Alguns dias haviam passado e a mansão Velardi estava envolta por um silêncio acolhedor, quebrado apenas pelas gargalhadas infantis que vinham do andar superior. O som preencheu o coração de Lorenzo como um raio de sol atravessando as nuvens pesadas que ainda pairavam sobre seu peito após o incidente com Vereda e a possibilidade de Isabella ter visto ele num momento intimo.
Lentamente, afrouxou o nó da gravata ainda no corredor, enquanto os risos inocentes da filha o guiavam como uma trilha de luz. Ao passar pela sala, deixou o sobretudo pendurado na cadeira, o paletó cuidadosamente dobrado sobre o braço do sofá. Subiu os degraus em silêncio, os passos firmes abafados pelo carpete aveludado. À medida que se aproximava do quarto de Aurora, o som da brincadeira tornava-se mais nítido, vozes suaves, risadinhas abafadas, e a inconfundível doçura de Isabella tentando parecer séria.
— Eu vou encontrar você, não adianta se esconder! — a voz dela soava divertida, entre o riso e a expectativa.
Lorenzo parou diante da porta entreaberta. O que viu fez seu peito se aquecer de um jeito que há muito não sentia.
Aurora, com as bochechas coradas e os cabelos emoldurando o rosto angelical, estava agachada atrás da mesinha de desenho e os olhinhos brilhavam de excitação. Com um gesto delicado, ela levou o dedinho à boca, pedindo silêncio ao pai ao vê-lo. O gesto arrancou um sorriso largo de Lorenzo, que ergueu as sobrancelhas, cúmplice da brincadeira.
Isabella, com os olhos vendados por uma fita cor-de-rosa, andava pelo quarto com os braços estendidos, tateando o ar como quem brinca de pega-pega às cegas. Seus passos eram suaves, os pés descalços tocavam o chão com leveza. Usava uma blusa de algodão leve, um short florido que deixava as pernas à mostra, e os cabelos estavam soltos, balançando levemente enquanto ela se movia. Estava deslumbrante, mesmo naquela simplicidade.
Lorenzo não conseguia tirar os olhos dela. A imagem era tão terna, tão viva, tão cheia de algo que ele não conseguia nomear. Uma coisa era certa: ela preenchia a casa com algo que ele jamais admitiria em voz alta, mas que não conseguia mais ignorar.
Isabella deu mais dois passos em direção à cama, mas não viu o pequeno brinquedo de pelúcia no caminho. O pé bateu no objeto, e o desequilíbrio foi inevitável. Ela soltou um grito de surpresa, os braços agitaram-se no ar, mas antes que pudesse cair, foi envolvida por braços firmes e fortes. O perfume dele a atingiu primeiro, depois o calor do corpo, e a respiração ofegante que bateu contra sua bochecha.
Isabella ofegou ao sentir o contato repentino. Suas mãos agarraram os ombros largos dele com força instintiva.
E Lorenzo? Lorenzo fechou os olhos por um segundo, como se precisasse daquele toque para continuar respirando.
— D-desculpe, senhor Velardi, eu… eu… — gaguejou, puxando rapidamente a venda dos olhos, e se deparando com ele tão perto, tão real.
Ele ainda a segurava pela cintura, os dedos afundados na lateral da blusa, era como se o toque fosse a única coisa que o ancorava no presente.
— Tudo bem — murmurou com a voz baixa e rouca.
Por um instante, tudo parou. Os olhos de Isabella se prenderam aos dele, e o tempo perdeu o ritmo. A eletricidade entre eles era perceptível, como se o universo inteiro segurasse o fôlego. Havia algo nos olhos de Lorenzo… algo que se escondia por trás da habitual frieza. Algo que pedia abrigo. Que queria ficar.
Foi quando ouviu uma risada infantil.
— Nossa, tia Isa! — Aurora exclamou, encantada, saindo de seu esconderijo com os olhinhos azuis arregalados. — Parece aquelas cenas dos livros de princesa!
Lorenzo e Isabella se afastaram rapidamente, como se acordassem de um sonho proibido. Isabella corou, levando uma mecha de cabelo para trás da orelha, claramente desconcertada. Mas o sorriso de Aurora era tão sincero, tão cheio de encantamento, que não havia espaço para constrangimento.
— Eu… eu só estava brincando com ela, papai! — disse Aurora, correndo até os braços do pai.
Ele se abaixou para pegá-la no colo, apertando-a com carinho. O cheiro da filha, o calor do corpo dela contra o seu… tudo isso o trazia de volta à realidade. Mas não podia, não queria, ignorar o que sentira segundos antes.
— Eu vi — respondeu Lorenzo, beijando o topo da cabeça da filha. — E achei a princesa muito corajosa em se esconder atrás de um castelo de lápis de cor.
Aurora riu alto.
— Tia Isa é a melhor princesa caçadora de todas!
Isabella sorriu, ajoelhando-se no chão e fingindo estar cansada da caçada.


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