A madrugada parecia viva.
O silêncio não era mais um alívio, era um inimigo.
Lorenzo atravessava o corredor escuro da mansão como um fantasma, com os passos firmes, a mandíbula cerrada e o olhar colérico. O toque da maçaneta de ferro era gélido, mas sua pele queimava como se estivesse sob febre. Abriu a porta da frente com força, sem se importar com o som. Precisava sair dali, precisava sair de perto dela.
— Maldita seja… — murmurou entre os dentes ao atravessar o jardim, o vento cortando os cabelos molhados pela água do banho que ele tomará na esperança inútil de apagar o cheiro dela da pele.
Isabella.
Ele a havia evitado durante dias. Passara por ela no corredor sem um olhar. Ignorara os bons-dias, os sorrisos, o brilho no olhar que ela tentava esconder. Agira como um estranho na própria casa, trancado em sua biblioteca, em reuniões, fingindo ter mais trabalho do que de fato tinha.
Mas ela continuava ali.
Silenciosa. Presente. Real.
E isso o destruía.
A maneira como ela havia enfrentado seu desprezo com dignidade… como lidava com Aurora com aquele amor sereno, como dormia ao lado da filha sem saber que o pai da menina ouvia tudo, parado atrás da porta como um covarde.
Aquela garota era o inferno de Lorenzo. E ele não podia mais fingir que não estava queimando.
Entrou no carro com violência, girando a chave na ignição. O motor rugiu, e ele acelerou como se pudesse deixar para trás o caos que o consumia. Os dedos estavam trêmulos no volante. As imagens dela invadiam tudo, o sorriso contido, os olhos arregalados quando ele a tocara naquela manhã maldita, o calor da cintura sob as mãos dele… e o perfume.
Sempre aquele perfume.
— Eu sou um desgraçado — sussurrou, batendo o punho contra o volante. — Ela é a babá da minha filha… é só uma garota!
Mas nenhuma frase, nenhum argumento racional era forte o bastante para conter o desejo que lhe tomava o corpo, e pior: a mente.
Ele precisava de um alívio. Um refúgio. Um corpo que não fosse o dela.
Precisava de Valentina.
✦ ✦ ✦
O prédio era discreto, em uma das avenidas mais movimentadas de Boston, mas naquele horário tudo estava silencioso. Lorenzo subiu, sem paciência. Tocou a campainha e ouviu a voz da mulher do outro lado da porta.
— Lorenzo?
— Abre.
A porta destravou com um clique. Ele entrou com o rosto endurecido, como um animal encurralado buscando saída.
Valentina o esperava com uma taça de vinho nas mãos e uma camisola de seda preta colada ao corpo.
— Uau… — ela sorriu, sedutora, apoiando-se no batente da porta. — A que devo a honra?
Lorenzo não respondeu.
Apenas atirou o casaco sobre o sofá e caminhou até ela como quem já sabia o que queria. Os olhos estavam escuros, o peito arfando.
Ela conhecia aquele olhar. Era desejo. Bruto, primitivo, sem afeto.
— Está com raiva de alguém ou de si mesmo? — provocou, pousando a taça sobre a mesa.
— Cala a boca — ele murmurou, empurrando-a contra a parede e capturando sua boca com violência.
Ela correspondeu com gosto. Sabia como ele funcionava. Como às vezes chegava assim: consumido de fúria, com a alma em chamas, querendo sexo sem perguntas, sem amor. Ele queria esquecer e Valentina era especialista nisso.
Ela ficou parada, encostada na porta, com o olhar fixo nele, e ele percebeu. Virou-se devagar, encarando-a.
— Lorenzo… — murmurou. — O que foi que aconteceu?
Ele ficou em silêncio por um instante. Depois passou a mão pelos cabelos úmidos e apoiou-se na pia. Finalmente respondendo:
— Não há nada.
Ela arqueou as sobrancelhas e deu um passo à frente, sem desviar o olhar. Tocou seu rosto com delicadeza e perguntou com firmeza:
— Olha para mim… — pediu, com gentileza.
— Inferno… — rosnou Lorenzo, se afastando de Valentina e caminhando até o quarto.
Valentina parou, confusa.
— Lorenzo?
Ele se afastou. Sentou-se na beira da cama, passando as mãos no rosto. Estava suando, o coração acelerado como se tivesse corrido uma maratona. Mas não era de prazer. Era angústia.
— Isso foi um erro — murmurou, sem olhar para ela.
— Você veio até aqui. — Valentina se sentou, cobrindo-se com o lençol. — E eu não sou cega, Lorenzo. Posso ser muitas coisas, mas estúpida não.
Ele permaneceu calado.
Ela sorriu com desdém.
— Está apaixonado, não está?

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