A mansão estava envolta por um silêncio acolhedor, o tipo de quietude que só existe quando o coração encontra repouso. Do lado de fora, a lua crescente derramava sua luz prateada pelos vastos campos, transformando a grama úmida em um tapete de cristais. O vento soprava suave entre as árvores antigas, trazendo com ele o cheiro fresco da noite, enquanto o canto ritmado dos grilos se misturava ao som distante de água corrente vinda da fonte no jardim.
Dentro da casa, a atmosfera era outra, quente, intimista, quase mágica. As luzes estavam baixas, lançando uma penumbra delicada sobre os móveis de madeira nobre e os quadros antigos que decoravam as paredes. O ar tinha um perfume sutil de lavanda, que vinha dos sachês espalhados pela suíte principal, misturado ao cheiro familiar de algodão fresco dos lençóis. Era o tipo de paz que só se encontra depois de um dia cheio de emoções.
Depois do banho, das risadas e do reencontro que havia preenchido a noite de leveza, Isabella e Aurora passaram um bom tempo no quarto de Benjamin. Lorenzo estava com elas, ajudando a colocar o bebê para dormir. O pequeno, cansado de tantas novidades e tantos braços diferentes que o embalaram durante o dia, agora repousava profundamente no berço, ao lado da cama dos pais, com a respiração leve e ritmada. Seus dedinhos, minúsculos e rosados, estavam fechados em um punho delicado, como se tentassem segurar o próprio sono.
Isabella ficou parada ao lado do berço, com os olhos marejados de emoção. O simples ato de observar o filho respirar era suficiente para aquecer o peito e encher sua alma de uma ternura silenciosa. Ela se aproximou um pouco mais, inclinando-se sobre ele, e tocou de leve o cobertorzinho bege bordado à mão por Dona Flora. Um suspiro escapou de seus lábios antes que ela encostasse o rosto no ombro largo de Lorenzo, que estava ao seu lado.
— Ele parece um anjo… — murmurou, num sussurro quase reverente.
Lorenzo permaneceu em silêncio por um instante, observando o filho como quem contempla um milagre. Seus olhos azuis, intensos e profundos, refletiam a luz suave do abajur e carregavam um brilho diferente, um peso cheio de significado. Sua mão grande se estendeu devagar, tocando com extremo cuidado os fios loirinhos e finos do bebê.
— Ele é, Isabella… — respondeu, com a voz grave e baixa, quase um sopro. — Ele é o nosso anjo… o nosso milagre.
Aurora, de pijaminha lilás estampado com estrelinhas douradas, se aproximou devagar, andando de pontinhas para não fazer barulho. Apoiada na borda do berço, seus olhinhos azuis brilhavam de ternura enquanto ela se inclinava para olhar o irmão.
— Boa noite, Ben… — sussurrou baixinho, levando a boquinha perto do bebê. — Dorme bem, tá? Amanhã eu vou te contar uma história bem bonita…
Lorenzo sorriu diante da doçura da filha, abaixando-se para beijar o topo da sua cabeça.
— Você é a melhor irmã do mundo, principessa.
Aurora ergueu o rostinho e segurou o rosto do pai com as duas mãozinhas pequenas, com aquele ar de importância que só as crianças sabem ter:
— Eu sei, papai.
Isabella soltou uma risadinha baixa, abafada com a ponta dos dedos, enquanto Lorenzo balançava a cabeça, fingindo indignação, mas os olhos brilhavam de orgulho.
O lençol branco impecável estava esticado com perfeição, e o edredom bege aguardava para envolvê-los. Havia algo de especial naquela noite, talvez a presença da família reunida, talvez o cansaço físico misturado com a serenidade do coração.
Lorenzo se sentou na beirada da cama, tirando a camisa com um movimento lento, como quem finalmente permite ao corpo relaxar. Enquanto isso, Isabella ajudava Aurora a subir na cama, ajeitando os travesseiros ao redor.
— Hoje vamos dormir todos juntos — disse Isabella com um sorriso cúmplice, enquanto organizava o espaço para que coubessem os três. — É permitido, senhor Vellardi?
Lorenzo arqueou uma sobrancelha, assumindo uma expressão séria e teatral:
— Hm… vou pensar no caso… — disse, fingindo ponderar por um instante, até que olhou para a filha, que o encarava com expectativa. — Está bem… mas só porque a principessa merece.



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