O som de uma risada infantil cortou o ar morno da tarde como um sopro de vida esquecido.
Sete Meses…
Foi esse o tempo necessário para que o silêncio sepulcral da mansão Vellardi começasse a ceder espaço a algo que ninguém ousava nomear. Felicidade, esperança, ou simplesmente o eco do que uma vez existiu naquela casa antes da tragédia.
Aurora havia voltado a sorrir. E Isabela era o centro desse novo universo que florescia.
A babá, a jovem de olhos azuis e traços doces, agora caminhava pelo jardim como se o conhecesse desde sempre. A menina a seguia como uma sombra luminosa, rindo, perguntando, confiando. Era um vínculo construído com delicadeza, dia após dia, sem forçar, sem invadir. E talvez por isso, tão verdadeiro.
Naquela tarde, o céu estava limpo, um azul profundo como uma pintura recém-finalizada. O perfume de lavanda flutuava no ar, misturado ao leve zumbido de abelhas e ao som das folhas farfalhando sob a brisa.
Aurora desenhava sobre a mesa de ferro branco. Usava um vestido florido de fundo branco, com pequenas margaridas bordadas, e o laço de fita amarela na cintura deixava-a ainda mais parecida com um anjo de cabelos dourados.
Isabella, estava sentada na grama ao lado, brincava de inventar histórias sobre borboletas que viajavam o mundo levando segredos de uma flor à outra.
Antonella as observava da espreguiçadeira próxima, com um sorriso nos lábios e os olhos levemente marejados. Havia muito tempo que não via a neta tão… viva.
— Ela voltou a sonhar — comentou, com a voz baixa, quase reverente.
Isabella ergueu os olhos, surpresa pela frase, e os encontrou com os da matriarca.
— Aurora?
— Sim. Ela me conta todos os dias. Sonha com castelos de flores, com lugares onde a mamãe dela ainda existe em forma de estrela… — Antonella apertou os dedos entrelaçados no colo. — E, principalmente, sonha com você.
Isabela baixou os olhos, tocada.
— Ela só precisava de alguém que estivesse de verdade com ela. Não só no mesmo espaço… mas no mesmo silêncio.
— Não apenas alguém que a ouvisse, minha querida… alguém que a enxergasse. — Antonella disse com firmeza. — E você vê. Aurora é feita de pequenos silêncios e grandes vazios. Mas você entra neles como se fossem seus.
A jovem hesitou, depois assentiu, com os olhos brilhando.
— Eu fui uma criança como ela, dona Antonella. Silenciosa, cheia de perguntas que não sabia fazer. Perdi minha mãe quando tinha nove anos, meu pai não soube lidar com a perda do seu único e verdadeiro amor e meses depois, tirou a própria vida. — Antonella olhava para Isabella com ternura. — Não tive alguém que estivesse ao meu lado e segurasse minha mão, dizendo que tudo iria ficar bem, tive que lidar com a dor da pior maneira.
— Sinto muito minha querida…
Isabella desviou os olhos para a mais velha e apertou a sua mão com firmeza e disse:
— Quando ela me olha… às vezes, sinto que me reconheço ali.
A senhora se inclinou para frente, mais interessada do que nunca.
— Talvez seja por isso que a conexão de vocês é tão forte. Ela sabe que você a entende.
Antes que Isabella respondesse, Aurora correu até elas com um desenho nas mãos.
— Olha! É a gente no jardim!
Quatro figuras coloridas estavam no papel: uma de vestido florido, outra de cabelo preso, uma que dançava de cabelos loiros e uma terceira, maior, de terno azul.
— Esse sou eu? — Antonella perguntou, apontando.
— Não, vovó! Esse é o papai! — Aurora respondeu sorrindo. — E essa aqui é a Isa!
Isabella riu sem jeito. Antonella segurou a folha com cuidado, como se fosse uma relíquia. Mas o momento foi interrompido pelo som suave da porta de vidro se abrindo.

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