A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 197

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A mansão inteira repousava em quietude. O relógio no criado-mudo já havia passado das onze e meia quando Isabella, com movimentos cuidadosos, ergueu o corpo um pouco para observar Aurora, que agora dormia profundamente entre eles. O rosto da menina estava sereno, iluminado pela luz prateada que atravessava as cortinas semi abertas. Seus cílios longos repousavam imóveis, e o pequeno peito subia e descia devagar, num compasso quase hipnótico.

Lorenzo, ao lado, mantinha um braço em volta da filha, mas seus olhos estavam fixos em Isabella. Havia algo diferente no olhar dele: um brilho contido, intenso, quase reverente. Como se, naquele instante, tudo o que existia no mundo coubesse dentro daquele quarto. Aurora, Benjamin e a mulher que havia virado o eixo de sua vida.

Com extrema delicadeza, Lorenzo afastou uma mecha do cabelo loiro de Isabella que havia caído sobre o rosto dela. O gesto, suave como um sopro, fez com que a respiração dela se alterasse por um instante.

— Ela está exausta… — murmurou Isabella, olhando para a filha com ternura. — Hoje foi um dia cheio pra ela.

— Todos nós estamos… — respondeu ele, em um tom baixo, rouco, quase íntimo. — Mas você… — fez uma pausa, deslizando os olhos por ela — você parece ainda mais linda quando está cansada.

Isabella mordeu o lábio, contendo um sorriso, e balançou a cabeça de leve.

— Lorenzo… — sussurrou, repreendendo-o suavemente, mas o tom carregava um calor que desmentia qualquer censura.

Ele inclinou o rosto, aproximando-se devagar, até que seus lábios roçaram a lateral do rosto dela, bem próximo ao ouvido. A voz, quando falou, era um fio de veludo:

— Deixa eu te olhar… só mais um pouco.

O coração de Isabella acelerou, traindo o controle que tentava manter. Os dedos dela se moveram sobre o peito dele, sentindo o bater firme do coração sob o tecido da camisa parcialmente aberta do pijama, deixando à mostra um pedaço da pele quente e levemente úmida do banho recente.

Ela desviou o olhar por um segundo, tentando recuperar o fôlego, mas Lorenzo segurou o queixo dela com delicadeza, guiando-o de volta para si. Não havia pressa, não havia necessidade de palavras: o silêncio entre eles falava mais do que qualquer declaração.

Aurora, aninhada entre os dois, mexeu-se de leve, resmungando um soninho abafado. Isabella sorriu e alisou os cabelos da filha com um gesto instintivo, enquanto Lorenzo observava a cena, completamente absorto. Era nesse tipo de detalhe que ele percebia, todos os dias, o quanto a amava, não por causa da beleza óbvia, mas pelo jeito como ela existia. Pela forma como Isabella era um porto seguro para todos, inclusive para ele.

Lorenzo esperou mais alguns minutos, até sentir a respiração da filha se estabilizar de vez. Então, com um cuidado quase cerimonioso, ele se inclinou para colocar um travesseirinho entre eles e, devagar, retirou o braço que a envolvia. Aurora nem se mexeu.

— Vem… — murmurou ele, quase sem voz, estendendo a mão para Isabella. — Só um minuto.

Ela hesitou por um instante, lançando um olhar para a filha, mas Lorenzo já estava levantando, descalço, guiando-a com calma até a varanda da suíte.

O ar fresco da noite os envolveu assim que saíram. A varanda era ampla, com uma vista aberta para os campos iluminados pelo luar. A brisa suave trazia o cheiro de terra úmida e flores silvestres, enquanto o céu, carregado de estrelas, parecia infinito.

Lorenzo encostou na varanda de mármore, com os ombros relaxados, e ficou alguns segundos apenas observando o horizonte. Isabella, ao lado dele, cruzou os braços, abraçando o próprio corpo por causa do vento gelado, e ele percebeu. Sem dizer nada, ele puxou Isabella para seus braços a envolvendo.

— Obrigada… — murmurou Isabella, sorrindo.

Lorenzo virou-se para ela, com os olhos intensos refletindo a luz prateada da lua. Ficaram em silêncio por um tempo que pareceu longo, mas confortável, até que ele quebrou a distância com um tom baixo, quase reverente:

— Sabe… às vezes eu acordo no meio da noite, olho pra você dormindo… e me pergunto se mereço tudo isso.

Isabella piscou, surpresa pela confissão repentina, e aproximou-se mais um pouco.