Isabella Fernandes
O céu de Boston estava incrivelmente azul naquela tarde. Um azul tão claro e sereno que fazia a alma parecer mais leve, como se o mundo tivesse sido lavado durante a madrugada e agora acordasse limpo, sorridente. O vento trazia o cheiro fresco das flores recém-regadas, e o jardim da mansão ainda reluzia sob o toque da manhã.
Aurora corria entre os canteiros, os cabelos soltos voando como seda dourada ao vento, o vestidinho rosa dançando ao redor de seus joelhos finos.
— Mais rápido, Isa! Mais rááápido! — gritava ela, com os bracinhos abertos como se fosse voar.
— Calma, princesa! Os flamingos não vão fugir!
Ela deu uma risada tão gostosa, tão alta, que o som parecia capaz de espantar qualquer tristeza. E então tropeçou, como sempre fazia quando ficava animada demais e caiu direto nos meus braços, que já estavam preparados para ampará-la.
— Eu sou rápida demais! — disse com orgulho, aninhando-se no meu colo.
— Você é um foguete disfarçado de menina — respondi rindo, enquanto ajeitava os fios rebeldes atrás de sua orelhinha.
Saímos pouco depois rumo ao zoológico, a pedido dela. Aurora falava há dias sobre ver os pinguins, os flamingos, os leões e os macacos. A empolgação era tanta que preparei o lanche, arrumei a mochila e não pensei duas vezes. Como resistir àquela carinha de expectativa?
— Vamos ver os leões primeiro? Ou os macacos? — perguntei ao entrarmos pelos portões do Boston Zoo, o sol tingindo de dourado os caminhos de pedra.
— Hmmm… quero ver os pinguins!
— Mas eles são os últimos da trilha.
— Então a gente vai começar pelo final! — decretou ela, com a maior naturalidade do mundo.
E foi exatamente o que fizemos.
Aurora parava em frente a cada animal com olhos maravilhados. As girafas “tão altas quanto o céu”, os elefantes “que tinham chuveiros no lugar do nariz”, os flamingos “em pé em uma perna só porque estavam dançando”.
— Olha, olha, aquele macaco parece o papai! — apontou para um chimpanzé mal-humorado com uma banana na mão. Gargalhei alto.
— Aurora! Não diz isso!
— Mas é verdade! Quando o papai acorda, ele faz aquela cara!
Seguimos rindo até uma barraca de pelúcias, onde tudo começou. Aurora puxou minha mão com entusiasmo:
— Isaaa, vem! Quero ver os bichinhos!
Ela se debruçou sobre o balcão examinando cada pelúcia com a concentração de uma curadora de arte. Enquanto isso, um homem se aproximou do outro lado da barraca. Jovem, talvez da minha idade. Bonito, com um sorriso tímido, olhos castanhos e camisa azul dobrada até os cotovelos.
— É sua filha? — perguntou, com gentileza na voz.
— Ah, não. — sorri, ajeitando uma mecha solta. — Sou babá. Mas… é como se fosse.
— Ela é linda. E você tem um sorriso que combina com o dela.
Fiquei sem reação por um segundo. Ele estendeu um pinguim de pelúcia, com um cachecol azul e olhinhos brilhantes costurados com linha preta.
— É pra você. Eu sei que é estranho, mas… bom, seu sorriso chamou minha atenção.
— Ah… obrigada. É muito gentil da sua parte. — aceitei o presente, surpresa, o rosto ardendo.
Aurora observava tudo com os olhos arregalados e murmurou, encantada:
— É um pinguim do amor, Isa.
— Aurora! — sussurrei entre risos, completamente vermelha.
— Você corou! Corou igual pimentão! — ela riu tanto que quase deixou cair a mochila.
O rapaz apenas acenou com um “boa tarde” e se afastou, desaparecendo entre os visitantes. Eu ainda estava tentando recuperar o fôlego do impacto inesperado quando Aurora segurou minha mão com firmeza:

VERIFYCAPTCHA_LABEL
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar