Isabella Fernandes
A porta se fechou atrás de mim com um clique abafado, sutil, quase covarde. Como se até ela tivesse vergonha do que acabara de acontecer. Fiquei parada por longos segundos no centro do quarto, com o peito arfando como se não houvesse ar suficiente no mundo para me fazer respirar de novo.
Meus braços pendiam ao lado do corpo, tensos, como se pesassem toneladas. As mãos ainda tremiam. Os olhos… ardiam. Mas eu me recusei a chorar.
— Não… — sussurrei para mim mesma. — Você não vai chorar por ele. Não por isso.
Mas o nó na garganta parecia um monstro. Vivo e faminto.
Caminhei até a cama, parei, voltei a andar. Pisando no tapete espesso como se ele fosse um campo minado. Cada passo era uma tentativa de expulsar de mim as palavras dele. As malditas palavras dele.
“Você é igual a todas.”
“Quer deitar na cama do patrão.”
“Estava esperando o momento certo para se aproveitar.”
Eu mordi o lábio inferior com tanta força que senti o gosto metálico do sangue. E ainda assim, não foi suficiente para abafar o grito que queria escapar do meu peito.
— Maldito… — murmurei. — Maldito arrogante.
Parecia que ele tinha arrancado a pele do meu peito e cuspido nela. Eu não era uma mulher qualquer. Nunca fui. Eu guardei cada pedaço meu com zelo, como se fosse sagrado. Meu corpo, meu toque, meu amor. Nada em mim foi dado com pressa. Nunca me deitei com alguém. Nunca me despi por prazer passageiro. Nunca tive um amor. E ele… aquele homem despedaçado, que nem sabe mais o que sente… ousou dizer que eu sou como todas?
Eu me joguei sentada na beira da cama e enterrei o rosto entre as mãos. O robe desabou pelos ombros, e eu nem me importei com o frio que subia do chão.
Na minha cabeça, as cenas se repetiam como um filme amaldiçoado: Lorenzo se contorcendo no pesadelo, os sussurros desesperados por Letícia… e depois, o pânico, o impulso, a raiva, o julgamento.
Eu entrei no quarto para ajudá-lo. Ele me empurrou como se eu fosse uma ameaça e depois me destruiu com palavras.
Aos poucos, meu corpo deslizou até o chão. Me ajoelhei, sem perceber. E foi ali, com os joelhos pressionados no carpete, que eu desabei.
As lágrimas vieram como uma tempestade silenciosa, cortando meu rosto com ardência, como se carregassem o gosto de tudo o que eu tinha calado por anos.
— Eu não merecia isso… — sussurrei. — Não depois de tudo. Não depois de tudo que tenho feito por ele… por Aurora…
Minha voz se perdeu no silêncio do quarto, mas o coração gritava. A verdade é que ninguém nunca me preparou para me sentir assim.
Tão vulnerável.
Tão desprotegida.
Tão… injustiçada.
Desde pequena, aprendi a levantar sozinha. A limpar os joelhos ralados sem chorar. A engolir o choro e seguir em frente, porque ninguém vinha me acudir. Ninguém perguntava se eu estava bem. E quando cresci, levei essa armadura comigo. Mas agora ela estava rachada. Pela primeira vez em muito tempo… eu estava despedaçada por dentro.



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