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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 40

Isabella Fernandes

Boston parecia mais imponente quando vista das largas avenidas que levavam até a Holding Vellardi & Renzi. Os prédios altos, espelhados, cortavam o céu em linhas retas, como se quisessem provar alguma coisa ao mundo, como se precisassem reafirmar poder.

Estacionei o carro de forma cautelosa na vaga de visitantes. Antes mesmo de desligar o motor, senti a mão pequena de Aurora tocar meu ombro.

— Isa… — sussurrou ela com o pinguim de pelúcia apertado contra o peito. — Ele vai ficar feliz, né?

Sorri com ternura e toquei sua bochecha com o dorso dos dedos.

— Vai sim, meu amor. Ele ama você.

Ela sorriu saltando do carro com a leveza das crianças que desconhecem o peso das entrelinhas. Correu pelo estacionamento com o pinguim na mão, girando ao redor de si mesma, o vestidinho azul rodando como flor ao vento.

Caminhar ao lado dela pelos corredores envidraçados da holding foi como entrar em outro universo, um mundo onde gravatas eram armaduras, saltos altos, espadas, e os olhares? Tiros silenciosos.

No saguão principal, a recepcionista pareceu levar um susto ao nos ver. Ela se recompôs rápido, levantando-se da cadeira com um sorriso profissional que não disfarçava o genuíno carinho ao olhar para Aurora.

— Senhorita Aurora! — disse num tom animado. — Que prazer revê-la, mocinha! — seus olhos então recaíram sobre mim. — E você deve ser… a nova babá?

— Isabella Fernandes? — respondi, um pouco surpresa. — Muito prazer.

A mulher sorriu mais abertamente, me observando de cima a baixo com um olhar mais longo, sem julgamento, mas com evidente curiosidade.

— Você é muito bonita.

— Obrigada — murmurei, corando levemente. — Viemos de surpresa. Aurora quis mostrar algo para o pai.

A recepcionista assentiu e pegou o telefone, contida, mas com os olhos brilhando.

— Senhor Vellardi… tem uma visita muito especial para o senhor aqui na recepção.

Do outro lado da linha, houve uma pausa.

— Sim, senhor. — ela desligou. — Ele vai recebê-las agora.

Seguimos com Aurora animada segurando minha mão e o pinguim contra o peito, subimos os andares em um elevador espelhado e silencioso. Meu reflexo me encarava com olhos que pareciam tentar adivinhar como agir. No fundo, eu sabia que vir até aqui tinha sido um erro. Mas como negar algo a Aurora?

O corredor do último andar era sofisticado, silencioso, quase solene. As paredes tinham um tom escuro de cinza, o chão era de madeira nobre e os quadros nas paredes pareciam mais caros que meu salário inteiro. Aurora apertava minha mão, impaciente para ver o pai.

Foi então que a porta dupla se abriu e ele apareceu.

Lorenzo Velardi.

O homem era um monumento de si mesmo. Vestia um terno escuro impecável, a gravata frouxa, como quem acabara de sair de uma reunião tensa. O colarinho aberto mostrava a pele bronzeada do pescoço e o queixo firme. O cabelo estava levemente desalinhado, os olhos ocultos por uma expressão impenetrável.

Nenhuma emoção. Apenas surpresa controlada.

Aurora, por outro lado, explodiu como um raio de sol atravessando vidro fosco.

— PAPAAAI!

Ela correu, o som dos sapatinhos ecoando pelo corredor, e se lançou nos braços dele como se aquele lugar frio e elegante desaparecesse ao redor.

Lorenzo ajoelhou-se devagar. Esticou os braços para recebê-la. O abraço aconteceu, sim, mas sem os exageros que alguém mais emocional teria mostrado. Ele a segurou firme, porém contido. Tocou os cabelos da filha com ternura disfarçada em formalidade. Murmurou algo baixo que só ela ouviu. Seus olhos não diziam o que sentia. Nem sua boca.

— O que faz aqui, princesa? — perguntou, com a voz grave, controlada.

— Vim te ver! E mostrar o meu pinguim do amor! — respondeu ela, empolgada, segurando o brinquedo contra o rosto do pai. — Um moço deu pra Isa!

Foi aí que ele me olhou e o tempo… parou.

Lorenzo se ergueu lentamente com Aurora ainda no colo e seus olhos, aqueles olhos que já me tiraram o fôlego antes, encontraram os meus. Mas estavam frios. Impecáveis. Profundos como sempre.

Silêncio.

Apenas o ar-condicionado e o coração batendo forte dentro do meu peito.

Lorenzo, como sempre, não reagiu. Ou reagiu por dentro, onde ninguém via.

— Obrigado pela visita, senhorita Fernandes — disse ele por fim, em um tom educado, polido demais para o contexto. — Foi… gentil da sua parte.

Assenti, sentindo um nó se formar em minha garganta.

Marco pigarreou, disfarçando o desconforto crescente. Sorriu para mim com mais naturalidade.

— A Aurora fez o dia de todos aqui. Não é sempre que ganhamos um pinguim do amor de brinde.

Aurora gargalhou, segurando minha mão.

— Podemos ir, Isa?

— Claro, princesa.

— Tchau, papai!

Lorenzo se abaixou e beijou sua testa.

— Até logo, minha menina.

E foi isso.

Sem mais palavras. Sem mais olhares. Só o silêncio de tudo aquilo que ficou por dizer.

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