A noite já havia descido por completo quando Lorenzo entrou no carro que o aguardava diante da sede da Vellardi & Renzi. A cidade do lado de fora ainda pulsava, faróis, buzinas, passos apressados, mas dentro do carro, tudo era silêncio. E ele gostava assim. Ou, pelo menos, dizia a si mesmo que gostava.
O trajeto até a mansão durou pouco mais de vinte minutos, mas para ele, parecia mais longo. Talvez por estar cansado, talvez porque, em algum lugar dentro daquele silêncio, algo estivesse diferente desde o dia anterior.
Quando os portões de ferro se abriram e o carro deslizou pela entrada sinuosa, iluminada por luzes discretas no chão de pedra, Lorenzo manteve o olhar fixo na fachada da casa. A mansão de colunas brancas e janelas altas era, ao mesmo tempo, um lar e um mausoléu. Guardava dentro de si não só os pertences da filha, mas também os fantasmas do amor que perdeu.
O motorista parou diante da porta principal. Lorenzo desceu, agradeceu com um leve aceno e empurrou a pesada porta dupla com as próprias mãos.
Nada.
Nenhum som. Nenhuma voz. Nenhuma risada infantil ecoando pelos corredores. Aquilo o fez parar por um segundo.
Deixou a pasta sobre a mesa do hall, tirou o relógio do pulso e o guardou no bolso do paletó. Havia algo estranho naquela noite e ele não soube dizer exatamente o que era.
Caminhou até a cozinha, estava tudo impecável, como sempre. As luzes já haviam sido apagadas, e apenas uma lâmpada sob o armário de parede iluminava a bancada. O jantar não estava posto. Marta, a governanta, provavelmente já havia recolhido tudo. O relógio da parede marcava 22h47.
Aurora, com certeza, já deveria estar dormindo.
Lorenzo subiu as escadas lentamente, os passos ecoando no mármore escuro como se cada degrau lhe exigisse mais do que o anterior. Ao chegar ao corredor principal, virou em direção ao próprio quarto. A porta de madeira escura se abriu sem ruído, e ele acendeu a luz suave da arandela sobre a cômoda.
Lentamente, retirou o paletó e o jogou sobre a poltrona ao canto. Em seguida, desabotoou a camisa, revelando o peito largo e o pescoço rígido de tensão. Soltou um suspiro contido, tirou os sapatos e caminhou até o banheiro.
O banho quente caiu sobre o corpo com a força de uma tempestade. Ele apoiou as mãos na parede fria de mármore, fechou os olhos, tentando esvaziar a mente.
Mas a imagem de Isabella com a filha no jardim pela manhã, sempre retornava.
A risada espontânea da filha, a maneira como as duas correram pelo jardim como se nada naquele mundo pudesse machucá-las. Aquilo o perseguia como um som que ecoava mesmo depois de cessar.
Saiu do banho, enxugou-se, vestiu uma camiseta cinza escura e uma calça de moletom leve. Penteou os cabelos molhados com os dedos e calçou sandálias pretas. O relógio agora marcava 23h13. Caminhou pelo corredor até o quarto da filha.
Ela era a babá, uma profissional paga para cuidar, não para ocupar. Não para preencher o lugar que sempre pertencera a sua amada Letícia.
Lorenzo apertou o maxilar. Aquela proximidade… aquela cena… parecia uma invasão. Uma quebra de limite.
— Amanhã… — disse, entre os dentes — Amanhã eu converso com ela. Isso precisa acabar.
Saiu do quarto em silêncio, fechando a porta com cuidado. Mas, por dentro, tudo já estava em guerra.
Ele caminhou de volta ao próprio quarto como um homem que carregava dinamite no peito. Deitou na cama, mas o sono não veio. A imagem de Aurora, aninhada nos braços de Isabella, o assombrava como um eco. E o que mais o irritava… era o fato de que aquilo parecia tão certo.
E ele odiava o que parecia certo demais.
Porque no mundo de Lorenzo Vellardi, o que parece certo… sempre acaba sendo o que mais dói.

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