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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 35

Isabella despertou antes mesmo que o som do despertador pudesse preencher o quarto com seu trinado metálico. Seus olhos abriram-se vagarosamente, ainda enevoados por resquícios do sonho que a acompanhou durante toda a madrugada. Um sonho que não era leve, nem fugaz. Era um daqueles que deixava marcas. Que se cravava sob a pele como calor. Seu peito subia e descia com força, como se tivesse acabado de emergir debaixo d’água. As coxas, ainda pressionadas, denunciavam o estado em que acordou: trêmula, quente, molhada. Tão entregue ao desejo que nem mesmo o mundo real parecia suficiente para contê-la.

Ela havia se tocado e gozado sonhando com ele.

Só pensar nisso fez o rubor tomar conta de suas bochechas, como se fosse possível esconder de si mesma a verdade que queimava em cada célula do corpo. A vergonha tentou tomar o lugar do prazer, mas era inútil. O corpo não mente, e o dela havia gritado durante a noite por algo que ela tentava a todo custo negar durante o dia.

Lorenzo.

As palavras que ele dissera em sonho ainda ecoavam, carregadas de luxúria e autoridade:

"Abre pra mim, Isabella… deixa eu te mostrar o que é sentir de verdade…"

Era irônico. Ele nunca disse isso na vida real. Nunca a tocou de fato. E ainda assim, conseguia a dominar por completo, mesmo do outro lado de uma porta. O que ele havia despertado nela não podia mais ser contido.

Tentando apagar o calor que pulsava sob sua pele, Isabella levantou-se com pressa e caminhou até o banheiro. Ligou o chuveiro no mais gelado que suportava, deixando a água cair sobre seu corpo nu como se buscasse exorcizar um desejo que se tornava mais presente a cada dia. Mas o frio não adiantava. A memória de Lorenzo, de seus olhos escuros e intensos, da tensão dos músculos, da voz grave e cortante, continuava ali. Como uma tatuagem invisível, mas eternamente cravada.

Depois do banho, vestiu-se com simplicidade, mas com um certo cuidado que ela não quis admitir nem para o próprio reflexo no espelho. Escolheu um vestido branco, de algodão fino, com mangas rendadas e botões que marcavam o decote com uma leveza sutil. Prendeu os cabelos em um coque frouxo, deixando que alguns fios escapassem ao redor do rosto. Passou um pouco de gloss nos lábios, quase nada, apenas o suficiente para parecer “apresentável”. Mas Isabella sabia que aquilo não era por vaidade.

Era por ele.

Desceu as escadas com passos cuidadosos, sentindo os ecos da noite anterior ainda latejando entre as pernas e no fundo da garganta. Aquela presença que sentiu diante da porta… o cheiro de chuva, o calor denso no ar… ela sabia que tinha sido Lorenzo. Ele esteve ali. E não havia entrado. Isso, por si só, dizia tudo.

A mansão dos Vellardi acordava lentamente, banhada pela luz dourada da manhã que filtrava através dos vitrais altos e coloridos do saguão. Os aromas quentes de pão recém-assado, café moído e frutas cítricas preenchiam os corredores, conferindo àquela manhã um verniz de normalidade que não se sustentava dentro de Isabella.

Ela atravessou o hall com a respiração contida, os olhos varrendo o ambiente com discrição. Mas foi ao se aproximar da mesa do café da manhã que tudo dentro dela parou.

Lorenzo já estava lá.

Impecável como sempre. Usava um terno escuro, perfeitamente ajustado ao corpo largo e elegante. A camisa branca, levemente desabotoada no colarinho, deixava à mostra um pedaço do pescoço másculo e a curva firme da clavícula que ela havia sonhado lamber durante a madrugada. Seu cabelo ainda parecia levemente úmido, como se tivesse acabado de sair do banho. E, por um instante, Isabella teve que lutar contra a vontade de fechar os olhos e imaginar que banho era aquele… e com quem ele havia sonhado.

Mas o olhar dele… aquele olhar… não era casual. Quando seus olhos encontraram os dela, foi como se o chão estremecesse. Havia tensão, reconhecimento, e algo mais. Desejo, talvez? Ou raiva por desejar?

Isabella desviou o olhar rapidamente, tentando controlar o rubor que invadia suas bochechas. Sentou-se ao lado de Aurora, que já a esperava com sorrisos e braços abertos.

— Senta comigo, Isa! — disse a menina, radiante.

— Claro, meu amor — respondeu Isabella, depositando um beijo carinhoso em sua testa.

Mas seu coração ainda batia em descompasso.

Antonella, como sempre elegante em seus tons pastéis, ergueu os olhos para Isabella com uma expressão de leve curiosidade.

— Está tudo bem, minha querida? — perguntou com suavidade, mas com olhos atentos.

— Sim, senhora. Tudo ótimo. — Isabella sorriu, forçando leveza.

Lorenzo permaneceu em silêncio. Suas mãos moviam-se mecanicamente ao servir-se de café, mas o olhar voltava, vez ou outra, a recair sobre Isabella com uma intensidade que queimava mais do que a bebida quente em sua xícara.

E então, como se o universo decidisse despejar gasolina no fogo aceso, Marta surgiu à entrada da sala, sua expressão rígida denunciando algo inesperado.

— Senhor Lorenzo… Dona Antonella… temos uma visita.

Antes que qualquer pergunta fosse feita, o som dos saltos ecoou no mármore com autoridade. Ela entrou como uma tempestade disfarçada de primavera.

Vereda.

Alta, esguia, com os cabelos loiros cuidadosamente ondulados, o vestido colado ao corpo, justo demais para o horário, proposital demais para o ambiente. Seu sorriso era treinado, polido, mas carregava veneno em cada dente branco.

— Buongiorno, famiglia — disse com a voz melosa. — Espero não estar interrompendo nada… importante.

O impacto foi imediato. Vereda sorriu com os lábios, mas seus olhos se tornaram opacos.

— Claro… me desculpe, Isabella. Às vezes sou um pouco impulsiva.

Lorenzo se levantou, o movimento controlado, mas carregado de tensão. Ajeitou o paletó com precisão e falou com rigidez:

— Com licença. Preciso ir. A reunião com os italianos não vai esperar.

— Mas você nem terminou o café… — observou Antonella.

— Já comi o suficiente. — Ele respondeu, e lançou a Isabella um último olhar. Frio, sim. Mas profundo.

Vereda acompanhou a saída dele com olhos semicerrados e a mandíbula tensa.

Algo dentro dela estalou.

“Desde quando Lorenzo defende a babá?”

O pensamento era um espinho que se cravava. Isabella ainda sentia o calor do olhar dele em sua pele. E Vereda… já começava a farejar perigo.

A dúvida começou a nascer. Um incômodo venenoso se espalhou pelo peito. Vereda, a mulher que sempre esteve ali, a amiga leal, e confidente de Letícia… foi silenciada por uma garota que parecia saída de um conto de fadas barato.

E Lorenzo… reagiu por ela.

Vereda mordeu o lábio inferior e disfarçou o incômodo com mais um comentário educado, mas por dentro… estava decidida.

Ela precisava descobrir o que, exatamente, havia entre Lorenzo Vellardi e aquela babá de olhos grandes demais.

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