A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 200

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A mansão despertava devagar, como se respirasse junto com o sol. Do lado de fora, os primeiros raios da manhã atravessavam o céu, tingindo-o com tons de dourado, rosa e âmbar. Uma neblina leve ainda repousava sobre os jardins, cobrindo os campos com uma camada suave de bruma que evaporava lentamente sob o toque quente da nova luz.

Dentro da suíte principal, o ar permanecia serenidade. O perfume de lavanda do difusor no canto se misturava ao frescor do amanhecer, criando um aroma delicado, quase acolhedor. As cortinas de linho esvoaçavam suavemente com a brisa que entrava pela janela aberta, e a luz dourada começava a se espalhar pelo quarto, pintando os móveis com sombras quentes e macias.

Benjamin foi o primeiro a acordar. O pequeno corpo começou a se mexer no berço, ao lado da cama, os bracinhos gordinhos se esticando no ar, os dedinhos fechando e abrindo como se tentassem agarrar um pedacinho de sonho. Um resmungo baixinho escapou de sua boquinha rosada, seguido de um balbucio suave:

— “Baa… da… buu…”

Os olhinhos verdes, ainda inchados de sono, abriram devagar, piscando algumas vezes como quem se ajusta à claridade que invadia o quarto. O bebê girou a cabecinha no travesseirinho bordado à mão e soltou outro som desconexo, quase como se conversasse com o próprio despertar.

Aurora já estava acordada há alguns minutos. Sentada sobre a cama, com o pijaminha lilás cheio de estrelinhas, abraçava um travesseiro maior do que ela mesma, os cachinhos dourados estavam bagunçados e caiam sobre os ombros miúdos. Ao ouvir o irmão, o rosto dela imediatamente se iluminou com um sorriso enorme, daqueles que nascem do fundo da alma.

Ela colocou o travesseiro de lado e se inclinou na beirada da cama, apoiando os cotovelos sobre o colchão antes de sussurrar, quase como quem guarda um segredo:

— Ben… meu pequeno príncipe! Bom dia!

Com passos leves, Aurora desceu da cama. Os pezinhos descalços tocaram o chão frio de madeira. O corpo dela, pequeno e gracioso, se movia com cuidado para não fazer barulho. Caminhou até o berço e apoiou as mãozinhas na grade, inclinando-se sobre o irmão. O cabelo caía como uma cortina suave ao redor do rosto, criando um cenário perfeito para o encontro dos dois.

— Olha só pra você, Ben… — murmurou baixinho, esticando um dedinho para tocar a mãozinha dele. — Você acordou antes do papai e da mamãe, hein?

Benjamin arregalou os olhinhos, encarando a irmã com uma atenção quase divertida, como se entendesse tudo. Depois, soltou um som mais longo, que parecia um protesto engraçado:

— “Ahhhh… mmm… da-da!”

Aurora soltou uma risadinha cristalina, tão doce que encheu o quarto de vida. Ela segurou a mãozinha do bebê, levou até o rosto e depositou um beijo cheio de carinho.

— Você está tentando falar comigo, né? — perguntou, com os olhos brilhando. — Eu sei… você quer brincar!

O bebê respondeu chutando as perninhas gordinhas, fazendo o cobertorzinho cair no fundo do berço, e soltou outro balbucio, ainda mais arrastado:

— “Baa-baaa… dooo…”

Lorenzo abriu os olhos devagar, despertando com o som suave das risadinhas da filha. O cabelo loiro, bagunçado, caía sobre a testa, e a luz dourada do amanhecer desenhava sombras suaves sobre os traços marcantes de seu rosto. Ele não se moveu imediatamente. Ficou ali, imóvel, apenas observando em silêncio.

A cena diante dele era simples, quase cotidiana, mas carregava um peso imenso. Aurora, com o pijaminha lilás, conversava com Benjamin, que tentava responder com balbucios desconexos, e o quarto inteiro parecia envolto por um sopro de vida, de pureza e de amor.

Um nó se formou na garganta de Lorenzo, e os olhos marejaram antes mesmo que ele percebesse. Por tantos anos, ele acreditou que nunca teria isso novamente, que a felicidade era um conceito que não já lhe pertencia. No entanto, ali estava ele: com sua família, saudável, inteiro, cercado por tudo o que mais importava.

Ele se sentou devagar, apoiando os cotovelos nos joelhos, e sussurrou para si mesmo, com um sorriso quase imperceptível nos lábios:

— Isso… isso vale mais que o mundo inteiro.

Isabella se mexeu suavemente, virando o rosto para o lado. O perfume do lençol de algodão misturado ao calor do corpo de Lorenzo ainda a envolvia. Aos poucos, os sentidos foram despertando: primeiro o som das risadas de Aurora, depois o balbucio encantado de Benjamin, e por último… o silêncio carregado de emoção ao lado dela.

Abriu os olhos devagar e encontrou o marido sentado, com os ombros largos caídos para frente, e o olhar fixo no berço. O rosto dele carregava algo raro, era uma expressão vulnerável, ao mesmo tempo encantadora.

Isabella ficou ali por alguns segundos, apenas o observando. O coração se aqueceu ao ver aquele homem, tão intenso, tão contido, tão forte, se permitir sentir daquela forma. Sorriu levemente e murmurou, com um tom suave, quase um sussurro cúmplice:

— Você vai acabar chorando, Lorenzo…

Ele desviou o olhar para ela e sorriu de canto, balançando a cabeça devagar. Passou a mão pelos cabelos bagunçados, tentando recuperar a compostura.

— Não é choro… — disse, com a voz rouca, baixa. — É gratidão.

As palavras ficaram suspensas no ar por um instante, antes que Isabella se levantasse da cama com movimentos lentos. A camisola de seda clara caía sobre o corpo com leveza, acompanhando seus passos delicados até o berço.

Aurora, sentada ao lado do berço, fazia cócegas nos pezinhos de Benjamin, que chutava com força, rindo com balbucios entrecortados. Isabella se inclinou e beijou o topo da cabeça dos dois, com o olhar cheio de ternura, e murmurou com a voz embargada:

— Meus dois milagres…

Enquanto ajeitava o cobertorzinho de Benjamin, Aurora ergueu o rosto, com os olhos azuis brilhando de orgulho.

— Mamãe! Ele falou comigo! Ele disse “baaa”!

Isabella riu baixo, passando o dedo de leve pelo nariz da filha:

— Ele está treinando pra conversar com você, princesa. Daqui a pouco vocês dois não vão parar de falar.