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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 37

O sol da manhã acariciava suavemente os jardins da mansão Velardi. Os raios dourados dançavam entre as folhas das árvores, iluminando com delicadeza o gramado recém-cortado e as pétalas vibrantes das flores recém-plantadas. O ar carregava o perfume doce da terra úmida, misturado com o leve aroma dos jasmins. Isabella ajoelhava-se na grama, ao lado de Aurora, que usava um vestidinho floral e luvas pequenas de jardinagem.

— Cuidado com essa raiz, meu amor — disse Isabella com doçura. — Você precisa cavar ao lado dela, assim a flor não se machuca.

Aurora assentiu, sua língua levemente para fora dos lábios numa expressão de concentração profunda, cavando com cuidado ao lado de uma muda de lavanda. Isabella observava a garotinha com carinho, mas sua mente… sua mente estava longe. Longe dali. Em outro cômodo. Em outra presença.

Vereda.

O nome surgiu em sua mente como uma sombra indesejada, uma lembrança que ela gostaria de apagar, mas que insistia em permanecer. Ainda podia ouvir o tom debochado da mulher, o olhar de desdém, as palavras carregadas de julgamento.

“Parece uma garotinha sem graça.”

Aquela frase ainda latejava dentro dela. Isabella nunca havia se sentido tão pequena em tão pouco tempo. A mulher entrou na sala como se fosse dona de tudo, do espaço, da atenção e, o que mais a incomodava, de Lorenzo.

Mas então, ele falou.

Com a voz firme, o olhar cortante e o desprezo evidente por aquelas palavras. Ele não permitiu que Vereda a diminuísse. A forma como a defendeu… foi inesperada e poderosa. Isabella sentiu o coração acelerar só de se lembrar de como ele a encarou depois, como se quisesse dizer que ela era importante. Que ela merecia respeito. Que ele a via.

Mas será que via mesmo? Ou era apenas mais uma peça no tabuleiro confuso de sua vida?

Isabella fincou a pequena pá na terra com mais força do que o necessário, tentando espantar os pensamentos que a invadiam. Por que ela estava tão incomodada com Vereda? Por que aquele ciúme repentino quando pensava nela com Lorenzo? Por que aquela sensação de que, talvez, existisse algo entre os dois?

A imagem de Vereda nos braços dele, os lábios colados, as mãos percorrendo corpos com intimidade, a fazia estremecer. Não de prazer, mas de repulsa. De dor. Era irracional, ela sabia. Mas estava lá. E era impossível ignorar.

Ela não podia se apaixonar pelo próprio patrão. Não podia.

Era errado de tantas maneiras que ela nem sabia por onde começar. Havia uma linha invisível que não devia ser cruzada, uma muralha de convenções, de ética, de auto-preservação. Mas o coração… o coração não se importava com fronteiras.

— Isa?

A voz suave de Aurora a arrancou dos pensamentos.

— Tá tudo bem?

Isabella forçou um sorriso, enxugando a testa com as costas da mão. O sol já começava a se tornar mais quente.

— Oh, minha princesa… sim, está tudo bem — respondeu, tentando dar à voz um tom mais leve do que sentia por dentro.

Aurora a observou por um momento com olhos atentos demais para sua pouca idade. Às vezes, Isabella se esquecia de como aquela menina era sensível e perceptiva. Era como se enxergasse além das palavras, além das expressões.

— O que acha de irmos até o zoológico hoje à tarde? — sugeriu a garotinha, de repente, com um brilho animado no olhar.

A proposta arrancou um sorriso genuíno de Isabella.

— Seria maravilhoso — respondeu. — Vai me mostrar todos os seus animais preferidos?

— Todos! Principalmente os pinguins e os macacos. Mas você tem que prometer que vai comer algodão-doce comigo!

Isabella riu, soltando a tensão que se agarrava ao seu peito.

— Prometo. Mas só se você prometer não fazer cócegas no meu pescoço como da última vez.

— Hmmm… não posso prometer isso! — disse Aurora, já soltando uma risadinha travessa.

As duas se levantaram do gramado e caminharam em direção ao canteiro ao lado, mãos sujas de terra, rostos iluminados pela cumplicidade. Era isso. Esse era o motivo pelo qual Isabella ainda não tinha partido. Aurora. Aquela menina tinha se tornado seu sol, seu lar, seu elo mais forte com a própria vida. Era por ela que Isabella acordava todos os dias e tentava ser melhor.

Mas isso também tornava tudo mais difícil.

Como poderia ficar longe de Aurora… se a única maneira de se afastar de Lorenzo fosse indo embora?

Isabella fechou os olhos por um instante. Sentiu a brisa passar entre as flores e os cabelos soltos. Sentiu o cheiro da lavanda. E, contra a própria vontade, sentiu a lembrança de Lorenzo. Os olhos azuis penetrantes. O toque gentil, ainda que contido. O modo como a observava quando achava que ela não percebia.

Talvez o zoológico fosse mesmo uma boa ideia.

Talvez entre os animais e as risadas, conseguisse calar um pouco o desejo que insistia em crescer, silencioso e voraz, dentro dela.

✲ ✲ ✲

Mais tarde naquele dia…

Isabella se trancou no quarto por alguns minutos antes de sair com Aurora. Precisava de um tempo sozinha. Ficou diante do espelho, escovando os cabelos com lentidão. Observava os próprios olhos, buscando uma resposta que não viria.

“Você gosta dele… tipo filme de princesa?”

As palavras da menina não saíam da sua cabeça. Isabella ainda sentia as mãos de Lorenzo em sua memória. Ainda ouvia seu nome sussurrado no corredor. Ainda sentia o cheiro da pele dele.

Ela não podia continuar assim. Mas também… não conseguia parar.

Aurora a chamava do corredor, animada, vestida com um chapéu de palha e uma mochila nas costas.

— Vamos, Isa! Os pinguins estão esperando!

Isabella sorriu, limpou discretamente os olhos e respondeu:

— Vamos, minha princesa. Hoje é dia de aventura!

Enquanto caminhava de mãos dadas com a garotinha em direção ao carro, Isabella prometeu a si mesma: tentaria manter o coração longe. Tentaria se proteger. Tentaria não se apaixonar mais…

Mas no fundo, bem no fundo, ela já sabia:

Era tarde demais.

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