Isabella Fernandes
A mansão dos Vellardi mergulhava em um silêncio quase sobrenatural depois do pôr do sol. Era como se cada pedra, cada pintura antiga nas paredes, cada dobra de cortina pesada guardasse os segredos da noite e que se recusassem a revelá-los.
O ar se tornava mais espesso à medida que as horas avançavam, e o som mais leve parecia ressoar alto demais, como se profanar aquele silêncio fosse um crime. Aquela casa, com seus corredores longos e iluminação suave, lembrava os castelos esquecidos dos contos sombrios… e, naquela noite, eu me sentia uma princesa enjaulada, mas não à espera de um salvador.
Eu esperava algo muito mais perigoso. Esperava por ele.
Eu não conseguia dormir.
Me remexi mais uma vez, tentando encontrar algum conforto entre os lençóis agora embolados ao redor das minhas pernas. O tecido estava quente demais contra minha pele. Minha respiração já estava alterada e, por mais que fechasse os olhos, ele estava lá. Lorenzo. Sempre ele.
A imagem do seu rosto me perseguia com crueldade. A mandíbula tensa, os olhos azuis escuros como noite sem estrelas, a boca entreaberta, uma boca que carregava a promessa de pecados que eu ainda nem conhecia, mas que meu corpo inteiro ansiava descobrir. Eu podia ouvi-lo de novo, como um eco que não me deixava: sua voz carregada de raiva, cortante, afiada como navalha, e ao mesmo tempo, e é isso que me matava, embriagada de um desejo que ele tentava disfarçar.
Mas não era a raiva que me fazia perder o sono. Não era o medo de suas palavras duras ou o peso da sua presença autoritária.
Era o desejo.
Sim. Era o calor silencioso que se alastrava pelo meu corpo como uma chama que ninguém via. Uma fome que se acumulava em cada célula da minha pele, um fogo que nascia em lugares profundos e inconfessáveis. Um desejo que crescia desde o primeiro momento em que o vi no primeiro jantar naquela casa, quando ele entrou com os ombros tensos dentro do terno caro, a gravata ligeiramente desalinhada, como se ele próprio fosse um homem que não sabia ser domado. Tudo nele era controle… e ameaça.
Havia algo primitivo na maneira como ele caminhava, como olhava. Um peso contido em cada gesto, como se segurasse as rédeas de uma fera por dentro, uma fera que talvez só esperasse alguém que a libertasse. E eu… eu desejava ser essa alguém. Mesmo que me custasse tudo.
A lembrança da sua voz dizendo meu nome, mesmo que só uma vez, era suficiente para que um arrepio me percorresse inteira. Deitei de costas, os olhos fixos no teto, o coração latejando.
Levei a mão à barriga, sentindo a pele quente sob meus dedos. Um formigamento doce me atravessou, e o centro do meu corpo pulsou em alerta. Quase pude ouvir de novo a respiração dele… tão próxima da minha, no corredor… aquela noite. Seu peito nu, os músculos tensos, os olhos incandescentes. E o pior: ele não havia me tocado. Não de verdade. Mas meu corpo reagia como se tivesse.
— Para com isso, Isabella… — murmurei, mais para mim mesma do que para o silêncio ao redor. — Ele é o pai da Aurora… seu patrão. Um homem quebrado.
Mas o corpo não entende razões. O coração não respeita convenções. E o desejo… o desejo é um animal sem rédeas.
Foi quando eu senti.
Uma mudança no ar. Um arrepio na nuca. Um silêncio diferente, mais carregado. Meus sentidos se aguçaram como se algo, ou alguém, tivesse cruzado uma fronteira invisível. E então eu soube. Ele estava ali. Do outro lado da porta.
Meu corpo reagiu antes mesmo da minha mente processar. O ar ficou mais denso, mais quente, mais vivo. Meu peito arfava, e eu sentia cada batida como se estivesse sendo ouvida pelo mundo inteiro. “Lorenzo…”



VERIFYCAPTCHA_LABEL
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar