entrou correndo, descalça, os cabelos loiros todos despenteados, o rosto iluminado de expectativa. Atrás dela, vinham Beatriz e Giulia rindo e chorando ao mesmo tempo, sem conseguirem controlar a emoção.

— Oi, Benjamin. Eu sou sua irmã. — disse em tom solene, como se fizesse um juramento. — Vou te ensinar a brincar com o Biscoito, a ouvir as histórias da Maria, a cozinhar com a vovó Flora e a cuidar das flores com a vovó Antonella.

Todos riram, e Giulia acrescentou entre gargalhadas:

— E a roubar biscoitos do pote da cozinha!

Até Maria, que acabava de entrar, levou as mãos à cintura fingindo indignação, arrancando ainda mais risadas.

Benjamin resmungou baixinho, e Isabella o trouxe de volta ao peito. O bebê encontrou o seio instintivamente, sugando com força, e o quarto se encheu de um silêncio sagrado. Era como se todos parassem para testemunhar o milagre da vida em sua forma mais pura.

Lorenzo acariciou os cabelos molhados da esposa e a beijou na testa, deixando as lágrimas caírem sobre ela.

— Você foi incrível. — murmurou, a voz carregada de orgulho.

— Nós fomos. — respondeu Isabella, com um sorriso cansado, mas cheio de plenitude. — E ela esteve aqui.

Lorenzo não perguntou quem. Não precisava. Sabia exatamente a quem Isabella se referia. A presença de Letícia ainda pairava no quarto como um perfume doce e suave, como uma bênção e uma despedida ao mesmo tempo, como um lembrete de que, de algum modo, ela sempre estaria ali.

Aurora, exausta pela euforia, adormeceu encostada no ombro do pai. Antonella e Giulia saíram de fininho, segurando a emoção, seguidas por Maria, Beatriz e doutor Stephano, que ainda limpava os olhos discretamente. O quarto voltou ao silêncio.

Lá fora, o dia começava a nascer. O primeiro canto dos pássaros ecoava, e a fazenda despertava devagar. Mas dentro daquele quarto, a vida já havia renascido.

Benjamin dormia tranquilo, com seus cabelos loiros dourados e os olhos verdes da mãe, como se já soubesse que tinha chegado ao lugar certo. Isabella, Lorenzo e Aurora estavam completos. E no ar, quase palpável, permanecia a presença de Letícia, sorrindo, guardando-os e abençoando o recomeço daquela família.

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