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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 46

O aroma do café era o mesmo de todas as manhãs. Forte, encorpado, com aquele amargor refinado que ele apreciava em silêncio. A mesa da varanda estava impecável, como sempre, os pratos alinhados, as frutas cortadas em perfeitas proporções, a toalha de linho clara dançando com a brisa leve que atravessava o jardim.

Mas Lorenzo mal notava. Nada daquilo importava, porque ela estava ali.

Isabella.

Sentada à mesa, do outro lado, com um ar inquieto que ela tentava disfarçar, sem sucesso. Seus ombros estavam rígidos, os dedos, trêmulos, se entrelaçavam sobre o colo e depois se desfaziam. Os olhos fingiam interesse no prato à frente, mas não viam nada. E o rubor em suas bochechas… não era de timidez. Era culpa, desejo, lembrança.

E Lorenzo sabia exatamente do que ela se lembrava.

Desde o instante em que Marta, distraída, comentou com um aceno de cabeça:

— Foi a Isabella quem levou o café esta manhã…

O mundo dele girou alguns graus para a esquerda. Ele apenas havia confirmado o que ja sabia.

O vapor ainda estava no banheiro. A água escorrendo pelas costas. O punho apertando com força. O nome dela escapando de seus lábios em um gemido.

— Isabella…

Ele tinha se masturbado pensando nela, e isso o envergonha ao mesmo tempo que o enlouquecia.

E agora, ela estava ali, à mesa, com o corpo denunciando cada segundo que havia passado diante da porta entreaberta.

Será que ela tinha visto? Escutado? Sentido?

A possibilidade o incendiava. Se ela estava ali, naquele exato momento, tão inquieta, tão vermelha, tão subitamente muda, é porque sabia.

Porque esteve lá. Porque viu o que não deveria ver. Porque… gostou. E Lorenzo, maldito que era, gostava ainda mais de saber disso.

Os olhos dela evitavam os dele com disciplina, mas o corpo a traía em cada gesto pequeno. As coxas apertadas uma contra a outra. Os lábios mordidos. O pescoço exposto, como se pedisse por toque, por castigo. Era como ver o desejo se contorcer na forma mais pura, crua, vulnerável, assustadora.

O silêncio que surgia era sepulcral, até que a porta se abriu com um rangido leve.

— Bom dia… — disse uma voz pequenina, doce e sonolenta.

Lorenzo ergueu os olhos e a visão da sua filha o desarmou imediatamente.

Os cabelos loiros ainda um pouco embaraçados, os olhos pesados de sono e suas duas bonecas, Cacau e Lila, estavam em seus braços. Usava um vestido branco de algodão, com bordados delicados, meias até os joelhos e passos desajeitados de quem ainda não despertou por inteiro.

Ela caminhou na direção da mesa. Isabella levantou-se parcialmente e estendeu os braços num gesto de acolhimento.

— Bom dia, meu amor — disse, e o sorriso que ela deu à menina era de puro alívio. Um sopro de realidade no meio do furacão.

Aurora correu até Isabella e se enroscou nela, aninhando-se contra o seu corpo. Lorenzo observou a forma como a mão da babá subia pelos cabelos da menina com ternura, os dedos afagando os fios como se fossem delicados demais para o mundo.

— Dormiu bem? — perguntou ela, com uma doçura que Lorenzo jamais ouvira naquela voz.

— Sonhei que eu e o Cacau estávamos voando — disse Aurora, esfregando os olhos. — Peguei uma estrela e guardei no bolso.

Isabella sorriu, encantada.

— E o que vai fazer com essa estrela?

— Vou dar pra você.

Aquelas palavras atingiram Lorenzo como um tiro no centro do peito.

Aurora falando e expressando sentimentos com a naturalidade que ele achava impossível.

Capítulo 46- Ela Está Em Toda Parte 1

Capítulo 46- Ela Está Em Toda Parte 2

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