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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 49

Já haviam se passado quatro dias desde aquela tarde no quarto de Aurora. Quatro dias desde que Isabella sentiu os braços de Lorenzo ao redor do seu corpo, o calor daquele toque que parecia querer guardá-la de todos os ventos do mundo. Quatro dias desde que, por um instante raro e inexplicável, os olhos dele se encontraram com os seus sem barreiras, sem aquela couraça feita de arrogância e distância, e refletiram uma intensidade crua e feroz, como se ele enxergasse cada centímetro da sua alma e não tivesse medo de mergulhar nela.

E ainda assim… desde então, ele a ignorava por completo.

Como se nada tivesse acontecido. Como se aquele momento entre eles não tivesse sido real. Como se ela tivesse sonhado tudo.

Lorenzo andava pela casa como uma sombra. Passava por Isabella nos corredores como se ela fosse feita de vento, invisível, sem peso, sem voz. Não havia mais olhares furtivos, nem perguntas sobre Aurora, nem os silêncios cheios de significado. Havia apenas a ausência. Fria, constante, sufocante.

Quando cruzavam por acaso, o que se tornava cada vez mais raro, já que ele parecia fazer questão de evitá-la, o máximo que recebia era um aceno breve com a cabeça, seco, mecânico, como se cumprisse uma formalidade qualquer. E, mesmo assim, havia dias em que nem isso acontecia.

Isabella se esforçava para manter o sorriso por Aurora. Mas, por dentro, era como se cada pequena indiferença de Lorenzo arrancasse um pedaço do seu coração e deixasse o lugar vazio, dolorido, latejante. Ela tentava fingir que não sentia. Tentava convencer a si mesma de que aquilo não importava. Mas era impossível enganar o próprio corpo: o peito doía, o estômago embrulhava, e às vezes as mãos tremiam enquanto ela fazia tarefas simples, como preparar o café da manhã.

Ela sabia que não podia se apaixonar por ele.

Sabia disso desde o primeiro dia, desde a primeira vez em que viu aqueles olhos escuros e impassíveis, a postura arrogante, o silêncio cheio de segredos. Lorenzo não era um homem feito para amar, não era o tipo de pessoa que oferecia espaço ou segurança para sentimentos frágeis como afeto, carinho ou paixão.

Mas como lutar contra um sentimento que crescia a cada gesto contido? A cada suspiro mal disfarçado? A cada lembrança de quando ele a olhou como se fosse a única mulher do mundo?

Isabella sabia que ele sentia. Ela sabia. Aquela manhã, quando o flagrou se tocando no banheiro… ele estava pensando nela. O seu nome escapou dos lábios dele com desejo, com necessidade. E quando a abraçou no quarto de Aurora, havia ternura, havia calor, havia verdade.

Mas então… por que ele fugia?

Por que a rejeitava com tanto esforço, com tanta frieza, como se estivesse tentando apagar qualquer traço dela da própria vida?

Naquela manhã, enquanto preparava o leite com mel de Aurora, as mãos de Isabella tremiam. Não por nervosismo, mas por cansaço. Um cansaço profundo, que pesava nos ombros como se ela carregasse um fardo invisível. O cansaço de se sentir sozinha mesmo cercada por paredes familiares. O cansaço de tentar entender onde, exatamente, ela tinha errado.

— Isa? — a voz doce e sonolenta da menina interrompeu seus pensamentos.

Aurora entrou na cozinha com o pijama azul todo amarrotado, os cabelos emaranhados como se tivesse rolado pela cama a noite toda, e os olhinhos pequenos piscando devagar.

— O papai já saiu?

Isabella forçou um sorriso, segurando a xícara com as duas mãos para não deixá-la cair.

— Já, meu amor. Bem cedo.

E era verdade. Lorenzo vinha saindo cada vez mais cedo. Muitas vezes antes mesmo do sol nascer, antes que Aurora pudesse ouvir seus passos no corredor. Voltava tarde, também. Sempre tarde demais. Sempre depois que a filha já havia dormido. Isabella sabia que aquilo era proposital. Lorenzo estava evitando até mesmo a própria filha, se isso significasse evitar também a ela.

Antes… antes era diferente. Havia curiosidade no olhar dele. Havia faíscas invisíveis entre um silêncio e outro. Ele a provocava com perguntas sutis, com aquele jeito contido, mas presente. Agora, havia apenas vazio e silêncio. Um silêncio que gritava.

Na hora do almoço, sentada no jardim com Aurora, Isabella sentiu os olhos arderem. A primavera havia chegado, e as flores que ela e a menina tinham plantado juntas começavam a abrir os primeiros botões. O perfume era doce, leve, e deveria trazer paz. Mas nem o frescor das cores novas era capaz de aliviar o nó que se formava em sua garganta.

— Isa… — Aurora murmurou, mastigando devagar um pedaço de pão. — Você está triste?

Isabella se sobressaltou. Arregalou os olhos e respirou fundo, engolindo a dor como quem engole cacos de vidro.

— Imagina, princesa… só estou cansada — disse, sorrindo com esforço.

Capítulo 49 -  Silêncios que Ferem 1

Capítulo 49 -  Silêncios que Ferem 2

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